Na
Filosofia da Linguagem encontramos os elementos para relacionar os termos às
situações políticas e sociais que revelam os interesses, às intenções e perspectivas
para aquilo que ainda tentará vir a ser.
O filósofo britânico John Austin
(1991-1960) expressou muito claramente que, “dizer algo é fazer algo” seja com
palavras ou gestos. E veja como funcionam os gestos quando se quer dizer algo
sem as palavras, por exemplo, com os dedos, não apenas na Língua de Sinais, mas,
na comunicação simbólica, também há expressões assustadoras.
Havia décadas que a maioria das mãos
esquerdas brasileiras forçava o pulso virando-o meia volta para baixo, para que
o dedo indicador esticado, subisse para a vertical e, ao mesmo tempo, o polegar
se colocasse na horizontal formando um “L” que queria dizer, “Lula lá”. Esse
gestual, geralmente virado para a direita, simbolizou a hegemonia eleitoral e
animou a população por algumas décadas a participar dela. Por outro lado, nos
últimos tempos, vimos os mesmos dedos usados para fazer o “L”, com um simples
movimento do punho, meia volta para cima, o indicador fica na
horizontal e o polegar se eleva para a vertical; o gesto então já não
representa mais um “L”, mas uma arma, que, ao contrário da hegemonia anterior
que convocava para a participação e assegurava a esperança, agora ela incentiva
e ordena, em nome da segurança, a matar o seu semelhante tido como inimigo.
A questão então é decifrar como os mesmos
dedos, com um simples movimento do punho comunicam duas mensagens opostas? John Austin nos mostra que isso é
possível devido aos significados. E não é difícil perceber que, se
anteriormente o “L” significava melhoria de vida, invertendo o gesto para o
símbolo de uma arma, ele significa agora a violência e a morte.
É importante refletir sobre a
facilidade de se inverter os significados no capitalismo. De um dia para
outro a hegemonia que sustenta certas intenções, pode desmoronar e, aquilo que
era medo vira esperança ou, com a mesma facilidade, o que era esperança vira
medo.
O medo, no entanto, é a consequência
do “cagaço”. A Filosofia da Linguagem nos mostra que a língua portuguesa é
farta em significações. O “cagaço” significa aquele movimento que gera o susto
e cria o estado de quem está com medo. Estamos vivendo um tempo de “cagaços”
constantes, para ambos os lados. Do lado das populações pobres, LGBTs,
indígenas, negras, sem-terra, comunidades estudantis, que reúnem professores e
alunos, jovens desempregados, trabalhadores com esperança de se aposentarem
etc., sempre que algo se refere aos direitos sociais, os corações aceleram,
pois, ninguém sabe o que pode vir pela frente. Do outro lado, ocorre a mesma coisa,
sempre que o Ministério Público ameaça levar adiante apurações sobre os desvios
de verbas públicas, formação de milícias, ou que o Congresso Nacional ameace
não votar favorável ou que haverá mobilizações populares e greve geral, o
sangue esquenta e o medo se transforma em ameaças reais.
Antônio Gramsci foi um filósofo
perspicaz quando descobriu que a hegemonia de um grupo social manifesta-se por
dois meios: a) da dominação e b) como liderança intelectual. Essa duas forças
devem agir ao mesmo tempo, ou seja, enquanto o grupo dominante se impõe pela
força, atacando, subjugando e até destruindo as forças contrárias, associa-se a
essa brutalidade, a capacidade de direção intelectual de apresentar resultados
que satisfaçam os interesses gerais.
Diante desses dois fatores, podemos
analisar que, no aspecto da dominação a hegemonia governamental atual está indo
bem. As medidas tomadas indicam que as intenções de armar a classe média de
direita e as milícias formadoras de um Estado paralelo, estão se concretizando;
no entanto, a capacidade intelectual dessa força para ser hegemônica, não se
pode dizer que seja uma virtude e, longe está de um dia chegar a ser brilhante.
Agrava-se ainda mais essa limitação, com a incapacidade que possui de formular
o mínimo de indicações que levem melhorias nas condições de vida da maioria da
população.
A hegemonia de forças no governo sem
brilho intelectual, portadora de uma grandiosa fragilidade e cheia de
contradições, não se pode atribuir àquelas poucas cabeças privilegiadas de
fraquezas toda a responsabilidade. O motivo para equipar a população mais conservadora com armas de
diversos calibres e em quantidade assustadora, como também a incapacidade de
encontrar um caminho que traga alguma melhoria para a população, se deve à
crise profunda e continuada do capitalismo. E eles foram informados disso pelos
organismos internacionais e pela orientação que vem sendo dispensada desde o
período eleitoral, pelos Estados Unidos imperialista da América.
Os estudos mostram que, se nas últimas
cinco décadas a economia mundial cresceu em média 3,5%, agora, a Organização
para a Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), (essa mesma que o
governo brasileiro, para fazer parte dela, cedeu a base de Alcântara e abriu as
fronteiras para a entrada sem visto de turistas norte-americanos), estima que
nas próximas cinco décadas, a economia mundial, em média, não passará de 2% de
crescimento. É claro que contam com a eternidade do capitalismo, mas é o que
teremos se não o enfrentarmos.
Logo, os capitalistas sabem e as
forças de direita estão sendo chamadas a defenderem os seus interesses com
armas na mão; isto porque, o Estado sozinho não conseguirá fazer frente às
revoltas constantes que serão promovidas pelas massas famintas. Esse, portanto,
parece ser o programa do governo que se elegeu sem nenhum programa e que faz o
presidente mostrar-se seguro e sorridente em meio a tantas ameaças e repúdios
contra o seu governo.
Seguindo esse raciocínio é de fácil
compreensão, porque dos ataques raivosos contra as universidades, os
professores e os estudantes, mesmo sabendo que não existe ameaça marxista
alguma, isto porque, as pesquisas mostram que os trabalhos de pós-graduação
orientados pela teoria de Marx, representam apenas 4% do total, mas pode ser um
espaço a voltar-se contra; então a hegemonia sem brilho intelectual, precisa
destruir as forças contrárias que, pelas ideias podem fazer ruir as más
intenções do imperialismo e de seus coadjuvantes.
Nesse sentido, o próprio Antonio
Gramsci, mesmo preso na década de 1930, indicou que as forças contrárias
deveriam buscar a unidade e criar uma contra-hegemonia. Em nosso caso, mais do
que colocar o “L” em pé, para fazermos frente ao gesto que incentiva o uso de
armas e os treinamentos para saber manejá-las é preciso agir para impedir que
as relações sociais se tornem impraticáveis.
Sendo
assim, a luta não é apenas para impedir a reforma da previdência, pois, com
tantas armas à solta poderá faltar idoso no futuro para se aposentar, haja
vista o extermínio em massa dos pobres e da juventude que continuará
normalmente a ocorrer. A luta é para enfrentar as perversidades em todos os sentidos, mas, principalmente, para superar o capitalismo que como a caixa de Pandora, com a tampa aberta espalha todos os males.
Ademar
Bogo
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