Uma anedota conhecida, sobre um
indivíduo preguiçoso, se parece muito com o governo brasileiro. Diz o causo que,
ignorando todas as cobranças e conselhos, o preguiçoso chegou ao ponto de aceitar
a ser enterrado vivo. Carregando o caixão, amigos e curiosos revezavam-se no
cortejo. Mas, a certa altura, um conselheiro bondoso, ao ser informado da causa
e do fim que teria o sentenciado, prontificou-se e ofereceu uma ajuda: uma saca
de arroz. Foi quando o condenado perguntou de dentro do caixão: “O arroz é com
casca ou descascado?”. “Com casca” – respondeu o doador. “Então, podem seguir com o enterro.”
A situação da política brasileira é
bastante parecida. O condenado já o temos, resta saber em que altura está o
funeral que vem sendo preparado e conduzido com ampla divulgado na mídia desde
2005.
O objetivo é claro, concluir o funeral antes
de 2018 para recolocar uma parte das forças de direita no governo. Uma parte,
porque a outra nunca de lá esteve ausente e, ambas, em todo o tempo foram
beneficiadas pelas altas taxas de juro, de créditos, de lucro e do pagamento
dos juros da dívida pública que, no ano passado, chegou a custar mensalmente,
45% de tudo o que o governo arrecadou em impostos. Mais ainda, no caso
específico da Rede Globo, que mesmo devendo R$ 615 milhões em impostos, foi
agraciada com a renovação da concessão em 2007, por mais 15 anos, ou seja, até
2022, e que, quando morreu o patriarca dessa maldosa empresa em 2003, o
presidente da República em sua nota, após dizer que Roberto Marinho não veio ao
mundo a passeio, disse que ele tinha “quase
um século de vida de serviços prestados à comunicação, à educação e ao futuro
do Brasil”. E aqui está ela agora, liderando a nossa própria cassação, com a
desculpa, “de levar a verdade à população”.
Mas isto pouco importa para quem se
coloca atrás do funeral que segue. No entanto, é lastimável observar que,
apesar do governo ter feito, nos últimos anos, tudo aquilo que as forças
dominantes pediram; desde a isenção de impostos para as montadoras de veículos,
créditos subsidiados, ajuste fiscal contra os trabalhadores; já se dispôs a
fazer a reforma da previdência; desobrigou a Petrobras de manter 30% dos
investimentos no Pré-sal, reajustou as valores do fundo partidário para
melhorar a mesada dos partidos etc., querem derrubá-la.
Por que ficar lembrando tudo isso?
Só para pensar? Não. Para dizer que a classe dominante não se move por gratidão
nenhuma. Quem tem e se move pela gratidão, são as massas populares, mesmo
quando os beneficiados, por descuido, medidas equivocadas ou teimosia, não são de
tudo merecedores; mas agora terão que dizer e fazer por merecer.
Precisam dizer para parar o cortejo
e impedir que o funeral chegue ao fim como programado. Para isso a presidente
terá de aceitar o “arroz com casca”; saltar do caixão e dizer porque ficará. Da
mesma forma Lula, cuja candidatura para 2018 já está posta, terá que dizer a
que virá! Ou seja, terão que sustentar aquilo que até agora ignoraram, mas que
o projeto exige: que deixarão de pagar mensalmente os juros da dívida pública. Farão
uma auditoria para averiguar porque a dívida já passou de três trilhões de reais;
enquanto isso investirão o dinheiro em casas populares, saneamento e estrutura
para a saúde. Que irão estatizar, em nome da segurança nacional, a Companhia
Vale do Rio Doce, todas as mineradoras, devastadoras do meio ambiente e a
Petrobras. Assumirão que farão a reforma
agrária, cassarão a concessão da Rede Globo, estabelecerão o transporte público
com passe livre, taxarão e expropriarão as grandes fortunas, construirão
escolas e universidades para que haja uma vaga para cada jovem brasileiro.
Ouvirão o povo em assembleias permanentes, se deixarão dirigir pelo partido e
governarão com ética.
É radical demais? Mas é preciso ter motivos para decidir se para
ou segue o enterro!
Ademar
Bogo, filósofo, escritor e agricultor
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