Desde
a antiguidade, a humanidade compreendeu e ensinou para todas as gerações, que
há um tempo para tudo, de nascer e de morrer; plantar e colher; chorar e rir;
ganhar e perder; amar e odiar; falar e ficar e ficar calados. É uma maneira
simples de expressar que a história é feita de conflitos e, eles fazem lutar e sofrer
para tentar vencer.
O filósofo Baruch Spinoza, ao tratar da
natureza dos afetos, percebeu que o ser humano pode ser afetado de muitas
maneiras e, por isso, a sua potência de agir aumenta ou diminui. Diante disso é
que “a nossa mente às vezes age, outras vezes padece”. Por quê? as ideias
cultivadas na mente as vezes são adequadas e outras vezes adequadas.
Isso nos mostra que os afetos estão
intimamente ligados às ideias. As que são adequadas à solidariedade, ao
respeito e ao cuidado humano, fortalecem as relações afetivas. Ao contrário, as
ideias que estão vinculadas aos interesses privados, fortalecem o egoísmo, o
individualismo, a vingança e o ódio.Vejamos como as idéias inadequadas se
manifestam no presente e como elas perturbam e fazem sofrer.
No momento presente não há perigo nenhum
da emergência do comunismo no mundo. Isto porque, as forças de esquerda e
revolucionárias, mal existentes, que deveriam fazer essa defesa sabem que, pela
opção anterior de terem confiado excessivamente na institucionalidade foram dominadas
pela ordem; ocasionaram o rebaixamento da consciência política, o
enfraquecimento da organização social e partidária e a substituíram as
bandeiras radicais por outras mais amenas. As circunstâncias históricas, vistas
pelas condições subjetivas, não são favoráveis agora para que se efetive a
superação do capitalismo. Mas os capitalistas também sabem que, nas diversas
crises causadas por eles mesmos, ameaçam à concentração da renda, da riqueza e
temem pelo pior. Então, eles também se mobilizam, mentem e sofrem muito.
Sofrem porque percebem o perigo de
verem as suas riquezas paralisadas, serem diluídas ou atacadas sem nenhuma
proteção, nem dos trabalhadores que viviam dentro delas, nem do Estado, pela
redução que a ele impuseram. Por isso eles querem encerrar o distanciamento
social e obrigar os trabalhadores a voltarem ao trabalho, correndo todos os
riscos de serem contaminados pelo coronavirus.
Eles sabem, que pelos salários pagos
e pela exclusão social que produziram ao longo dos anos, 67% dos brasileiros
não conseguiram poupar nada e encontram-se sem nenhuma reserva financeira. E,
por isso, os donos das riquezas e os seus defensores, que há pouco tempo
reclamavam que o governo “não podia gastar mais do que arrecadava”, agora
correm, exigem que o mesmo governo continuador do golpe, libere alguma ajuda
aos que não tem renda. É porque mudaram a natureza dos afetos e tornaram-se
mais solidários com os pobres? Não. É para evitar que os pobres e os explorados,
diante da fome e da miséria virem os seus olhares para a riqueza que foi produzida
pelo trabalho coletivo, mas apropriada por sujeitos privados ao longo da
História.
É a esse medo, misturado com o ódio
que nutrem pelos pobres, negros e índios que eles chamam de comunismo; quando
deveriam ver como uma simples repartição e, anteciparem-se distribuindo
voluntariamente parte da acumulação indevida que fizeram. Mas, com as ideias,
mentirosas, confusas e inadequadas, preferem atacar as consequências e esconder
as causas, tudo porque temem a reação dos “bárbaros”, como são denominadas as
massas exploradas desde a queda do império romano. Nesse caso, é a barbárie que
devem temer e não comunismo.
Qual é a diferença desses medos? Na
barbárie há uma distribuição da riqueza espontânea, sem controle, criando na
sociedade uma insegurança geral. As instituições desaparecem e se instala o
processo no qual vale a luta de todos contra todos. Ninguém está seguro e não
há a quem recorrer para pedir proteção. Na transição do capitalismo para socialismo,
há também a luta de um lado contra o outro, porque os donos da riqueza resistem
em distribuí-la e utilizam o Estado para defendê-la; mas o processo é orientado
e controlado por organizações respeitadas que buscam beneficiar a todos os que
se colocam a favor e garantir que alguns valores da civilização sejam
preservados. Há o cuidado de instituir uma nova moral e os direitos são
igualmente garantidos para todos.
As forças de ideias raivosas e
inadequadas, ao invés de atacar devem torcer para que no meio das revoltas
espontâneas que no mundo brevemente surgirão, estejam ali as novas forças
socialistas e comunistas organizando as massas rebeladas, ou então, pagarão o
preço destrutivo da barbárie. É uma forma de afetividade forçada, mas foi o que
sobrou para oferecer para uma civilização que produziu os seus próprios
coveiros.
Sendo assim, para nós mesmos, não
basta apenas concordar e saudar o fim do capitalismo, é preciso preparar o que
virá depois, porque, temos dois inimigos a enfrentar: os que possuem as ideias
inadequadas e os que não possuem ideia alguma.
Que a experiência temporária dos
hospitais erguidos às pressas para atender a todos os atingidos pelo coronavírus,
ensine que, se as tragédias, igualam os ricos e os pobres, reunindo-os em um
mesmo ponto para salvá-los da morte com as mesmas mãos, a concordância cada vez
mais das ideias adequadas, deverá diluir e derrotar as ideias inadequadas a
favor do socialismo e contra a barbárie.
Ademar
Bogo
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