Na tradição da Filosofia do
Materialismo Histórico, encontramos sempre a preocupação com a definição do
sujeito da revolução, considerando os trabalhadores, as classes, as forças, as
massas e, em último grau a parte maioritária da sociedade que precisa estar de
acordo A participar de tudo. Isto nos diz que, não podemos pensar em transformações
sem que haja um movimento de pessoas associadas, agindo com os mesmos
princípios na mesma direção política.
Karl Marx em 1847, ao escrever, “A miséria
da filosofia” destacou que: “Cada princípio teve seu século para se manifestar:
o princípio de autoridade, por exemplo, teve o século XI, assim como o
princípio do individualismo teve o século XVIII.”[1] Para ele ainda, quando, obedecendo
e sofrendo as consequências, era o século que pertencia ao princípio e não o
princípio que pertencia o século. Qual é a diferença, no primeiro aspecto, era
o princípio pronto e elaborado que fazia a história e, no segundo, a história
ao ser feita fazia o princípio. Mas uma dúvida permanecia: por que tal princípio
se manifestou naquele século? Para saber esta resposta, segundo Marx, era
preciso examinar minuciosamente como eram os homens daquele século; quais eram
as suas necessidades, suas forças produtivas, seu modo de produção; que matérias
primas utilizavam; enfim, quais relações sociais e, também políticas
articulavam essas pessoas. E, sua conclusão foi que, ao apresentar os homens
como atores e autores de sua própria história, chegaremos ao verdadeiro ponto
de partida, pois, assim abandonaremos os princípios eternos.
Nunca é demais resgatarmos para
sintonizarmos os sentidos, a definição gramatical de quem é o sujeito? “Sujeito
é o elemento que pratica ou sofre a ação expressa pelo verbo de uma oração” e,
o objeto, participa como “complemento na ação verbal.” Dito isto, voltamos para
aos princípios e a história, considerando o tempo do capitalismo do nosso
tempo.
Há um fundamento filosófico no
liberalismo que considera como princípio, o individualismo. Atraído pela liberdade
a qual lhe é garantida pelas leis do Estado, o seu poder individual é visto
como ilimitado, basta que, por direito arranje as mediações e, sua expressão
pessoal se eleva acima da coletividade. É evidente que o individualismo nascido
no século XVIII, foi renascido com novas características, no final do século XX,
em cenários globalizados, dominados pelas corporações, o mercado e as big Tehs,
ou empresas de tecnologia da informação.
Nesse emaranhado evoluído de
relações, encontramos o individuo com sua individualidade, ele, portanto, faz
ações, como também sofre as consequências. Mas não somente ele, todos os “eles”
estando envolvidos no mesmo processo, vivendo as mesmas influências, formam uma
coletividade dispersa, marcada pelas mesmas reações, a favor e contra de si
mesmo. Se prolongarmos um pouco o raciocínio e estendermos o alcance das coletividades
alienadas do próprio comportamento e, considerarmos como sujeito uma nação,
veremos que, os princípios neoliberais, coordenam, grosso modo, a história dos
dois tipos de sujeitos: os proprietários das corporações imperialistas que pensam
e impõem as diretrizes das ações a serem repetidas por terceiros, na economia,
na política, na cultura, na religião etc., e, por outro lado, as imensas multidões,
compostas por sujeitos sujeitados que “sofrem” e assimilam os princípios já
elaborados.
Ao levarmos esse entendimento para dentro
da política, facilmente vamos encontrar as respostas às perguntas, do porquê as
forças não se movimentam mais na direção da revolução? Ou mais especificamente,
onde estão os sujeitos da revolução do século XXI? Tudo se explica se
percebermos que, com tais princípios, os olhares foram invertidos e, o mundo
passou a funcionar como se os indivíduos tivessem sido colocados de cabeça para
baixo. Andam mas com os pés para cima.
A realidade universal, particular e
singular, nas visões invertidas, perdeu as contradições e assumiu o movimento
da linearidade. Marcado pela ideologia das oportunidades, tudo depende do
empenho de cada um. Na política, a gravidade dessa inversão é ainda maior. Visto
de cabeça para baixo, o estado tornou-se um aliado das transformações sociais
e, o capitalismo ficou ruim porque os trabalhadores e as forças de esquerda
eram impedidas de governar. Como sujeitos de uma história com princípios
elaborados fora dela, as coletividades, organizações de classe, lutas
reivindicatórias e a participação nas ações, foram revertidas para as ações
cívicas: votar; respeitar os feriados; realizar atos festivos nas datas comemorativas;
doar coisas, alimentos ou fazer Pix do sofá da sala, para os atingidos das catástrofes
ambientais, tornaram-se sinônimo de socialização. No mais, os governantes como
sujeitos sujeitados que, em nome da democracia e dos trabalhadores assumiram os
governos, acomodam-se aos consensos criados pelos sujeitadores, que transformam
o próprio político em objeto de uso, tornando-o coparticipante da ação: para o
agronegócio, queimar e devastar; para os bancos, lucrar; para o imperialismo colaborar
para que o capital se aposse das riquezas restantes de todo o continente.
Para fazer a história é preciso que
os sujeitos não sujeitados se coloquem de cabeça para cima e elaborem os
próprios princípios com o conteúdo do século em que vivem, com isso a própria
história feita com lutas e confrontos, transforma a evidência do indivíduo,
como a pedra que, colocada no muro, não desaparece, mas se fortalece se cooperar
com as demais pedras.
Ademar
Bogo
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