O filósofo Nietzsche ao falar de Zaratustra
que ouvia o “adivinho”, o qual dizia que, “espalhou-se uma doutrina e com ela circulou
uma crença: tudo é vão, tudo é igual, e tudo passou! E das colinas o eco
respondia: Tudo é vão, tudo é igual, tudo passou!”
Tão importante quanto a doutrina é o eco
da doutrina. Ela repete após bater em todas as colinas, principalmente naquelas
que guardam a dureza da ignorância. E, os males da doutrina, se são perversos
quando ela vai, muito mais perversos são quando ela volta, trazida pelo eco.
Então o eco doutrinário retorna dizendo
que: “tudo é vão”, ou seja, “tudo é vazio”, nada há na doutrina que seja
aproveitável e, quando o eco bate nas consciências, nada deixa de bom, apenas
ódio, medo e preocupação. No instante do toque, o vazio é preenchido com aquilo
que não faz sentido, mas se constitui em tragédia que ocupa o espaço com o
sofrimento.
Depois, “tudo é igual”: a violência “ideal” e
a violência “real”. A violência ideal é aquela que as ideias praticam a apologia das armas, o preconceito, o racismo etc. Como
disse Aristóteles: tudo o que existe na realidade passou antes pelos sentidos.
A doutrina é composta por ideias. A violência antes de ser real é pensada,
planejada, “miliciada”, executada e disfarçada. A doutrina oficializa as armas,
o eco seleciona aqueles que apertam os gatilhos.
E, por fim, para a doutrina, “tudo
passou” porque livraram-nos do socialismo. E nós dizemos que nem tudo passou.
Há repetições e recriações, isto porque, só passou aquilo que passou, mas não
passou aquilo que virá; porque o eco da doutrina volta com soluções, como esta
que, “É preciso armar os professores”. O dia que sobre a mesa do professor
houver uma arma ao lado de um livro, as escolas tornaram-se presídios ou
importantes barricadas. Por isso, nada passou se o eco ainda não cessou.
Mas a doutrina segue pelo eco da
mentira. Tudo é falso, menos a falsidade. Há poderes pequenos que crescem
quando afirmam a sua independência e há poderes que decrescem quando se
submetem. Porém, há poderes que se arrasam quando fazem do atraso a doutrina da
sua condução.
Assim sendo, a “terra arrasada” é ainda
mais perigosa de quando estava se arrasando. Os ecos da violência e das
políticas destrutivas repetem-se sem parar. A ignorância nunca foi boa
companheira da sabedoria e sempre piora quando ela se alia à mentira. A mentira
doutrinária não é um engano. Enganar-se é um ato natural. A mentira é
propositalmente construída. Ela quer dizer somente o falso.
Uma política mentirosa é também enganosa
porque induz a pensar com sinceridade, aquilo que é proposto para satisfazer os
interesses dos doutrinadores. Então, defendem as reformas e o combate à
corrupção, como saídas para superar as crises. O interessante é que reformam
apenas aquilo que afeta os direitos sociais e, para fazer tais atrocidades,
compram voto a voto dos “representantes”, não do povo, mas dos grupos constituídos
e doutrinariamente prostituídos.
Por outro lado, nos porões da República,
ninguém fala que irá “reformar a dívida pública”; esta precisa ser paga, dizem
eles. Há que privatizar o que ainda resta, para pagar aos grupos “mais
necessitados” entre os capitalistas, que estão ansiosos para ampliarem os seus
acumulação.
A doutrina da dependência não passou;
pior, voltou a enraizar-se ainda com mais força. A dependência é válida quando
há trocas solidárias. Quando há apenas um instinto de grandeza em jogo é uma
escravização. Nada mudou do colonialismo ao imperialismo; dá-se ao dominador
aquilo que ele precisa para sanar as suas deficiências. E, a justificativa é
que é preciso aliar-se a quem tem a mesma ideologia.
Sobre isto, a ignorância não estaria ao
todo errada, se o mundo não vivesse a economia de mercado. Daí é que, o
princípio capitalista diz que, não importa se um bêbado, um doutor, um árabe ou um
cristão queiram trocar dinheiro por mercadoria; é a quantidade de valor que
realiza as trocas e não a ideologia de cada um. A
questão é saber se o mundo governado pelas mercadorias respeitará a doutrina
fascista, racista, homofóbica etc.?
Por outro lado, ingenuidade tem hora. Os
opositores não os enfrentarão os doutrinadores correndo atrás das pautas
secundárias. O projeto de enfrentamento ao imperialismo tem que estar
fundamentado na teoria socialista e não nas reformas capitalistas. Mas, o que
vemos, é o desejo de aconselhar e defender os capitalistas que poderão ter
prejuízos causados pelos equívocos doutrinários, que distanciam os árabes, os chineses,
os indianos e outros mais, dos produtos de exportação.
Tal qual disse o diabo a Zaratustra:
“Deus também tem seu inferno.” O nosso é doutrinariamente e materialmente
construído pelos dominadores. É preciso evitar entrar nele para não ter que gastar
tempo para sair. O tempo a ser gasto é para mandar o inferno para o inferno.
Para isso é preciso infernar os infernizados pelas máscaras das tragédias e
doutrinas mentirosas com ações. É fazer com que a maioria saiba se convença que
somente ela pode se governar.
Ademar
Bogo
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