A guerra em andamento na Ucrânia
sendo vista de duas maneiras: a primeira como vêem os Estados Unidos e aliados
de que a Rússia provocou uma “invasão” de território e ofendeu a soberania de
outro país, e, a segunda, como autodefesa do avanço da OTAN, contra o nazismo
em crescimento no mundo e a antecipação aos planos do imperialismo de asfixiar
o crescimento da Rússia.
São duas formas, mas não únicas. Se
tomarmos os movimentos ascendentes da modernidade para cá, perceberemos
nitidamente que a importância das potencias mundiais, com o passar do tempo,
desgastam-se e o poder desloca-se para outros pontos do planeta. Quando tomamos a referência do colonialismo
desde 1500, os nomes dos países em evidência como Portugal e Espanha aparecem
com grande destaque. No entanto, esquecemos que a Holanda constituía-se na
época, como a maior indústria naval e força comercial marítima, penetrando por
todos os continentes competindo com as duas potências colonialistas.
A partir da Revolução Francesa com o
crescimento industrial e referência política, Inglaterra e França apossaram-se
de grande parte das colônias, diminuindo imensamente o poder de influência
mundial da Holanda. Paralelamente a esses países os Estados Unidos estenderam
os seus domínios e, embora disputando espaço com outras potências, a partir da
Segunda Guerra Mundial, passou, não somente subjugar as nações, mas a
obrigá-las a apoiá-lo quando quisesse desenvolver qualquer ofensiva externa.
A criação da Organização das Nações
Unidas – ONU – em 1945 e, da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN –
em 1949, como também, para as Américas, a Organização dos Estados Americanos –
OEA -, dentre outros organismos de controle teve como estratégia, interferir,
reunidamente, sobre os destinos dos países dependentes.
A mudança de estratégia do domínio individual
para o coletivo, do imperialismo dos Estados Unidos da América, visou formar um
consenso forçado dos países submetidos aos seus interesses com controle direto
sobre as soberanias, e sempre ditou, a partir de Washington, como deveria ser
os parâmetros econômicos, políticos, militares etc.; um controle mundial nunca
visto na História da humanidade.
Todo esse poderio e controle não
impediu que, paralelamente surgisse, principalmente, no continente asiático,
pouco influenciado, exceto o Japão e a Coreia do Sul, potências concorrentes. A
China, a India e a Rússia (esta última divisa e pertence territorialmente aos
dois continentes, europeu e asiático) além dos investimentos econômicos, também
competiram com o fortalecimento da indústria bélica.
A abertura econômica da China, a
partir de 1979 e o separatismo da União Soviética depois de 1991, foram saudados
com grande euforia pelos capitalistas ocidentais. Todos correram, principalmente
para a China, transferindo para aquele país, as tecnologias mais avançadas e,
ajudaram, por diferentes fatores (dentre eles a força de trabalho barata) a
torná-la uma potência competitiva. A
Rússia, por sua vez, recriou setores da classe burguesa, mas manteve o Estado
fortalecido, assim como a China, controlando econômica política e militarmente
cada país.
Como essas expansões não impediram o
surgimento das crises constantes do capitalismo, que vêm se repetindo desde a
década de 1970, quando o modelo neoliberal começou a vigorar e a globalização
passou a ser política e juridicamente oficializada as contradições ganharam
mais destaques. Os conflitos regionais e a participação direta e frustrada dos
Estados Unidos levaram ao enfraquecimento do império que passou a ter de
dividir espaço mundial, com economias mais dinâmicas, como é o caso da China.
A reação unificada dos países
submissos aos Estados Unidos contra a Rússia soa um tanto estranho, se
considerarmos que, principalmente a Europa, é a que mais tem a perder economicamente
com o gás e o petróleo importados. No entanto, para além do incômodo econômico,
marcas são marcas. A Rússia e a China, embora tenham aberto as suas economias e
crescido nos parâmetros capitalistas, guardam consigo o estigma do comunismo e,
principalmente a China, por ter mantido alguns princípios fundamentais do novo
modo de produção. Essa marcas ideológicas são nitidamente percebidas, na
linguagem preconceituosa da Rede Globo e no discurso raivo do governo contra as
bandeiras vermelhas, arrefecido nos últimos dias com a esperança de que a
Rússia venha auxiliar o candidato do genocídio, nas próximas eleições para
presidente.
Evidentemente a reação contra a
Rússia reflete o deslocamento do poder político mundial, senão na sua
totalidade, mas a Ásia agora está em campo para impor também os seus interesses
e, dos cinco membros do Conselho de Segurança da ONU, eles representam dois
votos. Por outro lado, Vladimir Putin enfrenta sozinho a ascendência do nazismo
na Europa, da mesma forma como fizera Stalin em 1939, quando a Alemanha invadiu
a Polônia e desencadeou a Segunda Guerra Mundial.
O processo de violação dos direitos
democráticos na Ucrânia assemelha-se ao que ocorreu no Brasil, com a mesma
estratégia golpista, de tirar, por simples votações no parlamento, os
presidentes legitimamente eleitos. Aqui, o plano vigorou porque, feita a
transição, houve a eleição, aceitamos o resultado e as forças adeptas do
nazismo que venceram estão a governar até o final deste ano, quando se pensa
tirá-las do poder pela via eleitoral. Na Ucrânia, os planos falharam e duas regiões
Donetsk e Luhansk, não aceitaram o resultado eleitoral imposto e ofereceram
resistência. De lá para cá, não somente os habitantes dessas duas regiões, como
todos os habitantes de descendência russa e forças de oposição, vinham sendo
reprimidas pelo governo de índole nazista que, mesmo estando fora da OTAN, é aliado
dos Estados Unidos.
Os combates na Ucrânia reproduzem a
mesma situação de 1º de Setembro de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia
para chegar à Rússia. Os dois países divisam com a Rússia. No entanto, agora
Putin antecipou-se e, antes que o seu vizinho se alie legalmente ao inimigo,
permitindo que os aparatos bélicos sejam instalados em cima da divisa, foi preciso
reagir.
Não se trata de negar a soberania de
cada país e nem concordar com o Estados Unidos, mesmo porque é o país mais especializado
neste quesito. Há dois anos tentou invadir a Venezuela usando o Brasil para
empossar um fantoche como presidente. Trata-se
de uma ameaça iminente contra a Rússia e, por essa razão, a intervenção é
preventiva.
A correlação de forças mudou. Se Stalin
teve a seu lado, em sua época, a Inglaterra e a França para lutar contra a
Alemanha, hoje Putin não tem e, dependendo de como o processo fluir, é pouco
provável, mas pode até vir perder a guerra ou ter de recuar, se o desfecho
demorar muitos dias, mas isso não anula a determinação Histórica de que o
imperialismo norte-americano está em decadência e, as suas ordens não são mais
unânimes, nem tampouco hegemoniza o controle da economia do mundo. Outras
potências surgiram e querem o espaço merecido.É evidente que o império agoniza e com ele agoniza também, por ter feito a escolha errada, agoniza temporariamente também a Europa ,até ser salva pela China.
Uma certeza podemos ter conosco, mesmo com
o deslocamento do poder do império para outros pólos, o capitalismo destrutivo
e decadente não tem mais solução. A excrescência do crescimento do nazismo no
mundo é a demonstração de que, para este tipo de crise civilizatória somente o
banditismo político pode segurar o avanço das forças democráticas e
revolucionárias. Falta este levantamento para por fim ao impérios. No momento em que os povos entenderem que não
basta governar os países, mas é preciso comandar solidariamente todos eles, a
política mudará de natureza e as lutas serão pelo poder e não pela escolha de
fantoches da ordem imperialista e capitalista.
Ademar
Bogo
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