Antônio Gramsci ao caracterizar a
grande e a pequena política, nos mostrou que, enquanto a primeira é alta e luta
pelo engrandecimento das estruturas econômicas e sociais, a segunda é baixa e
se atém às questões parciais e cotidianas com permanentes disputas entre as
diversas frações da mesma classe dominante. Valem tais qualificações também
para o relacionamento internacional. Enquanto a grande política presa pela
estatura de cada Estado para realizar as disputas entre os mesmos, a pequena
política não faz nenhum esforço para zelar por sua autonomia e o equilíbrio
entre as forças.
Compreendemos que, se existem a
“grande” e a “pequena” política, é porque também existem grandes e pequenas
nações. Quanto à grande nação, já não a reconhecemos e, da pequena, podemos
dizer que ela está encolhendo. O motivo é porque a política internacional
adquiriu os hábitos da pequena política e, internamente, passou a figurar como uma
“política pequena”.
Na política pequena, o sujeito
político é indeterminado. Não é a classe propriamente que se articula por meio
da coesão das ideias, nem há o indivíduo que se levanta como um estadista capaz de
direcionar um programa articulado. Nesta política aquele que deveria ser o
maior apresenta-se como o mais desqualificado.
Na política pequena, a família está
acima do partido político, da estrutura de poder e dos interesses políticos da
classe fracionada, pelo ódio, ansiedade e insegurança. É na política pequena
que o pai toma as dores dos filhos e os filhos tomam a posição do pai para
emitirem opiniões desastrosas; jogam farpas ao invés de palavras contra os
potenciais aliados, para forçá-los a enquadrarem-se no padrão de comportamento concebido
no recinto do lar maior.
Na política pequena, o “governante
maior” é tutorado e, mesmo assim, devido ao despreparo intelectual, quando se
comunica comete desatinos com as palavras. Geralmente fala pouco, mas quando
fala pela manhã, obriga-se a lançar uma nota de esclarecimento à tarde para
desmentir o que afirmou.
Na política pequena, o governo não
tem programa, tem travessuras a cumprir. As travessuras são ataques contra os
sindicatos, os aposentados, os professores, aos jovens que morrerão pelo
policial que atirará protegido pelo indicador da “legitima defesa”; é o xingamento aos imigrantes locais que vão trabalhar no território do império etc.
Na política pequena, as relações
internacionais transformam-se em visitas cujas mãos vão carregadas de
presentes. Leva-se a liberação de vistos sem nada pedir em troca; uma base de lançamento de satélites;
os joelhos para louvar o imperador e uma camisa com o número dez para dizer que ele, no jogo intervencionista é o melhor jogador do mundo.
Na política pequena, os Bancos
comandam as reformas e o governo emite dois tipos de carteiras de trabalho: azul
e verde e amarela. A primeira é para aprovar o engano imediato, a segunda, para
aprovar o engano futuro. No fundo valerá para os dois tipos, o direito a disputar
uma vaga de trabalho intermitente que obrigará a completar, com uma parte do
salário, a contribuição para a previdência privada gerenciada pelo capital
financeiro.
Na política pequena, os ministérios
“guaipeca” latem muito no pé da goiabeira, para distraírem as atenções e facilitar os buldogues
abocanhem a economia e a justiça imponha leis e reformas favoráveis à visão
esconjurada pelas pessoas conscientes.
Na política pequena, o parlamento e
o poder judiciário devem marchar o passo do executivo estabanado. Daí o perigo
do princípio do “vale-tudo” avalizar a prática das chantagens, das intimidações,
prisões encomendadas e das promessas de possíveis fechamentos dessas instituições.
A política pequena é estreita, cada
vez mais engessada pelos próprios movimentos, medidas e falas. Como em um jogo
de baralho, a política é feita por “rodadas”. Se no jogo o perdedor se endivida
com dinheiro, na política endivida-se com a perda da autoridade e com a baixa
popularidade. Estamos no início da perigosa rodada da reforma da previdência;
podemos estar no início do tremor que poderá pôr abaixo a autonomia do
Congresso Nacional com o seu fechamento pelas forças armadas que tutoram o
governo, para impor a reforma por decreto; ou pelas mesmas forças derrubarem o presidente da República
substituindo-o pelo vice e implementarem um outro método de relacionamento e de reunião de forças. O que definirá uma opção de outra será o tempo da demora para jogar cada carta. Mas o certo é o certo, ou o partido armado se desmoraliza junto com o decadente político.
Ao povo não cabe a política pequena
desbocada, nem a pequena política educada. A luta é para afirmar os direitos e pôr
barreiras à presença imperialista em território nacional. A pátria livre começa
pelo simples gesto de levantar a cabeça em direção para onde seguirá a marcha.
Ademar
Bogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário