Neste mês de Novembro de 2019,
recordam-se os críticos do socialismo da queda do muro de Berlim.
Contrariamente ao dizer, que, “contra os fatos não há argumentos”, quando se
trata da hermenêutica socialista, sempre há.
Comecemos pela argumentação de Marx
que, ao estudar o desenvolvimento das forças produtivas percebeu que elas
cumprem um papel importante no processo de transição de um modo de produção
para outro. Agregou ao enunciado um alerta, dizendo que os processos não são
gratuitos, antes de tudo dependem das circunstâncias históricas, do grau de
organização e do desenvolvimento da consciência dos sujeitos da revolução.
As circunstâncias que levaram a
dividir a Alemanha e, posteriormente construírem o muro na cidade de Berlim,
foram os acordos, para pôr fim à Segunda Guerra mundial criada e alimentada
pelas principais potências econômicas capitalistas da época. Os socialistas
russos entraram na guerra nos últimos dois anos, quando na Rússia tomaram o
poder e, com isso tiveram que continuar o que os capitalistas haviam começado,
em busca de estabelecer a paz.
O avanço das tropas soviéticas sobre
o território do Leste europeu, levavam consigo a determinação de,
independentemente do avanço das forças produtivas, suplantarem os governos
inimigos e empossarem outros que implementassem as diretrizes socialistas. Esse
primeiro fator, já nos mostra que a opção pelo socialismo não se deu, naqueles
países, pelo processo da superação do capitalismo pelas circunstâncias
internas, mas, pela necessidade de vencer o nazismo alemão que ameaçava dominar
o mundo.
De outro modo, o fato da França,
Inglaterra, Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Soviéticas
estarem do mesmo lado, nos faz perceber que, a guerra entre os países
capitalistas e socialistas não havia se encerrado com a rendição do Japão em 2
de Setembro de 1945. A construção do muro dividindo a capital da Alemanha ao
meio, representa a continuação da guerra.
Diante dessa situação, surge-nos um
segundo fator mostrando-nos que houve a negação da possibilidade das forças
sociais seguirem o processo de transição de um modo de produção para outro e
estruturarem os governos locais. Marx havia alertado na “Crítica à economia
política”, de que a humanidade só se propõe as tarefas que pode resolver, e que
a própria tarefa só aparece onde as condições materiais de sua solução já
existem. A questão ainda a ser estudada é se “aquelas humanidades” existentes
dos dois lados do muro, Ocidental e Oriental, não só dentro da Alemanha como a
nível mundial, haviam se colocado a tarefa de superação do capitalismo?
Provavelmente o muro de Berlim servia apenas como representação para as
consciências resistentes que se colocavam tarefas mais amenas e integradoras á
ordem do que aquelas que deveriam forjar as rupturas entre os sistemas.
O terceiro fator podemos extraí-lo
da percepção de Engels, quando escreveu, em 1848 a introdução do texto, “As
lutas de classe na França” e colocou ali a ideia do “direito à revolução”, como
um direito histórico. Ao revisar os processos de implantação do socialismo
durante os anos da Segunda Guerra Mundial e depois dela, podemos interpelar se
de fato aquelas populações, apesar de terem assegurado os direitos sociais fundamentais,
não foram cerceadas do principal deles, que era o direito à fazerem a própria
revolução?
O quarto fator que podemos extrair
da teoria de Marx, trata-se dos conceitos das revoluções, permanentes e
simultâneas. Na mensagem escrita por Marx e Engels ao Comitê Central da Liga dos Comunistas em
março de 1850, a ideia de “revolução permanente” aparece como tarefa e como
“grito de guerra” do proletariado. Da mesma forma, há ali, o entendimento que
as revoluções devem ser simultâneas nos diversos países como um mesmo movimento
que vincula todos os povos do globo.
Considerando as circunstâncias
históricas e as diferentes condições pós-guerra, que permitiram ao próprio
capitalismo ganhar fôlego e, pelas tarefas de reconstrução, obteve êxito e
fortalecimento impedindo que novas revoluções se realizassem. Por outro lado, a
derrubada do muro de Berlim em 9 de Novembro de 1989, pode não ter representado
um retrocesso como muitos querem fazer crer, mas um estímulo histórico
revelando que a “revolução” não deveria parar ali à sombra do muro, vendo
cidadãos serem mortos por tentarem atravessá-lo. É evidente que, se os alemães do
lado Oriental lutavam por ultrapassar o muro é porque tinham para onde voltar e,
esse recado foi desconsiderado por décadas.
Trinta anos depois da derrubada do
muro, percebemos que, se até então as revoluções foram sufocadas pela
polarização entre os dois blocos que alimentaram a “guerra fria”, tendo como
resultado a vitória do capitalismo, além dos fatores colocados acima,
consideramos que, o capitalismo ainda tinha fôlego para renovar as forças
produtivas e, a humanidade de um jeito ou de outro, ainda se alimentava dentro
dele. No entanto, a cada dia vemos que as relações sociais se degradam, a
tecnologia reponde apenas aos interesses de pequenos grupos aumentando assim a
exclusão e a miséria. Falta apenas que a humanidade se coloque as tarefas
certas para que haja o desencadear de um processo verdadeiramente social em
cada país e se ramifique de um para outro, pois, não há mais muros a ultrapassar
há apenas limites no entendimento de que a transição para o socialismo é
necessária.
Na mesma data em que se relembra a
derrubada do muro de Berlim, comemoramos no Brasil a vitória do “Movimento Lula
Livre”. A justiça ainda não foi totalmente feita, no entanto, para o nível de
disputas políticas entre situação e oposição teremos algumas mudanças. E
teremos porque, a intuição de Lula vai em direção contrária ao que as forças de
esquerda, movimentos sociais e sindical vislumbraram até aqui. Se essas forças,
diante da truculência do governo optaram por se recolherem à “letargia”, sem
greve, marchas nem ocupação de terra urbana e rural, Lula volta querendo o
enfrentamento; é lógico que pensando na própria autodefesa e nas próximas
eleições. Tomara que ele espante o acovardamento das forças e estimule também a
luta por mudanças estruturais a se enraizar nas contradições capitalistas para
ativar o processo de transição para o socialismo.
Ademar Bogo
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