A história da “democratização” da
participação política no país, iniciada já nos primeiros dias do Golpe Militar
de abril de 1964, passou por diversas fases e adquiriu diferentes características
e formas. Sem pretender dissociá-las como se fossem marcos divisórios pois
seguimos o entendimento dialético de que tudo se relaciona; para fins didáticos,
resumimos em três partes: a) resistência armada, b) sindical reinvindicatório e
c) político eleitoral.
A resistência armada em meio a um
estado de exceção, em que as garantias políticas foram subsumidas pelo totalitarismo
militar, apesar de não ter obtido os êxitos esperados, mostrou que as formas
organizativas podem, em cada época, adaptarem-se às exigências conjunturais.
Do mesmo modo as lutas com
predominância reinvinditória e nelas podemos contemplar desde as mobilizações
pela anistia, eleições diretas e a instalação da Assembleia Nacional Constituinte,
que escreveu a Constituição de 1988, até as conquistas salariais, distribuição
de terra e os direitos sociais, isto porque, sempre procuraram alcançar uma
colocação melhorada na ordem econômica, social e política, sem mexer na
legitimidade dos poderes, quando muito, pela conciliação, buscaram a participação
ou a substituição de personalidades nas funções públicas.
Por fim, sem desmerecer os avanços,
temos a desastrosa fase da alienação do processo eleitoral. Alienação porque,
aos poucos foram sendo desdenhadas todas as demais formas e tornada hegemônica
essa via que engoliu, a militância, a força das organizações e a respeitabilidade
moral.
Costumeiramente, nos momentos de
crise, as partes mais respeitadas das organizações, discutem a “refundação” que,
para os ouvidos críticos soa como “reiniciação”. É verdade que, quando se está
no fundo de um poço, não se pode descartar nenhuma iniciativa, a não ser aquela
que instiga a afundar-se ainda mais.
É importante considerar que os
instrumentos, assim como as táticas ou formas de luta, têm seus tempos de uso
ou prazo de validade e, então, precisam ser renovados. Ou seja, se a luta
armada teve seu auge até meados da década de 1970; a luta sindical vigorou até a
década de 1990 e, o processo eleitoral, em plena decadência organizacional, até
2010, sem dizer que elas não possam estar presentes nem que jamais venham a serem
úteis, mas devem ser avaliadas se hoje servem para um recomeço.
A pergunta formulada em 1902 por
Vladimir Lenin, após três anos de desterro, deixando ainda a cumprir pena toda
a direção do partido, foi: “Por onde começar?”. Respondeu em três sentidos: a)
discutir o caráter e o conteúdo da agitação política b) estabelecer as tarefas
de organização c) elaborar um plano para a construção de uma organização de
combate para toda a Rússia, dirigido para os diversos fins.
Sem limitar a criatividade nem
dogmatizar as indicações do dirigente russo, verifiquemos que, quem hoje faz a agitação
política é a mídia, apoiada pelo poder judiciário. De nossa parte, um “fora
temer” ou “eleições diretas”, não nos tira do poço da fraqueza das ideias.
Segundo, as tarefas de organização que não se desligaram das táticas sindicais
e eleitorais, não podem elevar as iniciativas para além do próprio esgotamento.
E, por último, não pensar em uma organização, ou formas de organização,
preparadas para atingirem os diversos fins, dentre eles o poder, é de fato
cavar ainda mais as profundezas da situação da agenda negativa.
Chega a hora de avaliar se, “refundar”,
não seria “refutar” as crenças que serviram para matar a utopia, depois as
opções manipuladas que iludiram as gerações que o caminho da conciliação seria
menos cansativo e, por fim, as formas de organização que, como os talheres na
mesa da política, cada um tem uma só função? Pense, antes de reagir, mas pare
de cavar esse buraco que já não faz História!
Ademar Bogo. Filósofo, escritor e
agricultor; autor do livro: A linguagem das mercadorias em Marx.
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