É
correto afirmar que há relação estreita entre teoria e prática, mas também é
verdadeiro que há uma prática “sem teoria” ou ingênua e, por sua vez, pode
haver também uma teoria sem prática. A teoria com prática, pode se dar em dois
níveis: sendo a primeira, aquela que
fazemos cotidianamente e que se dá por meio do fenômeno da relação entre a
consciência e o objeto, ou mais propriamente, aquela que nos faz aprender pelo
contato com a aparência. A segunda diz respeito à pesquisa e a experimentação
que, por meio dos métodos corretos, perfura-se a aparência em busca do
conhecimento da essência.
Na
prática, é bem verdade que não conhecemos todas as aparências. Primeiro porque não as vemos nem as sentimos na totalidade e, segundo, porque,
as vemos disfarçadas ou de forma inversa do que são ou representam. Por exemplo,
a aparência do Estado, para a maioria dos funcionários públicos e demais
trabalhadores que prezam pelos direitos trabalhistas; aos camponeses que
reinvindicam a reforma agrária, escola, créditos etc.; os estudantes que
esperam pelo crédito estudantil ou àqueles que recebem os recursos mensais do
“bolsa família”, ele é uma estrutura
imprescindível e a torcida é que seja cada vez mais eficiente para garantir
esses direitos.
Há
uma dificuldade enorme com as leituras da realidade que fazemos para separarmos
na prática as visões metafísicas das visões dialéticas ou apartar o subjetivismo
daquilo que é científico. Nesse sentido é importante reafirmar que a ação tem a
sua importância, mas, porque então há sujeitos que lutam e têm clareza dos
inimigos coletivos e não possuem a sabedoria de diferenciar a contradição
principal da secundária? A mudança conjuntural da mudança estrutural? A reforma
da revolução? A relação entre causa e efeito e, se quisermos, os aspectos
idealistas que levam a acreditar mais na vontade de Deus, da justiça e do
processo eleitoral, do que na força da organização e da ruptura com a ordem?
Na
atualidade, cada vez mais sentimos que há uma articulação intrínseca entre a
dimensão econômica e a dimensão ideológica que, juntas, atribuem a
responsabilidade das reformas institucionais no plano político, para tirar o
capitalismo da crise. Nesse caso sofremos um ataque cotidiano da força das
ideias. Mas seriam apenas, como diriam Marx e Engels, as ideias dominantes da
classe dominante dessa época que nos dominam?
Em
relação a esse assunto, o próprio Engels, no prefácio para a publicação, na
Inglaterra, do texto, Do socialismo
utópico ao socialismo científico, de 1882, apontou a necessidade das
rupturas com a tradição, em três sentidos: a primeira, com a influência
religiosa; a segunda, com a crença no bi-partidarismo que, no caso da
Inglaterra, os operários acreditavam na possibilidade de se valerem do Partido Liberal,
e, a terceira ruptura, deveria ser com a tradição sectária, herdada dos
primeiros ensaios de atuação independente que levava os sindicatos a criarem os
próprios fura-greves. Ou seja, nenhum desses elementos estão propriamente
presos à classe “materialmente dominante”. Não estaria Engels nos dizendo que, “o
conjunto das ideias dominantes” são produzidas também pelas crenças, forças
partidárias atrasadas e organizações dos próprios trabalhadores dominados?
De
outro modo, os autores do Manifesto do Partido Comunista de 1848, já haviam se
deparado com as concepções socialistas equivocadas: “O socialismo feudal”; “O socialismo
pequeno-burguês”; “O verdadeiro socialismo”e as rejeitaram. Para livrarem-se
dessa herança, denominaram de, “Manifesto do partido comunista” o programa que haviam escrito para a Liga dos Comunistas, recentemente organizada, mas que tinha
como finalidade marcar posição na época das “reformas liberais” efetuadas na
Europa naquele período.
De
verdade, olhando para tais elaborações, podemos perceber que estamos com os pés
trocados, amarrados pelos cadarços, pé esquerdo nosso com o pé direito da classe
dominante e, com isso a marcha que segue em frente não sai da relação entre
situação e oposição. Ou seja, se eles se movem um passo, nós nos movemos um
passo; se eles param para um entendimento entre si, nós esperamos que eles
voltem a se moverem para nos movermos também.
Essa
marcha de contorno de um quarteirão, nunca será grande porque ela começa e
termina no mesmo lugar do ponto frio da institucionalidade. Não vemos que o
que nos prende atados às forças da direita são apenas os laços dos cadarços. A
saída é, na próxima esquina, não dobrar à direita, mas seguir em frente.É no engano da curva que as forças se desequilibram.
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