Qualquer indivíduo um pouco ilustrado em Filosofia tem
domínio geral sobre a história de Édipo que, após matar o pai em uma estradinha
estreita, próximo à Tebas, para onde se dirigia, ao chegar próximo da entrada
principal da cidade, foi interrogado pela esfinge, sobre quem de manhã andava
de quatro, ao meio-dia com dois e, ao entardecer com três pés, ele respondeu
corretamente, o ser humano e ela implodiu. A vantagem é que Édipo havia sido
treinado por Políbio, seu pai adotivo, no reino de Corinto e possuía elevado
grau de formação intelectual, por isso conseguiu orientar-se com determinação.
Na atualidade vivemos o novo tempo das “esfinges” e, nos
balanços políticos feitos para avaliar o ano todos tentam responder a pergunta
sobre o “por que as lutas de classe não avançam?”. As respostas geralmente são
erradas ou incompletas. Se fosse em Tebas, não somente o analista seria
sacrificado, como também a sua organização, a sua classe, o seu movimento e,
posteriormente toda a população de sua cidade ou de seu país.
O fato se deve à péssima formação de muitos analistas que
se apresentam como materialistas, mas, ao invés de conduzirem a análise com o
método dialético, expondo categorias que realmente representam a totalidade da
situação atual, tornam-se reféns das artimanhas metafísicas, principalmente
quando tomam a parte como se fosse o todo e, invertem a ordem, elegendo ponto
de partida os reveses e as soluções institucionais nos países mais atrasados.
Dizer que o capitalismo está em crise não é nenhum achado
inovador. Nem mesmo tomar isoladamente a economia como referência, o movimento
dos capitais, depois o Estado, com os seus governos e as implicações antiéticas
dos diversos comportamentos pessoais etc., não são ponderações que ameaçam a
esfinge amedrontadora. A economia é consistentemente capital, este é imediatamente
político por isso, a sua estreita relação com o Estado que, por sua vez,
sustenta a ordem jurídica e repressiva. Essa sequência articulada compõe o
imperialismo comandado pelos países mais desenvolvidos.
A visão comunista desde Marx e Engels é de que, a
totalidade é uma categoria fundamental a ser observada quando queremos analisar
profundamente a realidade universal. Embora o próprio Marx ao analisar a
evolução histórica dos modos de produção, ao chegar no capitalismo não
homogeneizou todos os continentes, ao contrário, atribuiu à Ásia um modo de
produção próprio. No entanto, para fins de aprofundamento, tomou a formação da
riqueza nos países mais avançados e situou-a nas formas: mercadoria, dinheiro e
capital.
Entender que, se o capital mesmo com as economias em
“crise”, continua sendo acumulado, porém com conflitos, mais fora do que dentro
da luta de classes, significa dizer que estamos a mercê das potências
capitalistas. Portanto, não há justificativas: se não há lutas e enfrentamentos
importantes, dos trabalhadores contra o capital, estamos errando. Hoje com
maior clareza sabemos vemos o capital atuando organicamente, por isso a sua denominação
universal é conhecida como “imperialismo” e, este, não separa economia de
política, nem a guerra da acumulação ou a antiética dos desejos de dominação. Sem
sombra de dúvidas, o capital ameaçador, da Rússia, da Venezuela, da palestina, dos
povos originários brasileiros etc., é o
mesmo.
Quando falamos em “crise do capitalismo” devemos lembrar
que assim está desde 1873 quando, após as revoluções liberais na Europa, a
superprodução abarrotou os mercados de produtos; naquele momento os próprios
produtores de mercadorias não possuíam renda suficiente para adquiri-las. Marx
em seus estudos revelou que as crises são cíclicas e inevitáveis. Mas isto não
significa que elas por si mesmas venham asfixiar o modo de produção. Em
completude ao raciocínio o filósofo István Mészáros, indicou a tarefa de
superarmos o capitalismo, para tanto apontou a necessidade de controlarmos o
capital. Mas qual capital? E como fazer?
Já temos o diagnóstico de que o capital se move dando forma
ao imperialismo, no entanto, parece não ser este o entendimento dos analistas e
líderes políticos afoitos em defenderem os governos liberais dos seus países.
Mais do que combater o capital o buscam para gerarem empregos; cedem a ele as
riquezas naturais, principalmente o petróleo antes que surjam outras fontes de
energia e, atuam politicamente, agarrados aos orçamentos de olho nas
“responsabilidades fiscais” sem se importarem se, mesmo que involuntariamente, estejam
cumprindo o papel, como faz qualquer trabalhador assalariado, quando ajuda
naturalmente a formar a acumulação do capital.
Para estabelecermos o caminho do combate e inovar as lutas,
precisamos verificar as táticas e as estratégias dos inimigos dirigidas contra
nós. É notável que o domínio hegemônico do poder universal está se deslocando
dos Estados Unidos da América para a Ásia e, com isso, muitos partidos de
esquerda e movimentos sociais abraçam com simpatia essa ascensão chinesa, como se
fosse uma força aliada para a superação do capitalismo. Ninguém se pergunta,
como a China está se impondo contra as forças econômicas atuais para tornar-se
um novo poder imperial? A resposta é simples: pelo capital e pelas disputas dos
mercados mundiais. A confiança de que a ordem na China está sendo comandada
pelo Partido Comunista, único, não é nenhuma garantia de bondade. Na medida em
que a base econômica privada se fortalece, ela terá mais força que a
superestrutura política e jurídica.
Há um gasto excessivo de tempo em análises locais. Em
vista das disputas eleitorais vindouras, “doença senil da esquerda”, os
olhares, por algum tempo, não verão o capital imperialista, enxergarão apenas o
município. No entanto, verifiquemos como o império age dando-nos o indicador da
importância universal. Quando um país se levanta em defesa de seus interesses,
de imediato formam-se articulações internacionais, para bloquear e isolar com
pesadas punições a nação rebelada. Assim ocorre com Cuba, Irã, Rússia,
Venezuela e diversos outros países principalmente os produtores de petróleo. Por
outro lado, as forças de esquerda nos governos, pregam apenas a Paz e a
reconciliação. Pedem dinheiro para defenderem as florestas aos mesmos que
exploram o ouro e a madeira. Eles compram a carne bovina e a soja extraídas das
pastagens e das lavouras extensivas postas no serrado e na Amazônia.
A doença senil da esquerda apegada aos processos
eleitorais leva a crer que, por meio da institucionalidade se alcançará a
justiça e a igualdade. No entanto, todas as reformas impostas e, a cada Projeto
de Emenda Constitucional -PEC – arrastam para fora do alcance dos mais pobres
os direitos fundamentais, sem que os representantes políticos, endeusadores da
ordem democrática de direito, possam reverter aquilo que é estrutural. O último,
mais grave e vergonhoso retrocesso vimos na aprovação do projeto de lei 490,
conhecido como “Marco temporal”, no qual, os povos nativos perderam o direito de
demarcarem as novas áreas reivindicadas. Nem o parlamento, nem o executivo com o
seu poder de veto, conseguiram impedir tal afronta.
Com a visão metafísica da realidade, o corporativismo
tomou conta das consciência e, os fiapos de categorias e classe organizadas em
torno de velhas práticas, atuam em defesa de grupos também corporativos e, os
partidos e forças políticas nos governos, demonstram muito timidamente, apoio às
lutas mais aguerridas como é o caso do apoio e ação solidária com o Hamas e o
povo palestino, quando na verdade é o momento de bloquear e isolar Israel para
enfrentar o imperialismo, calam-se em nome do “direito a cada nação de se
defender”.
Para avançarmos no próximo ano precisamos superar três
referências: a) o velho conceito de classe social para impulsionar lutas por
meio das forças sociais; b) descartar os partidos institucionalizados ou
mantê-los reduzidos às ações que correspondem à ordem se alguma disputa for
interessante; para tanto necessitamos de novas formas de organizações
revolucionárias; c) atacar todas as formas de capital em qualquer lugar que
eles estejam, interagindo com forças ascendentes em qualquer parte de mundo como
se fossem lutas locais.
Não haverá superação enquanto primarmos pela Paz e pelo
respeito aos capitais dominantes no planeta. Qualquer tentativa de conciliação
significará a colaboração para que as estruturas de dominação continuem a fazer
o que fazem.
Ademar
Bogo
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