Em
1846 o francês Pierre Joseph
Proudhon, escreveu um tratado, em dois volumes, com o nome “A filosofia
da miséria”. Buscava fazer uma dura crítica a sistema econômico da época. O
livro ganhou bastante destaque entre os operários franceses, que passaram a
usá-lo no intuito de entenderem a exploração do capital, sem, contudo, estudar
o valor. Por isso, Marx foi rápido em contestar aquelas posições equivocadas e publicou,
em menos de um ano depois, o livro “Miséria da Filosofia”.
Marx, incomodado com a
superficialidade da teoria econômica de Proudhon e as confusões feitas com o
conceito do valor, por estar na Alemanha, lugar, contrário à Inglaterra que “transformava
homens em chapéus”, mas em sua terra, “os chapéus se transformavam em ideias”, na
segunda parte do seu texto, trata sobre “A metafísica da economia política”, no
procurou desvendar o método utilizado por Proudhon.
Sem entrar em detalhes das
sete observações de Marx, importa-nos entender que, a metafísica (o que está
além ou fora da física), portanto, além da materialidade, na qual o princípio
fundamental do desenvolvimento é a sucessão das ideias também na economia, as
categorias de análise de Proudhon eram teóricas e não consideravam que as
relações sociais estavam também ligadas às forças produtivas. Por isso,
percebia o francês, que as relações econômicas eram criadas pela pura e simples
evolução econômica, sem se dar conta de todas as demais relações.
O que nos interessa são
dentre os desvios expressos é o que lemos na quarta observação, na qual Proudhon
discorre afirmando que qualquer categoria tem duas faces, uma boa e a outra má;
do mesmo modo que o pequeno burguês, disse Marx, encarava “os grandes homens da
história”, como Napoleão que fazia coisas muito boas e também coisas más. “O
lado bom e o lado mau, a vantagem e o inconveniente tomados em conjunto, formam
para o Sr. Proudhon a contradição m cada categoria econômica”.
Isso basta para inspirar-nos
a fazermos o trocadilho atual entre a “política da miséria” e a “miséria da
política”, isto porque, andamos, rastejamos e voltamos a andar, preparando o futuro
rastejamento, tendo sempre em nossa frente a agenda programada pelas forças da
direita.
Os noticiários dão o
tom do bom e do mau no governo e, os governantes, incluindo todos os ministros,
se orientam pelas opiniões midiáticas e pelas avaliações das pesquisas que também
se baseia, se o governo é bom, ruim ou péssimo. Desse modo, os tais representantes
do povo, ao ouvirem um comentário específico, mudam de comportamento e seguem
nesse ziguezague, orientados com a leveza da concepção metafísica, obedecendo
as ideias que estão além da própria política.
Dizem noticiários da
Rede Globo, a qual, por algum tempo era vista como artífice dos golpes de
Estado no Brasil, mas, por ter mudado alguns posicionamentos, em razão da contribuição
dada à implantação do neonazismo, parece agora aliada, quando diz, ter o
presidente Lula, “acertado” na mudança do teto para arranjar fundos para bancar
o programa “bolsa família”, mas, ter se equivocado em se posicionar sobre a
guerra na Ucrânia, ao dizer que “os dois lados são culpados”. Depois, a posição
imperdoável sobre as invasões de terra contra o agronegócio e a inclusão de um
membro dos Sem Terra ter composto a caravana da viagem à China com uma centena
de fazendeiros do agronegócio, agiu mal, em troca, o governo por meio dos
ministros evitou fazer qualquer esforço para barrar a CPI contra do MST.
Há dezenas fatos que poderíamos
estabelecer a comparação do bom e do mau, levando à mudanças de posicionamento
do governo que aceita o enfraquecimento dos ministérios do Meio Ambiente e dos
Povos Indígenas e, de algum modo, aceita a aprovação, pela concepção legalista
constitucional, do projeto de Lei (490/2007) que impede a demarcação dos
territórios indígenas, reivindicados a partir de 1988. Em troca pedem para observar
o lado bom da intervenção contra o garimpo ilegal e a proteção dos povos
Yanomamis.
A
gravidade dessas posições, além de manter todas as forças aliadas reféns de um
projeto chinfrim, maquiado de esquerda, é que, as mesmas forças conseguem fazer
o movimento ruim misturar-se na “política da miséria” e na “miséria política”,
isto porque, ao mesmo tempo alimenta os pobres com dinheiro público e garante
ao grande capital agrário, aos banqueiros e especuladores o direito a ficarem
mais ricos.
A
extrema-direita joga com as cartas marcadas. Não tendo mais o cargo máximo do poder
executivo, chantageia com a velha tática de não votar a favor dos projetos do governo,
colocando preço nos votos a serem pagos com as emendas parlamentares que, no
governo passado o mesmo fundo denominava-se de “orçamento secreto”. Por outro
lado, tendo a maioria no Congresso Nacional, atua com pressões pontuais,
criando CPIs para encurralar o governo, no intuito de ganhar tempo, desgastando
o mandato atual, para retornar com o projeto ainda mais vingador contra o país.
A
política da miséria e vice-versa, ambas postas como marcas centrais do atual
governo, parece convencida de que o mal maior foi afastado, mas não foi. O
banditismo político continua ativo e alimentado pelo fraco combate das forças
contrárias escondidas atrás do poder judiciário, como se um punhado de
ministros sustentassem as paredes da ordem democrática, tão reivindicada, sem nenhuma
pergunta que instigue a pensar, mas, a favor de quem?
Somos
parte de um processo, por isso precisamos saber qual é a nossa função dentro da
totalidade dele. Para os Movimentos populares, dizer que “este governo é nosso”,
como muito se ouve, é o mesmo que dizer, “a morte está próxima”. Não há salvação
democrática, nem dos direitos constitucionais, ficando eternamente presos à
mesma posição da defesa do Estado Democrático de Direito e da democracia
representativa.
As forças do capital
sabem que o bem e o mal, nessa “política da miséria” tem a mesma importância e,
isso nada representa para quem controla as diferentes formas de riqueza e o
Estado. Uma lei incômoda, mudam em poucas horas e, um governo inepto em poucos
dias.
Por fim, se não aproveitarmos
para avançarmos com a luz do dia, quando a noite cair será mais difícil, porque,
nas trevas os inimigos são mais astutos e agem sem tolerância alguma.
Ademar
Bogo
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