Karl Marx quando se pôs a pensar a
relação entre o concreto e o abstrato, buscou considerar no método da produção
do conhecimento, a relação entre as ideias e as ações. Para ele, “o concreto é
concreto porque é a síntese de muitas determinações”. O concreto aparece, portanto,
no pensamento, como síntese ou como resultado. É o abstrato ou a abstração que
se encarrega de manejar a busca do vir a ser daquilo que ainda não é explicitamente
e, por isso, ainda se debate em nossa mente em meio às amarras das
contradições. De outro modo, o filósofo Baruch Spinoza, ao tratar sobre o
“adequado” e o “inadequado”, destacou que a nossa mente, algumas vezes age,
outras vezes padece.
Nesse sentido, ao reunirmos os dois
pensamentos, vemos que o concreto em geral ainda não é concreto em particular,
porque a mente humana não concluiu o processo das múltiplas determinações, mas,
assim que a em nossa mente se formarem humana as ideias adequadas agiremos com
maior eficiência, no entanto, se as ideias forem inadequadas, padeceremos. A
lição que podemos tirar até aqui, é a de que precisamos adequar as ideias para
que elas possam, pelas múltiplas determinações, arrumarem concretamente aquilo
que está desarrumado no abstrato.
As ideias inadequadas também podem
ser consideradas como “ideias confusas”. Elas atrapalham o bom andamento do
raciocínio e, não apenas sofrem porque não conseguem irem além do que já são
como também fazem sofrer aqueles que pensam inadequadamente.
Para darmos um passo à frente em
nossa hermenêutica filosófica, tomemos como referência a ideia de “poder”. Como
o concreto por meio de múltiplas determinações abstratas vem a ser concreto? Ou
seja, a concretude do poder, após múltiplas abstrações vem a ser poder de fato
com ideias adequadas?
Como nada ocorre fora de um
processo, causas e efeitos se intercedem reiniciando permanentemente as novas
superações, temos que considerar, para chegarmos a uma síntese concreta do
poder que queremos ter. Quanto a isso, há um novo elemento a ser incluído que é
o da “posição” em que cada força se coloca.
Em política sempre e em qualquer
circunstância, deve-se levar em consideração a existência das forças que, aqui
resumimos em três possibilidades: na primeira, cada força pode colocar-se na
ponta extrema da linha de cada pólo, conformando assim, a relação antagônica; na
segunda, ambas se colocam no meio da linha que leva a cada um dos pólos e conformam
as posições que costumeiramente denominados de situação e oposição; e, na
terceira, podemos ver uma força situada na ponta extrema da linha de um dos
pólos, enquanto a outra força opta por vir a colocar-se próxima ao centro. Em
que posição, em sua avaliação, estão colocadas as forças políticas hoje no
Brasil? Para responder esta pergunta precisamos incluir outros dois conceitos:
o de “obrigação” e o de “destino”.
Quando tomamos a referência de poder,
consideramos as relações econômicas e políticas e, facilmente percebemos que
são relações da obra burguesa que, pela produção e mercantilização superou a
economia feudal e, pela formação do Estado capitalista, suplantou a ordem
política e jurídica da mesma estrutura arcaica. Diante disso, é da “obrigação”
da burguesia até hoje, reunir todas as forças dominantes para pensarem e se
dedicarem às relações que lhes garanta o poder, caso não o façam, não apenas o
modo de produção que implementaram desaparecerá como desaparecerão também dos os burgueses.
Do outro lado “as forças de
esquerda” geralmente colocam o poder como algo “estrategicamente distante”,
algo como uma das possibilidades do destino histórico, contando que isso nem será
certo nem incerto; não há previsão de tempo. Sendo assim, o concreto, por falta
das múltiplas determinações das ideias, que, por sinal, quase sempre são
inadequadas, nunca vem a ter a sua síntese, prolongando sempre mais o
sofrimento.
Se voltarmos as nossas atenções para
o espectro partidário, vemos que na origem, o conceito de “partido” diz
respeito à constituição de uma parte da sociedade que se coloca a favor do todo,
enquanto que a “facção” também tem a forma de parte, no entanto, esta luta a
favor de si mesma e contra as soluções para todos.
No Brasil, sem dispensar as
honráveis exceções, grosso modo, temos dois partidos que chegaram ao governo e
passarão para a História como referências antagônicas: o Partido dos
Trabalhadores (PT) e o Partido Social Liberal (PSL). O primeiro, pela sua
capacidade educativa e pela capacidade de reunir em torno de si, por um período
razoável, a grande maioria das forças populares, sindicais, religiosas e
políticas; e, o segundo, pela incapacidade de não ser um “partido”, no sentido
de não ter unidade, representatividade orgânica e idoneidade moral, constituindo-se
como uma facção que luta contra o todo da sociedade e contra o próprio país.
Mas, qual é no fundo a principal inadequação? É que o PT não existe mais como
perspectiva revolucionária, mas o PSL está atuante e ativo como um vulcão prestes à uma irrupção desastrosa, contra si
e contra todos
É no degrau de cima da escada que
estão os maiores riscos e que as ideias inadequadas das análises pioram o
sofrimento, porque não conseguem entendê-lo nem evitá-lo. Achar que as denuncias
explodirão a facção e com ela explodida provocará o impedimento do presidente
da República, parece ser uma inadequação da visão daqueles que se colocam, não
no pólo extremo para enfrentar as classes dominantes pela busca do poder de
forma mais afirmativa, mas daqueles que apenas torcem para que as forças
extremadas percam importância e que elas também venham mais próximo do centro
para juntas realizarem as disputas eleitorais.
Há um elemento continuamente
desconsiderado pelas ideias inadequada, o de que o presidente da República
“atua” ou pertencia a dois partidos, o PSL pelo qual se elegeu e as Forças
Armadas, que muitos achavam que o colocariam “nos eixos” e nada disso
aconteceu.
Se a dialética ainda for considerada
nas análises reais e se para cada ação temos uma reação, a realidade nos mostra
que estamos mais próximos de um novo golpe institucional como já vimos sinais
no Peru e atualmente no Chile, do que o impedimento do presidente. Os recados
há tempo vêem sendo enviados ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal é bom
não ignorá-los.
De outro lado, é preciso espantar as
ideias e as opções inadequadas. Em termos políticos o poder foi acolhido pelas
forças extremadas da direita enquanto que as forças de esquerda ao mesmo tempo
que não percebem o pior acreditam ingenuamente que o poder governamental
voltará para as suas mãos, com as decisões favoráveis do Supremo Tribunal
Federal e a passividade do processo eleitoral. A lição já foi apreendida, que
não há processo vitorioso e duradouro sem povo.
Ademar
Bogo
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