Todo ano o mês de outubro sempre chega trazendo e revivendo
as suas marcas históricas. Na política, destaca-se Ernesto Che Guevara e a
lembrança de que, é preciso investir na formação do “homem novo”. Na religião destaca-se
o dia da padroeira Aparecida, motivadora da unidade nacional, do respeito às
mulheres, do combate ao racismo e, acima de tudo, nos ensina a praticar da
tolerância. Ainda temos a exaltação das crianças e a homenagem aos professores
e professoras responsáveis pela escolarização de todos. De um outro modo, no
mesmo mês, a cada dois anos surge o embate político das disputas eleitorais.
Essas referências concentradas criam diferentes reações,
protestos, festejos e comemorações. No entanto, a política e a educação resguardam
as mais intensas emoções. Nas mensagens que vão e que vêm destacam-se as ideias
conscientizadoras ou o seu contrário. Paulo Freire é o preferido. Em seu livro “Pedagogia
do oprimido” publicado nos primeiros anos da instalação da malfada ditadura
militar no Brasil, destacou que: “(...) o educador já não é o que apenas educa,
mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com a educação que, ao ser
educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em
que crescem juntos e em que os argumentos de “autoridade“ já não valem(...)”.
Esse processo inicia com as crianças antes mesmo de se porem em pé, quando são
levados para as creches e círculos infantis. Depois avançam nos próximo períodos
e chegam, não todos, à diplomação universitária.
Deveria
ser assim também na política. O político deveria ser também um educador e
educar-se enquanto exerce a sua função. No
entanto, essas relações de profundo respeito ou desrespeito, formam aprendizados
com diferentes formas e conteúdos; principalmente quando a antipolítica, com
seu faro mofo, busca restringir a universalidade educativa para os cubículos
estreitos da moral conservadora, de interesse mesquinho e ideologia perseguidora
dos oponentes.
Para
verificarmos isso, basta tomarmos o tema da discussão da sexualidade nas
escolas. É um assunto separado, deixado e intocado também nas religiões. Afasta-se
a criança do entendimento sobre o seu próprio corpo, como se afasta o corpo da
proximidade do fogo. Não se fala de sexualidade como não se brinca com fogo.
Sigmund Freud em 1905 ao escrever os “Três ensaios sobre a sexualidade”, entrou
profundamente no tema da sexualidade infantil e revelou que, popularmente acredita-se
que a pulsão sexual está ausente na infância e só aparece no período da
puberdade. E dirá que este é um equívoco causador de graves consequências.
Então nos mostra que, “Ao mesmo tempo em
que a vida sexual da criança chega a sua primeira florescência, entre os três e
os cinco anos, também se inicia nela a atividade que se inscreve na pulsão de
saber ou de investigar”. Quem a impede que investigue? Os moralizadores
tementes aos próprios medos, recalques e complexos. O que ganham com isso? Uma
juventude com desajustes na formação individual que ignora o funcionamento dos
próprios sistemas físicos e mentais.
A
política é tão preciosa quanto é a educação. Ela deveria preservar os ouvidos
das crianças evitando que ofensas, palavrões, calúnias, mentiras e todos os
tipos de agressões fossem expostas nos programas eleitorais. O cristão que vai
à Igreja e em casa vigia as crianças para que não acessem temas pornográficos
na internet e segue à risca as orientações de impedir que os filhos assistam programas
impróprios para as suas idades, não tiram as mesmas da sala quando o programa
eleitoral de seu candidato é exibido no horário nobre. Se as crianças nas
escolas praticassem o que dizem e fazem os políticos e muitos agentes públicos,
transformariam as escolas em redutos do crime organizado.
Em tudo isso, importante
é compreender que a educação é fundamental para que uma sociedade se desenvolva;
por isso a exigência para termos boas escolas, juntamente com a valorização dos
professores e professoras. Mas não se educa para viver apenas dentro da escola.
Na medida em que fora da escola
praticam-se formas educativas desajustadas e se reproduzem conhecimentos, na
política, nas igrejas, no mercado etc., avessos à verdadeira libertação, a escola será vista
como um aparelho a ser direcionado para satisfazer os interesses do consumo e
da domesticação moral.
Em
tempo de campanha eleitoral, um candidato que promete investir em educação e na
fala seguinte, ao invés de demonstrar como ele próprio é educado, desanda a
destratar, ofender, criminalizar, rebaixar etc. os seus oponentes, no intuito
de acirrar ainda mais o ódio já disseminado, não pode estar falando sério.
Evidentemente,
acreditamos que em todas as relações existem contradições, mas da forma como
estamos vendo, o conteúdo das campanhas eleitorais, fez do rebaixamento um
dicionário de palavras ruins que servem apenas para demonstrar que estamos
vivendo uma profunda crise da civilização.
Precisamos
retomar os princípios da civilidade e fazer com que a linha de conduta siga os
interesses do Bem comum. Enquanto o político xinga e a população aplaude estaremos
sempre mais próximos de acreditarmos que a ignorância é de fato o nosso
destino. A prática do “bateu levou”, é o
sinal de que, se não somos, parecemos ser todos iguais.
Uma
população eleva o seu nível de consciência se na convivência social escuta e
expressa palavras que formam a consciência. Tal qual como ocorre com a criança
que ao nascer e encontra o sistema linguístico pronto e precisa aprendê-lo para
se comunicar, ocorrerá com as futuras gerações que deverão governar o país. Se
aprendem com os políticos que politica se faz com baixarias, rebaixam-se e verão
as contradições apenas no nível das ofensas.
Ademar
Bogo
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