Remanescem dos poderes imperiais antigos, dos reinados e da tradição absolutista, a vontade e o poder do soberano, não importa se alimentados por um indivíduo, um partido ou um exército partidarizado. Marcus Tullius Cícero, imperador romano até o ano 43 antes de Cristo, afirmou que: “carrego em mim três pessoas; a mim mesmo, meus adversários e os juízes”.
É de suma importância perceber que muitas verdades
permanecem como foram elaboradas na História, mudam apenas os personagens. Se
para Thomas Hobbes, quando o soberano agisse desrespeitando a lei não era ele a
estar errado, mas a lei, por isso revogavam a mesma, na atualidade, quando o arremedo
de soberano erra, ou a lei não está de acordo com os seus interesses, ele
ameaça com golpe e intervenção militar contra as instituições que ele mesmo
jurou defender.
Evidentemente, seja na antiguidade ou no capitalismo, o
poder e o Estado são instrumentos de manejo da classe dominante. Essa mesma
classe ao estabelecer a legalidade do poder representativo, não importa o
tamanho da população de um país, importa apenas a busca da formação da maioria para
atentar contra o país e as forças de oposição. Para assegurar as manobras
políticas os mensageiros do capital colocam na retaguarda de seus passos, as
forças armadas. Estas últimas entram em ação quando a coerção das leis
tornou-se insuficiente para garantir os interesses burgueses, por isso, como
arautos do mal, não prometem o melhor, apenas anunciam: “O que virá será ainda
pior”.
De todo o visto, vivido e ameaçado não podem ficar apenas
as lições históricas. A ingenuidade também é uma força inimiga que atenta
contra a própria consciência. Ter ilusões que no capitalismo a justiça, a
liberdade e a igualdade serão garantidas pelos poderes da República, equivale
acreditar também na bondade do capital e na fidelidade das forças armadas ao
povo. O simples fato de existir o Estado capitalista nos dá a certeza de vivermos
em uma sociedade injusta e desigual.
A “inconsciência” nos diz Georg Lukács em seu livro,
“História e consciência de classe”, é um sinal de imaturidade do movimento. Por
imaturos, devemos entender indivíduos ou um partido que agem sem levarem em
consideração as consequências de seus próprios atos. Significa, no caso da luta
de classes, agirmos comprometendo o nosso próprio futuro. Como? Ignorando que a
permanência da desigualdade social tem para a classe dominante, a mesma
importância da igualdade para os trabalhadores. A existência da primeira e à
condição primordial para nunca deixar que a realização da segunda aconteça.
Por outro lado, há equivalência entre a imaturidade do
movimento de organização dos trabalhadores e a dominação burguesa. Os capitalistas
são assim denominados por encarnarem o capital e o Estado. Estas duas formas de
poder não existiriam sem as instituições e as pessoas leais para
representá-los. Ou seja, não é apenas a intransigência do capitalista colocada a favor dos rendimentos financeiros
a fazer mal aos trabalhadores, mas as próprias leis de produção e reprodução do
capital, sustentadas pelas práticas econômicas cotidianas. Da mesma forma, não
é o político capitalista apenas, culpado por não agir democraticamente, mas a
própria estrutura do Estado a impedir qualquer movimento em outra direção.
Os trabalhadores ao acreditarem na honra burguesa, em
vistas de levarem a cabo determinadas “vitórias”, como defensores da ordem,
também encarnam a defesa do capital e do Estado. No entanto, antes desta
encarnação os representantes partidários incorporam o espírito pacifista, a ingenuidade e a
domesticação à ordem estabelecida. Isto porque, em nome da liberdade de
formulação de políticas públicas, para favorecer temporariamente os mais
pobres, obriga a garantir a liberdade do capital de ir a todos os lugares,
inclusive nas entranhas do orçamento público, além de permitir a exploração da força de trabalho e
agir de acordo com as leis coercitivas garantidoras do funcionamento da sociedade
desigual, caso contrário são derrubados
pela política da força.
Vivemos um tempo controverso. Ele nos convida a tomarmos
posições mais incisivas. Contra as ameaças da política da força devemos
contrapor com a força da política, mas isto significa deixar transparente qual
é o objetivo final a ser alcançado. Objetivos parciais conciliadores, alimentam
a ingenuidade de, “no longo prazo”, irmos definindo onde queremos chegar. No
entanto, a cada década, diante das crises, os capitalistas sob pressão do
capital, desmancham as combinações e impõem, pelas leis ou pela intervenção
militar, a ordem que lhes interessa.
Quando não se tem objetivos definidos, quem dirige a
política são as pautas da classe dominante ou dos pregadores do caos. Observe e
veja, pelo que lutamos hoje? Por vacina, auxilio emergencial, contra o voto
impresso e outras poucas coisas semelhantes. E tudo por quê? Por quê houve um
golpe em 2016? Por quê perdemos a disputa eleitoral de 2018? Não. Porque antes
disso, a ingenuidade política permitiu que os capitalistas agissem com total liberdade
na acumulação do capital; as forças armadas se educassem para defender o
capitalismo, ao ponto de contestarem o comunismo sem que haja qualquer vestígio
de ameaça e, mais ainda, por não termos como preocupação a verdadeira conquista
do poder.
A definição do objetivo final impede os retrocessos
ingênuos. Os processos revolucionários admitem derrotas, mas nunca a mudança da
direção da finalidade. O alcance do objetivo final se assemelha ao alcance do
objetivo parcial, com uma diferença, se o objetivo parcial é alcançado dentro
da ordem, é porque esse objetivo é suportável pelos capitalistas, por isso, até
se somam ao movimento para efetivá-lo. Se o objetivo final é contestado pela
classe dominante, é porque ele é insuportável por ela. Logo, em primeiro lugar,
devemos ter claro qual é o objetivo final a ser alcançado, a partir disso sim,
devemos definir os objetivos particulares que sigam naquela direção.
Insistimos, que a organização política, a formação de
militantes e a elaboração dos métodos de trabalho, dependem da definição do
objetivo final. A força política contra a política da força, somente pode
vigorar se houver uma verdadeira “direção política”. Quando isto ocorre, todas
as forças progressistas e revolucionárias são chamadas a darem um passo à
frente. Este é o primeiro compromisso para combater a ingenuidade alimentada
pelo senso comum, na atualidade formado pelas seitas religiosas e pelas
inverdades publicadas nas redes sociais.
A organização partidária é a força mediadora entre a elaboração
teórica e a realização das tarefas. Ela é responsável para medir o ritmo da
marcha em direção ao objetivo final e, principalmente, por quais lugares devemos
conduzir o movimento. Ao mesmo tempo em que assegura a linha política, combate
o fatalismo e a ingenuidade e evita que se tenha de sempre começar de novo pelo
degrau mais baixo da luta de classes, formado pelas mais simplórias
reinvindicações.
A força da política se impõe quando a política da força é
não apenas derrotada, mas definitivamente impedida que se jamais se volte
contra o povo e os interesses do país.
Ótimo texto
ResponderExcluirlutamos para transformar o mundo , não para reformar o capitalismo
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