A humanidade tem conhecimento do conceito de tirania, desde à Grécia antiga, principalmente quando ocorreu a “Guerra do Peloponeso” pela reunião dos Estados para destruir a República ateniense e instalar, no ano de 404 a. C. o ‘Governo dos 30 tiranos”.
A tirania, às vezes, confunde-se com um regime
totalitário, quando um poder ilimitado é imposto sobre a população e todos os
direitos e garantias são suspensas. Mas podemos encontrar práticas tirânicas em
qualquer outro regime, principalmente nesses em que a democracia se reduz à participação
no processo eleitoral.
John Locke (1632-1704) o filósofo contratualista Inglês,
escreveu um capítulo no livro “Segundo tratado sobre o governo civil”,
mostrando que a tirania se instala, “quando o governante, mesmo legítimo, não
governa de acordo com a lei, mas segundo a sua vontade; e suas ordens e seus
atos não visam à preservação das propriedades do povo que o elegeu, mas em vez
disso, à satisfação de sua própria ambição, vingança, cobiça, ou qualquer outro
desejo irregular”. Ou seja, a tirania está mais no comportamento do governante
do que na oficialidade de um regime.
Tirano é, portanto, um governante que abusa do poder,
ignora os problemas do povo; mente para justificar os seus atos; impõe ideias
para serem repetidas como verdades; ameaça quem se opõe às suas vontades;
transgride a lei para fazer o mal e, acima de tudo, se compraz ao ver a
desgraça alheia.
As tiranias contemporâneas, para além dos golpes de Estado
e as instalações dos regimes totalitários, têm a última edição por volta de
1970 com a aprovação da globalização e dos modelos administrativos neoliberais.
Com esses dois recursos o imperialismo econômico com apoio político, militar e
jurídico ganhou autorização para impor aos países dependentes, políticas que
obrigam os governos locais a colocarem o Estado a serviço dessa ordem
interventora.
Vista desse modo a tirania econômica determina o que cada
nação deve fazer para satisfazer as necessidades e manutenção do crescimento do
grande capital implementando o receituário elaborado como sendo lições de uma
cartilha única. Sabemos como funcionam os acordos das dívidas externas e
internas e a imposição do controle dos gastos para garantir esses pagamentos.
Mas ocorre que, em certos momentos, a tirania pode ficar
ainda pior e expandir-se da dominação econômica para outras formas de dominação
inventadas pelo próprio tirano que, para agradar os tiranos superiores,
desfecha declarações afetuosas e aproveita para manifestar os seus instintos
cruéis contra a população indefesa.
A situação em que vivemos hoje no Brasil é o resultado da
asfixia da soberania do país que perdeu a sua capacidade respiratória como
nação e, essa política atingiu agora os cidadãos vitimas do coronavírus que não
encontram um leito para internação com um cilindro de oxigênio à disposição.
A crueldade tirânica imposta ao sistema de saúde,
incluindo a redução de verbas e a estruturação física, e que, na atualidade
leva as pessoas à morte mesmo estando nos hospitais, sem oxigênio e sem
médicos, iniciou em 14 de Novembro de 2018 quando 8.332 médicos cubanos que
prestavam serviço ao sistema público de saúde foram obrigados a retornar a Cuba,
devido à posição do presidente eleito contra o socialismo.
Numa outra frente do desdém e da supremacia ignorante,
reveladora da postura tirânica e perversa do governante, veio junto com a
disseminação do vírus a partir de março de 2019, quando a orientação indicava
que a melhor maneira para evitar a proliferação da doença e o colapso no sistema
de saúde era o isolamento físico. Não satisfeito, o tirano esperneou,
contradisse a ciência e, não só receitou a cloroquina sem ter autoridade para
isso, como também autorizou a fabricação do produto em grande quantidade. E,
para agravar ainda mais, enquanto os governantes de outros países interagiam
com os laboratórios em busca de uma vacina, aqui se fazia pouco caso, com uma
carga de preconceito contra a China, a Rússia, o uso da máscara e o isolamento.
O que temos agora, no pico da Pandemia? Um tirano feliz
porque o sofrimento humano aumenta descontroladamente e, pelos seus méritos,
nenhuma dose de vacina existe à disposição para iniciar a imunização da
população. Completa tudo isso, o caos na economia e o aumento da miséria por
falta de competência e boa vontade para prolongar o auxilio emergencial para
que as camadas mais pobres possam, pelo menos, comprar alimentos.
A situação é caótica e não tem, pela via da tirania,
perspectiva de melhorar. Muito pelo contrário, os indicadores apontam que a
economia não terá poder de recuperação no curto prazo, e a política, com o
fortalecimento das milícias, juntamente com a cooptação das policiais estaduais
e a presença das forças armadas no governo federal, é claro e evidente que a
tirania avulsa avançará para um regime ditatorial tirânico, engendrado nas
próprias concepções perversas dos ocupantes do atual governo.
A defesa da vida e da democracia, ainda numa perspectiva
capitalista, começa pela defesa do direito à internação, a exigência da vacina
pública e a volta do auxilio emergencial, combinando com a luta pela deposição
do tirano para que ele não se beneficie demagogicamente dos resultados de
algumas medidas que, obrigatoriamente terá de adotar.
Neste país, a fome, a violência, os acidentes e as doenças já matavam mais de 1,3 milhão de pessoas por ano, esse número será ainda maior agora, pela falta de oxigênio.Considerando que asfixia não é doença, mas fruto da posição de um governo tirano, é homicídio doloso, porque o descaso representa intenção de matar.
A dominação tirânica tem um só caminho, o uso da força. A
luta contra ela tem o caminho político, jurídico e social que podem ser
combinados e articulados, tornando um processo com várias frentes, mas é
preciso agir antes que a força amordace as bocas e as armas impeçam os
movimentos dos corpos. Contra o poder tirânico e das armas, a força da
solidariedade e da luta.
Ademar
Bogo
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