O ano mal começou e a política cobra de cada ato uma reflexão. Há indícios que a ignorância e a truculência imperem no ano de 2020. Mas, por enquanto não há motivos
suficientes para temer o início e a realização de uma guerra mundial, nos moldes como foram a
Primeira e a Segunda Guerra, quando, praticamente os países do mundo todo foram
envolvidos.
É importante considerar que, com o
término da Segunda Guerra Mundial, o mundo foi dividido, na época, em duas
partes, uma, influenciada pelos Estados Unidos e a outra pela União Soviética.
De lá para cá, sempre que algum país percebe algum risco ou ameaça recorre a um
dos lados que se coloca a favor e o protege. Essa prática vem continuando,
mesmo após a queda do muro de Berlim em 1989 e o desfazimento do bloco
socialista na década de 1990.
No entanto, o imperialismo
norte-americano, buscou, por meio da supremacia militar, influenciar os rumos
do destino político dos países desde 1945. Não vem ao caso, destacar em
detalhes, mas, nos últimos 70 anos, como se fosse um jogo de xadrez, nenhuma
peça, em termos de alternativas do uso da violência foi descartada pelos Estados
Unidos da América em suas intervenções.
No período em que vigorou a política
da “Guerra Fria”, havia uma reserva de cuidados em relação a qualquer
iniciativa a ser tomada, no entanto, a partir do colapso político sofrido pela
União Soviética, os Estados Unidos passaram a entrar no campo das disputas
políticas com maior desenvoltura e desrespeito.
O controle dos países “dependentes”
e subservientes foi estabelecido, a partir da Segunda Guerra Mundial, por meio
de diferentes táticas. Inicialmente lideraram as investidas de dominação, o
Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e outros. Grande parte dos
países, principalmente os da América Latina, foram induzidos a contraírem
dívidas que se tornaram impagáveis. Sentindo as ameaças das reações populares,
uma “rodada” de golpes militares foi arquitetada e, diversos países viram as
suas “democracias” serem substituídas por ditaduras militares, da noite para o
dia. Duas décadas depois, devido ao desgaste administrativo das ditaduras, o
império monitorou as aberturas políticas assegurando a ordem capitalista, até
que, por necessidade política a partir de 2010, principiaram a quebrar a ordem
antes válida para eles e, diversos governos foram destituídos com a manipulação
das leis, vários deles foram obrigados a renunciar aos mandatos, e, outros,
levados a julgamentos e condenados nos tribunais.
No caso do Oriente Médio, as
intervenções do imperialismo norte-americano foram mais incisivas. As guerras e
intervenções, com o objetivo de assassinar lideranças importantes como: Saddam
Hussein (2006); Osama Bin Laden (2011) Muammar Al-Gadaffi (2011), para citar
alguns, em busca de controlar a região para dominar exploração do petróleo.
Nesse momento, mais do que perguntar
“se haverá a terceira guerra mundial?”, é importante analisarmos as
consequências das políticas intervencionistas que deixam para trás estados de
barbárie instalados e que nunca mais voltam à ordem anterior. Por que não se
estabilizam os países após a derrubada dos governos e as relações sociais se
desarmonizam ainda mais? Pela visão intervencionista norte-america que, apesar
de manter a atenção no funcionamento dos governos locais, investe na formação
de “poderes paralelos”, paramilitares, que se encarregam de fazer o controle
por meio da manipulação das reações populares ou pela perseguição e execução
dos desafetos.
Nesse sentido, enquanto essa
estratégia intervencionista funcionar, “não interessa” aos Estados Unidos a declaração
oficial da Terceira Guerra Mundial. No entanto, há processos profundos em
andamento que afetam o mundo todo e, se não caracterizam a “Terceira Guerra,
podemos considerar como batalhas abrangentes em torno de interesses
particulares com consequências universais. O exemplo mais ilustrativo a esse
respeito é a disputa pelo petróleo que, nos últimos anos, vimos ocorrerem
conflitos no Brasil, com o golpe contra a presidente Dilma, a tentativa de invasão
da Venezuela para derrubar o presidente Nicolás Maduro e a presença continua e
criminosa do imperialismo no Oriente Médio, no Iraque, na Síria e Afeganistão.
Temos ainda os conflitos comerciais em andamento e a especulação financeira.
A tendência para os conflitos
continuarem localizados ou não, depende das potencias contrárias, que sempre
agiram em termos de estabelecer limites, até onde a intervenção pode ir, em
termos de implementação das vontades imperiais, mas isto não alivia e nem
controla o avanço do estado de barbárie que vai sendo instalado em cada lugar,
aumentando assim o sofrimento de milhões de pessoas que buscam refúgio em outras
partes do mundo ou morrem vitimas da violência local comandada pelas milícias
armadas.
Nesse sentido é que importa
considerar que a guerra, sendo ou não mundial, não está distante de nós. Com
características próprias, ela ocorre ao nosso redor no mesmo grau de violência
da guerra oficial estabelecida. Se compararmos a guerra da Síria, em que
estiveram presentes as forças estrangeiras da Rússia e dos Estados Unidos,
principalmente, de 2011- 2018 foram contabilizadas 511 mil mortes. No Brasil,
entre os anos de 2006-2016 foram assassinadas 543 mil pessoas. Isso representa
uma taxa em torno de 32 mortos para cada cem mil habitantes. Essa taxa feita
com todos os países da América Latina chega a 19,2 pessoas assassinadas por
cada cem mil habitantes.
Os capitalistas por meio da mídia,
incluindo aí as redes sociais, ao longo do tempo vêm criando a cultura do
extermínio em massa em nome da segurança pública, mas não o fazem
responsabilizando o próprio capital que é a causa geradora das desigualdades
sociais, responsabilizam os pobres e dentre eles os negros.
Junta-se a isto, a base fundamental
do pensamento intervencionista do imperialismo que é enfraquecer a organização
política e rebaixar o senso crítico da população para que não consiga
diferenciar o verdadeiro e o falso nas informações que formulam e divulgam. Investe
em referências sentimentais e saudosistas como é o caso da família, da pureza
sexual e da religião, quando na realidade tudo é feito em nome do mercado.
Se a solução para os capitalistas é
a guerra e a violência, para os povos a solução é a união internacional, para
que, as forças que comandam as mesmas políticas globalizantes sejam combatidas,
ao mesmo tempo em todos os lugares do mundo. A paz sonhada, está intimamente
ligada à superação do capitalismo.
Ademar
Bogo
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