O
filósofo brasileiro Leandro Konder, publicou em 2009, o livro: “Marxismo e alienação” e, em uma das partes discutiu, a “Alienação
política”, colocando assim o problema: “Cindindo a atividade humana em duas
esferas aparentemente autônomas e frequentemente contraditórias – a esfera da
vida pública e a esfera da vida privada – a alienação possibilitou o
aparecimento dessa ilusão segundo a qual a atividade do indivíduo na esfera da
vida particular permitiria um abandono das suas
responsabilidades como cidadão”. (2009, p.183).[1]
Se
quisermos identificar para, descobrirmos a causa dessa doença burguesa, iremos
encontrar alguns vestígios, em alguns países da Europa, nos séculos que
antecederam a Revolução Francesa; mas, principalmente, depois dela, quando as
Repúblicas foram organizadas e o Estado capitalista passou a vigorar como
instrumento de poder centralizado. Sendo a classe dos produtores também a força
dirigente, para agilizar e evitar que os próprios interesses fossem diluídos,
fortaleceu-se o conceito de “Democracia representativa”.
O
individualismo concorrente e competitivo burguês, somente poderia se sustentar,
se o conceito de liberdade hegeliana fosse implementado. Para tanto, as leis
deveriam ser a referência para que todos guiassem os próprios passos. Com esse
entendimento, facilmente impuseram a alienação política para as massas.
O
processo alienador, realiza-se pela presença do mesmo sujeito na produção da
sociedade e na manutenção do Estado. No entanto, a denominação real quando se
trata de identificá-lo, na primeira, ele é visto como: indivíduo, trabalhador,
cliente etc., e, no segundo como cidadão, porque, nas leis estão os direitos estabelecidos.
Com
esse dimensionamento restrito, um outro prejuízo cultural foi subdividido e
denominado como “obrigações sociais” e “deveres políticos”. Das obrigações,
constam desde a importância da participação no trabalho, da religião, da
educação escolar etc., e, dos deveres, o pagamento dos impostos, registrar os
filhos após o nascimento, (para os homens), prestar serviço militar, votar nas
eleições.
Do
ponto de vista burguês, a sociedade capitalista funciona muito bem. Orientam-se
eles pelas leis do valor, enquanto procuram, por meio da concorrência,
afirmarem-se como protagonistas do processo da construção da sociedade civil. O Estado surge como o garantidor das vontades
pessoais coletivizadas. Reclamam de certas restrições, mas jamais defendem a superação
deste instrumento de poder.
Apesar
das leis sustentadoras do processo econômico, quanto as que comandam o Estado e
a política, não serem totalmente compreendidas pela população em geral, a vida
segue, orientada, mais pelas conformidades do que pelas normatividades. Sendo
que, aqueles que tudo produzem não se sentem donos da própria produção,
alienam-se dos objetos, assim como de si mesmos, quando se propõem a
transformarem a força-de-trabalho ou o próprio corpo, oferecidos como
mercadorias. O não percebimento que sem a participação individual nada se
constrói socialmente, faz com que o “público” seja relegado e, apenas os bens
privados merecem atenção.
O
capital portanto, não é apenas uma foça social, mas também uma produção social
feita inicialmente pelas gerações passadas e, a divisão social do trabalho,
cada vez mais complexa. Da mesma forma, ocorre com o Estado. A sua formação não
passou pela decisão de uma ordem individual. Ele é o resultado imposto pelas
necessidades sociais e, por isso, uma criação social.
Para
a maioria das pessoas, se o capital pertence aos capitalistas e o Estado às
autoridades, resta apenas cumprir com as obrigações e praticar os deveres
orientados pelas normas jurídicas, que tudo seguirá em frente, com um Sol
nascido para todos.
Quando
nos deparamos com os conflitos entre classes, é porque, em algum grau o domínio
da alienação, rompeu-se e, embora não exigindo que os meios de produção sejam
distribuídos, quer, pelo menos uma melhor remuneração para a mercadoria,
força-de-trabalho. Nesse sentido, podemos dizer que os lutadores compreenderam
as diferenças entre capital e trabalho, mas não há mudanças estruturais.
O
mesmo fenômeno ocorre com o Estado. Quando as forças de esquerda enfrentam as
forças de direita, é porque, frações das classes, descobriram que dentro do
Estado há um governo que pode alterar certas coisas. No entanto, ao ganharem as
eleições, assumem, representativamente o comando das instituições e passam a
governar com a mesma estrutura, mantendo-a inclusive como era.
Se
Karl Marx e depois Georg Lukács, compreendera que, a alienação, acima de tudo
começa na produção e conduz para a reificação ou coisificação do trabalhador,
este é o cerne do problema, se levarmos para a política, com o mesmo conceito. Então
a esquerda deveria se perguntar, quem construiu o Estado capitalista? E, sendo
que o trabalhador, reivindicando aumento de salário não muda o sistema
econômico, será que o poder do voto poderia mudar a superestrutura jurídica e
política?
Acima
de tudo, é importante compreender que a alienação econômica, separa os
trabalhadores dos produtos produzidos, tornando-os uma conquista do dono dos
meios de produção; se o político eleito é uma “produção” do esforço coletivo do
voto, eleito, o candidato, devido à democracia representativa, passa a ser uma
conquista dele.
Sendo
o mandato e os cargos públicos conquistados, tomados como patrimônios
individuais, as forças de esquerda também se acostumaram a governar sem o povo,
separando este da conquista e afastando-o do poder central que, se quiser melhorias
nos benefícios, terá que reivindicar, sempre respeitando o Estado de direito e
a estrutura do poder político. Desse modo, mesmo com outras cores, continua-se
reproduzindo a sociedade alienada e, a ordem do partido de esquerda, vira no
seu contrário tornando-se o partido da ordem.
Por
este roteiro podemos concluir que, os processos eleitorais da forma como estão
sendo conduzidos, não elevam o nível de consciência das massas e, além da
alienação, efetuada pelo distanciamento das mesmas do exercício do poder, tal
qual ocorre na economia, com a dependência dos trabalhadores de um patrão, na
política, a dependência cairá sempre de um líder carismático de esquerda ou de
direita, tanto faz.
Ademar
Bogo
[1] KONDER, Leandro. Marxismo e alienação: Contribuição para um
estudo do conceito marxista de alienação. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
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