Desde que o filósofo francês
Voltaire, na segunda metade do século dezoito, escreveu na Enciclopédia o
conceito de partido, não apenas as facções anteriores começaram a ser
superadas, como também as classes perceberam que a política se faz com
organização.
Até então a palavra e a forma
organizativa, compreendidas como “facção” eram negativas e continuaram sendo,
porque a política era comandada pela figura do “soberano” ou do “príncipe”, por
isso, qualquer tentativa de desacordo com a ordem era motivo para a repulsa e a
perseguição.
A facção, segundo Voltaire era uma
organização sediciosa, ou seja, um grupo de indivíduos amotinados para lutarem
contra o todo da sociedade, mas, principalmente, por defenderem os próprios
interesses e os interesses de uma minoria à qual representavam.
Ao tomarmos mais a fundo a
etimologia da palavra “facção”, vemos que ela deriva do verbo “facere” (fazer ou agir), nesse caso, um
fazer perturbador, de natureza bruta e perversa. Ao contrário de “partire” que embora no latim signifique
“dividir”, não age maldosamente nem prevarica contra o todo, mas age
organizadamente para a busca do bem comum. Entendido como parte, a palavra
“partido” jamais foi estigmatizada, porque a “parte” pertence ao todo e, por
ser descendente dele, tem todas as suas características e, por isso, mesmo que
o todo não esteja fisicamente contido na parte, pode envolver a parte para que
ela o qualifique.
O partido ganhou mais evidência no
século dezoito quando as classes sociais adquiriram as características
revolucionárias, primeiramente com a própria burguesia que conduziu e efetivou
a Revolução Francesa, feito antes nunca visto na História. Mais adiante, no
século dezenove, os próprios trabalhadores, em meio às disputas ocorridas nas
Revoluções Liberais da Europa, entre 1930 a 1952, Karl Marx Friedrich Engels
propuseram para os trabalhadores, a alternativa de eles mesmos criarem o
partido político que tivesse natureza universal. Ou seja, seria a “parte”
organizada para agir a favor da humanidade.
Na medida em que a burguesia
estruturou o modo de produção capitalista e criou o Estado para assegurar o
funcionamento da ordem legitimada pelos preceitos republicanos, o partido
passou, quando apresentado à sociedade, a ser visto positivamente, com duas
obrigações: servir de instrumento para eleger os representantes da sociedade e,
governar segundo o programa de governo, também apresentado no período das
disputas eleitorais.
O que ocorreu ao longo dos tempos? Basta
olharmos com um pouquinho de atenção para percebermos que, após eleitos, os
governantes abandonam os partidos e transformam a estrutura administrativa em
uma verdadeira “facção”. Agem fundamentalmente a favor das partes que estão
ligadas à propriedade privada ou ao grande capital. Quando agem “a favor” do
todo, não deixam de favorecer as partes que representam o poder econômico e os
interesses da classe dominante que exigem a colaboração do Estado para a
própria preservação.
Na medida em que os partidos
políticos foram confirmados como representantes legais, geralmente de
indivíduos que, avulsamente se filiam para fortalecer certas intenções, ficaram
cada vez mais parecidos com as facções que visam subverter as instituições,
aparelhando-as aos interesses grupais. Nesses postos surgem os profissionais da
política e se empenham em criar e defender o próprio sistema de poder com um
código de ética próprio.
Como no passado, podemos considerar
que as facções agem contra o todo de duas maneiras: a) mesmo servindo os
próprios interesses e aos grupos dominantes, presta alguns serviços mantendo os
direitos já existentes e, b) anula os direitos garantidos, em nome da
manutenção da ordem e aprova leis mais duras para impedir que o todo se
manifeste contrariamente.
Grave e preocupante é quando, por
causa dos desentendimentos internos, uma facção se divide em duas e, mais grave
ainda, é quando uma das duas, a mais radical, sediciosa e perversa, fica com o
poder governamental e garante-se por meio aparelhamento das forças militares e
paramilitares.
O que estamos presenciando no Brasil
é a afirmação de uma facção que figura no espectro partidário com o nome de
“Aliança” composta entre parlamentares, militares, grupos paramilitares,
setores parasitas da economia e da mídia religiosa que enfurece os seus fieis
em nome da família, da pátria e da ideologia capitalista. Na história, facções
com essa natureza, foram poderosamente destrutivas e, mesmo que prevaleceram
por um curto espaço de tempo deixaram marcas tão profundas, que somente os
alucinados podem defender a volta dessas imitações.
O pragmatismo sem teoria e
alimentado por valores conservadores, faz a política adotar uma linguagem
bárbara, ofensiva e depreciativa. É o retorno às fases primárias da formação da
estrutura comportamental, quando a criança tem prazer em brincar e comer as
próprias fezes. Essa linguagem bruta quer legitimar atitudes brutas para gerar
o máximo de prazer, mesmo que causem dores e vergonha à maioria.
O partido enquanto parte consciente
e que luta a favor do todo, ainda deverá ser construído. Mas é urgente que seja
para impedir que as facções destrutivas, mesmo que compostas pela ínfima
minoria triunfem sobre o todo, impondo, pelo terror, no reino das facções, a servidão silenciosa.
Ademar Bogo
ótimo texto somente uma correção, Marx e Engel aturam entre 1830 a 1852, e não como esta no texto de 1930 a 1952. Precisamos construir um partido de novo tipo, antes que os fascista avance sobre a consciência de nosso povo
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