O filósofo Nietzsche, em seu livro, A
genealogia da moral destacou que: “De fato, no desprezo se acham mescladas
demasiada negligência, demasiada ligeireza, desatenção e impaciência, mesmo
demasiada alegria consigo, para que ele seja capaz de transformar seu objeto em
monstro e caricatura.”
O desprezo pode ser considerada como a mais
perversa retribuição a um desafeto. É diminuição do lado oposto como se ele não
existisse. É também o abandono da consideração e relegar ao imprestável aquilo
que pode ter sido útil. Por outro lado o desprezo pode ser fruto da soberba de
achar que o poder eleva o indivíduo a níveis inatingíveis fazendo com que o mortal
sinta-se imortal ainda em vida.
Baseados nisso, se tivermos no futuro
que caracterizar o governo atual em uma só palavra, com certeza esta será
“desprezo”. Por que? Como diria Nietzsche, a sua existência sintetiza as
qualidades que poderia ter um governante: negligência, desatenção e
impaciência.
Negligenciar, a educação, a saúde, os
direitos sociais, a natureza, os bons modos, a cortesia, a gentileza, os afetos
etc., já seria muito grave, mas, negligenciar a vida em nome da ignorância é
intolerável.
Intolerável porque, a ignorância chegou
ao poder e transformou em monstro e caricatura o próprio mandatário. Monstro
para fora, perante aos mortais em série em plena pandemia e, mostro para dentro
na morte e afastamento dos próprios aliados.
O desprezo pelas instituições e a
governança está na origem do processo que culminou no golpe de 2016. Desde lá,
no intuito enganoso de praticar uma “nova política”, o imperialismo e seus aliados
desprezaram os partidos políticos confiando que, governar é fomentar
mobilizações de grupos alucinados e recorrer ao apoio das forças armadas.
Governar, para esses entendidos da nova
política, seria submeter duas dúzias de subordinados dispostos a encobrir delitos, perseguir instituições e
universidades, xingar os aliados comerciais em nome da pureza da ideologia
capitalista e atacar os meios de comunicação “desalinhados” por oportunismo,
colocando todos os desafetos de direita no campo do comunismo.
Mas eis que o caldeirão sem tradição política,
organizacional e idoneidade ética não permite que os átomos se juntem e formem
uma coesão no início da fervura. Não se juntam e nem podem compartilhar da
“demasiada alegria” e satisfação porque o cozinheiro é portador de um fortíssimo
tempero odioso. Então eles pulam para fora, esbravejam e respingam no rosto
macabro do foguista, o caldo produzido pelo próprio desprezo que nutrem entre
si.
Se Nietzsche tem razão, quando diz que
“nunca odiamos aos que desprezamos, odiamos, aos que parecem iguais ou
superiores a nós”; no caso em discussão, o ódio se justifica quando comparam
quem são eles e quem são os outros por eles confrontados. O sentimento de
inferioridade é tanto que converte em ódio aquilo que deveria ser uma simples
demonstração comparativa; segundo, porque entre eles os mais destacados se
parecem e cada um quer o destaque e a projeção enrustida.
Mas eis que chegou a hora do
enfrentamento entre o “monstro e a caricatura”. É a guerra com armas desonrosas
que atacam os vazios da honra, da sinceridade, da lealdade e da retidão de
caráter, todos em busca de uma só vitória, que atende pelo nome de
tirania.
O ressentimento é a marca de quem sai do
caldeirão e, a cumplicidade que em Direito penal quer dizer, “aquele que
colabora com a prática do crime de alguém” é a marca do governo sem partido. E
a política nova, revela ser apenas uma extensão da corrupção monetária com a
reunião da prática protecionista, obscurantista e perseguidora.
Então é a vez do desprezo se
converte-se em impopularidade. A parte alucinada é abafada pelo canto das panelas
que dizem com suas bocas abertas nas janelas, “fora impostores”. Eles, ainda
tentam, desmanchando-se em notícias disparadas por robôs que, depois de
construídos pela engenharia mecânica, aprenderam a mentir.
Falam em “política” quando na
verdade querem dizer “interesses”. Assaltam o poder público, mas por falta de
unidade partidária, convertem o próprio assalta em ato do próprio desprezo. Para
“fazer política” é necessário, pessoas honestas e capazes que tenham gosto pela organização política,
que sejam capazes de aglutinar uma base consciente e disposta a elaborar
propostas que sejam favoráveis a toda à nação. Política não se faz com “mini facções”
robotizadas, que injetam anti-teses na mente de uma parcela diminuta da
população, doutrinando-a para a defesa de teses raivosas contra os poderes que
deveriam exaltar para assegurar a própria legitimidade.
Da “escola sem partido” resultou um “governo
sem partido” e sem compostura. De longe, já quase sem sustentar-se sobre os
cascos, o imperialismo envia ordens, mas elas esbarram nos silenciosos
funerais. O desprezo converteu-se em desprezo somando-se aos dias tristes, para
enraivecer o monstro. Ele se debaterá, mas a História o prenderá no museu da
badalada ditadura. Quando o “pão e o circo” não forem mais oferecidos, a fome e
a dor convocarão as massas para ultrapassarem as barreiras do desprezado
destino.
Ademar
Bogo
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