A
questão da organização política é o tema pouco elaborado no Brasil. O que se
fez ao longo do tempo nos setores de esquerda foi falar mal dos partidos
comunistas como se os arremedos construídos fossem melhores.
Toda
confusão e mergulhos nos limites devem-se à falta consciente, primeiro da
existência da pergunta, para que queremos um partido político? E, segundo, à
qualidade das respostas, porque elas podem ser múltiplas. Uns podem achar que o
partido serve para governar e resolver problemas sociais e, por isso
empenham-se em fazer das alianças necessárias para dividirem, depois da vitória,
os cargos do Estado entre todos os partidos por eles criticados.
Quando
o partido não é visto como a referência de organização para elevar a consciência
das massas em vista de incluí-las no processo da insurreição, os debates tendem
a escalonar as avaliações: “depois de nós” quem são os melhores? Se no nível
rebaixado da luta de classes um partido escolhe-se como “o melhor”, comete o
primeiro erro, pois, acha que já está pronto e, mesmo estando no primeiro
degrau da escada, quer olhar o mundo de cima para baixo, mas não vê além de
algumas cabeças confusas que se debatem, sem teoria, saídas diferenciadas e
propostas de transformação e superação das estruturas sociais.
O
austríaco Georg Luckács nos disse que tudo é questão de maturidade e
imaturidade. As duas situações somente podem ser medidas, “quando a compreensão
ou a atitude a respeito do que pode ser feito, existe para a consciência da
classe e ação de seu partido dirigente sob uma forma abstrata imediata ou
concreta mediata”. O que mais vemos são partidos velhos imaturos, sem classe, e
por isso desclassificados para assumirem tarefas mediatas ou que sirvam de
mediações para a realização da causa concreta da superação do capitalismo e não
da causa abstrata de assumir o Estado e
com ele o propósito de superar as crises.
Por
que então se investe mais na inconsciência do que na formação da consciência?
Porque uma classe consciente não aceita assumir as causas abstratas que apenas
ilusoriamente provocarão mudanças. E é pela ausência da organização de classe,
não ampliada pela consciência de classe que não atraímos para o nosso lado as
massas exploradas e empobrecidas em geral. De longe e de perto os partidos
respeitadores da ordem capitalista, são muito parecidos. Formar consciência é
trabalhoso e, ao mesmo tempo incômodo, porque, um indivíduo consciente é também
um fiscal da coerência e do comportamento de seus dirigentes.
Um
partido tem a função de dirigir, por isso a qualidade da consciência dos seus
componentes deve estar acima do senso comum em geral. Isso somente se consegue
pelo estudo e pela prática desburocratizada. A prática não significa a atuação
para solucionar problemas para melhorar o funcionamento do capitalismo, mas
apontar para atingir o objetivo de superá-lo. Agindo com o propósito apenas de
solucionar problemas, não vamos além do ponto de partida; estacionamos ao redor
deles sem nunca iniciarmos a marcha, em vista de fazer o percurso
verdadeiramente revolucionário.
O
abandono do estudo das contradições também contribui para a manutenção dos
propósitos das classes dominantes. Elas não sabem o que fazer para enfrentar as
crises, mas se sentem mais seguras porque as denúncias feitas não revelam as
verdadeiras causas dos problemas sociais. Por outro lado, ao não serem
reveladas as verdadeiras causas das contradições, as massas e os trabalhadores
mal organizados acreditam que as saídas para ambos os lados são as mesmas,
basta mudar apenas os indivíduos que governam. Assim esconde-se que no governo
Lula por trás, como força determinante esteve o capital produtivo, no governo
Bolsonaro, está o capital especulativo.
Ignorando
as forças determinadoras do processo político, ignora-se também as medidas a
serem tomadas para enfrentá-las. Nesse
sentido, passa-se a acreditar que a superação de todos os males sociais, virá
pela delegação ou aceitação da salvação proposta, como bem educa o cristianismo,
para alcançá-la basta continuar
acreditando ou no máximo, basta arrepender-se
dos erros anteriores e mudar o comportamento diante da urna eletrônica, objeto
sagrado como foi o bezerro de ouro, para os adoradores desta tática.
Com
a acelerada decadência do capitalismo esgotam-se as possibilidades e com elas
as esperanças de haver solução para os problemas sociais. Dessa forma, fica
evidente que as propostas populistas, governistas e direitistas, igualam-se
entre si. Surge então a preocupação de estamos atrasados, por isso tornam-se
urgentes às mudanças estruturais. Contudo antes delas são necessárias as
mudanças organizativas, propostas e métodos de atuação para elevarmos o nível
de consciência, de elaboração e execução das táticas. Isso tudo não se dará sem
resistências e teimosia para permanecer na ordem vigente agindo educadamente
para sermos aceitos pelas forças do capital. Por isso, as primeiras rupturas
devem ser com moral burguesa, a literatura reformista, as formas de
organizações legalistas e burocráticas e, com os objetivos limitados á ordem de
dominação capitalista.
O
amplo movimento de massas nos interessa. Ele, formado pelo fortalecimento da agitação
vinda da verdadeira propaganda das ideias indicadoras da nova perspectiva. É
claro que a palavra “pão” e “trabalho” continuarão sendo expressas, mas junto
virão as explicações porque eles desapareceram e o que faremos para que nunca
mais venham a faltar?
As
tarefas das lutas devem surgir das perguntas formuladas. Perguntar e persuadir
são os dois verbos a serem conjugados pela militância neste tempo mal desejado.
No entanto, antes de tudo é preciso perguntar-nos e persuadir-nos a nós mesmos.
Ou seja, queremos insurgir-nos ou acomodar-nos dentro da institucionalidade?
Essa resposta nos dará o conteúdo para persuadirmos as massas e para que
devemos organizar-nos.
A
insurgência precisa de uma organização insurgente. A sua estrutura acompanha a
firmeza do discurso e a eficiência das tarefas. Os esforços mais
simples contribuem para empurrar o movimento para frente, quando a organização,
mais do que pensar em ser a melhor deseja ir um passo à frente. Por isso, a questão da
organização é o assunto da pauta. Não significa menosprezo ao que existe, mas
um esforço para fazer existir algo novo, capaz de propor e afirmar novos
propósitos.
Ademar
Bogo
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