Talvez a dualidade de poder não seja o melhor título. Lênin em abril de 1917 se deparou com tal situação e, ao considerar as tarefas que tinham pela frente, expressou que “a questão fundamental de toda a revolução é a questão do poder do Estado. Sem esclarecer esta questão nem sequer se pode falar em participar de modo consciente na revolução, para dirigi-la”. Não que estejamos no mesmo patamar revolucionário da Revolução soviética, mas se lá a dualidade de poderes estava circunscrita entre o governo provisório e o movimento operário dirigido pelos bolcheviques, aqui a dualidade se encaminha para ser a disputa entre o poder civil e militar.
Da forma como estão andando as
articulações, o debate aparente sempre foi de observar o movimento de um
candidato da chamada “terceira via”. No entanto, esta alternativa, desde o
início não se destacou entre os dois pólos em conflito; foi aniquilada pela
falta de espaço, isto porque, o sonho de que poderia haver uma “posição de
centro” era ilusória, as duas forças, desde as eleições de 2018, vêm puxando
para si a quantidade inexpressiva dos eleitores
que poderiam se fixar nesta fileira sem liderança.
Há porém, um detalhe percebido, mas
talvez pouco considerado no que diz respeito ao movimento dos interesses
capitalistas. Do ponto de vista econômico, o capital especulativo que sobrevive
de juros da dívida pública, está acomodado, para este setor nenhum dos dois
lados impõe qualquer risco, isto porque, é da tradição governamental não dar “calote”
nos credores. O capital produtivo, com destaque para o agronegócio, também tem
a certeza de que qualquer um dos lados insistirá em manter o saldo positivo na balança
comercial, por isso as exportações de produtos in natura estarão garantidas. O mesmo ocorre com os Bancos. Os outros setores do capital, bem como as suas
organizações, como da indústria e do comércio, pouco apitam e também vislumbram,
em geral, pontos seguridade dos dois lados.
Por este raciocínio podemos perceber
que a disputa pelo poder governamental neste ano, não está entre os capitalistas
e os trabalhadores ou as posições puramente de esquerda e direita. As
referências postas em destaques como candidatos, expressam duas simbologias
esperançosas: a de Lula, dentre outras, pelo saudosismo recente de que os
pobres serão melhores atendidos e, as políticas públicas voltarão a subsidiar o
aquecimento da economia. A do Bolsonaro, também dentre outras, espera pela
realização da expectativa frustrada, que até aqui, não deu o desejado golpe e
eliminou milhares de opositores incômodos.
As alternativas postas estão
colocadas, cada qual com as suas referências programáticas disputarão nas urnas
qual delas será vencedora, então, onde está a dualidade de poder? Justamente no
ponto obscuro. Se por um lado a luta é para garantir a vitória de um governante
representante da sociedade civil, do outro lado, com uma linha cada vez mais intimidadora,
está se impondo o poder político dos militares.
Já dissemos e muitos outros também
já concordaram que as forças armadas formam no Brasil, um partido político, com
determinação de manter o total controle do Estado. Em primeiro lugar,
confirmamos este entendimento com o longo período que o presidente da República
ficou sem partido. Em, segundo lugar, desde o golpe de 2016, a mão invisível
disfarçada maneja ou ameaça esmagar os resquícios de resistência que ainda
sobram no poder judiciário, isto porque, com a ida do “Centrão” para o governo,
o parlamento foi cooptado e deixou de ser uma força em desacordo.
A clara intenção de boicotar o
resultado das eleições com a contestação de que as urnas eletrônicas “não são confiáveis”,
quando mostram que não, desde 1989, quando principiou este sistema na cidade de
Brusque, no Estado de Santa Catarina e, pela primeira vez, os votos foram
registrados eletronicamente. Seriam agora as urnas um problema para a
democracia, ou seria o partido militar que está em desvantagem e sem a
popularidade necessária para manter-se no governo?
As exigências excessivas e as
declarações públicas de que o resultado das eleições não serão aceitos,
mostram, não que o candidato da oposição seja um risco para os capitalistas,
mas que as forças armadas deverão voltar para os quartéis, e isto parece ser
indesejado no momento.
Definitivamente, qualquer que seja o
cenário, no Brasil as expressões “lulismo” e “bolsonarismo” representam mais do
que a adoração a duas figuras da política vigente, mas um embate instalado e
deverá continuar por algum tempo, entre sociedade civil e forças armadas. A
primeira se vale das massas empobrecidas e dos trabalhadores para fazer política,
a segunda das classes médias, usada como biombo para as forças militares terem
presença nas ruas sem intimidar brutalmente a população, mas que espera um
triscar como motivo para pôr tudo de pernas para cima.
No final, vencerá quem estiver
melhor organizado.
Ademar
Bogo
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