Immanuel Kant, Karl Marx e Friedrich Engels, trataram do tema do cosmopolitismo de maneira diferenciada. O primeiro vinculou a explicação à vontade universal, os outros dois inseriram o conceito na perspectiva histórica e dialética compreendido na expansão do capital e do mercado capitalista.
Kant desenvolveu a teoria dos “imperativos morais”. A sua
intenção foi fazer com que a vontade humana fosse vista como um “dever” de
alcance universal. Interessava a ele justificar a busca do “reino dos fins”, no
qual, se cada um tomasse a humanidade existente no humano nunca como meio,
chegaríamos à “paz eterna”. Para ele, a questão estava em fazer vir a termos uma
humanidade dotada de razão e, por ser universal, guiar-se-ia pela autonomia da
vontade como lei natural, sem contudo apontar para nenhum projeto.
Marx e Engels também analisaram a questão universal, mas
de olho no capitalismo. No Manifesto Comunista mostraram que “a burguesia
imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo, em todos os países, por
meio da exploração do mercado mundial. E para o desespero dos reacionários, ela
retirou da indústria a sua base nacional”. Portanto, Kant
orientou-se pela vontade individual. “Age de tal modo que o teu comportamento
possa vir a ser um princípio de uma lei universal”. Marx e Engels materializaram
a expansão pela vontade do mercado e do capital que impõem as
próprias leis.O primeiro, quis dar vos ao agir voluntariosos do indivíduo, os dois outros denunciaram o agir perverso e criminoso do mercado e do capital.
Na atualidade, as vontades individuais e universais foram
intensificadas, mas estão longe de estabelecerem uma racionalidade favorável à civilização. Do ponto de vista universal, o progresso prometido por aquilo que, no
início do século vinte, veio a ser denominado de “imperialismo” e no final do
mesmo século, converteu-se em “globalização”, foi por assim dizer, “um ato
permanente de vontade” do capital internacional, para apossar-se das riquezas
nacionais dos países dominados, mas, acima de tudo, foi uma obrigação imposta
pelo mercado de levar o capital a todos os lugares da terra para salvar a
própria estrutura capitalista. E a vontade individual? No caso brasileiro,
teríamos, na visão de Kant, uma verdade abstrata e metafísica sendo imposta pelos slogans: “Brasil acima de tudo, Deus
acima de todos”, e, do ponto de vista de projeto político nada de concreto
apresenta.
Por outro lado, há dois aspectos a serem considerados que representam as ideologias enganosas dos dizeres. O
primeiro, é que a “autonomia da vontade” expressas pelas palavras, “Deus acima de todos”, não está na devoção dos governantes daqui, mas no poder imperialista que se coloca, de verdade, “acima de todos”; logo, a
subordinação é ideológica concreta. O segundo aspecto, sem “autonomia da
vontade” interna, por estar dominado pela vontade externa, o governo entregou-se
ao “deus dará”, é a dominação ideológica abstrata. Não sabendo o que fazer posiciona-se
na contramão da história, oferecendo como solução aos problemas humanitários, o
“Estado de sítio”. Ou seja, enquanto os capitalistas, com “vontade de rapina”
esfolam as riquezas naturais, situadas no quintal, o mandatário fica gritando
da janela que imporá medidas totalitárias contra aqueles que disserem que ele
“não vale um pequi ruído”. Dessa forma, Getúlio Vargas chamado de “Sancho Pança”
e “Mãe dos pobres”, não teria implantado a indústria nacional. Juscelino Kubitschek, conhecido desde a infância por “Nonô” e a própria mãe o apelidou de “Meu
fusca”, por ser identificado pelas iniciais de JK como a placa do carro, não
teria feito Brasília, a capital do país. Lula, chamado de “Sapo barbudo”, não
teria feito, na opinião dos analistas, o melhor governo da República e teria recorrido à Lei de Segurança Nacional para perseguir desafetos.
A vontade metafísica governamental que, segundo os
adeptos, elegeram um “mito” e não um presidente, vai do lado avesso. Ao invés de
buscar soluções para os problemas concretos das mortes pelo coronavírus, da
fome, desemprego e outros, pelo menos duas dezenas de problemas, fica
procurando leis para enquadrar indivíduos que lhe tecem criticas, enquanto ocupa-se em liberar a compra de armas ao invés de
investir na indústria, tecnologia, educação etc., iniciativas que de fato
enfrentariam a decadência nacional e anulariam as criticas. Sua ocupação
predileta é instigar os seguidores a boicotarem as medidas e orientações dos
governadores e prefeitos; negar a gravidade da crise generalizada, ofender os
países que poderiam auxiliar com repasse de vacina e, fazendo ameaças de que
instalará um Estado de Sítio. Para que? para dominar quem? Para dar golpe em
quem?
Há, de fato, como disseram os filósofos, um “cosmopolitismo”
da vontade do capital e do mercado, imobilizadores que não é em nada
solidário. Em primeiro lugar pela expansão do capital, interessa às grandes
corporações a exploração até o fim, mantendo a economia regulada pelo dólar. Em
segundo lugar, do ponto de vista
sanitário, a globalização da Pandemia, em nossas terras encontrou aliados
negacionistas rompedores de todas as medidas protetivas, enquanto o mundo olha
estupefato, com medo de que as novas cepas queiram também participar do
cosmopolitismo da morte.
A ignorância é uma doença que só pode ser curada com o
conhecimento. Por isso clamamos, homens do governo, estudem! Estudem tudo e
também a teoria social do materialismo histórico e verão que é melhor governar um povo de
barriga cheia e feliz do que grandes contingentes de massas famintas e tristes.
Busquem soluções que orgulhem os patriotas! Incluam no vocabulário cotidiano,
para substituir as ofensas, palavras de otimismo, conforto e ânimo! A morte só
traz perdas, tristeza, melancolia e depressão! Usem o Estado, enquanto puderem,
a serviço da vida e deixem de ser inimigos de vós mesmos! Caso contrário: A
verdade vos derrotará.
A
visão desmantelada, sem nenhum projeto, alimentada apenas por um desejo
totalitário, nos está conduzindo para longe até do que desejava Kant, “ao mundo
dos fins” onde de fato reinaria a “paz eterna”. O “mundo dos fins” o qual
estamos indo, não há Paz e nem respiração. Se o propósito necrotrófico era
matar 30 mil pessoas, já ultrapassou a meta em dez vezes e chega à casa das 300
mil mortes, com uma tendência imperativa de multiplicar por dois e talvez por
três este número, tornando-nos, possivelmente, nesta copa pandêmica mundial, os
primeiros campeões do século vinte e um.
A exploração capital e a pandemia tornaram-se as duas pragas
insuportáveis da civilização: o primeiro mata de fome, o segundo de
asfixia. As respostas a eles deverão ser
dadas em âmbito internacional. Temos portanto, duas uniões a serem feitas: a
união de países, povos e governos para combater a Pandemia e a união de classe
e das massas exploradas para enfrentarmos e superarmos o capitalismo. Se a
verdade liberta, ela tarda mas não falta.
Ademar Bogo
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