Medidas e desmedidas atuam como dois
imperativos que determinam o fazer e o desfazer. Há, por isso, uma relação
desconexa entre um termo e o outro. No entanto, se avançarmos para o sentido
extensivo das palavras veremos que elas medem e desmedem as decisões, as
vinganças e as precauções políticas.
A explicação mais equilibrada entre
estas duas contrariedades vem da palavra “sopesar”, que se refere,
primeiramente, ao peso sustentado com as mãos para avaliá-lo. Por sua vez, este
verbo é aplicado também para considerar outras situações que indicam o cuidado
com o “peso” das decisões, das palavras usadas ou do significado de um
princípio.
Sopesa bem quem decide bem. Ou seja,
para decidir é preciso medir, pesar, calcular para saber antecipadamente as
consequências das decisões tomadas. Desse entendimento é que derivam várias
expressões, todas elas em busca de definir uma ação, como por exemplo: “pesou a
mão”, “não mediu as palavras”, “o peso da justiça”.
Quando, porém, levamos a definição
para a política, começamos a perceber que nada há de mais explicativo do que o
peso da responsabilidade. Este peso pode representar a seriedade das decisões
como também a gravidade das palavras ditas. No Brasil, nos últimos tempos,
temos visto tantas coisas que nos fazem acreditar no que dissera um poeta
espanhol Antônio Machado: “Em minha solidão tenho visto coisas muito claras que
não são verdadeiras”. Ou seja, podemos ver coisas claras e mentirosas.
Há medidas desmedidas, praticadas
exageradamente e há também “desmedidas” que interferem sobre as medidas tomadas
anteriormente. No final percebe-se instalado um estado de coisas desmesurado.
No dicionário, desmedir é mostrar-se abusivo ou inconveniente, passar dos
limites, exceder-se, exorbitar, descomedir-se.
Podemos dizer então que os
“excessos” levam aos retrocessos. Retrocedemos quando nos arrependemos, mas,
acima de tudo quando praticamos algo que joga para trás o que já havia sido
empurrado para frente. Carregar é sempre mais difícil e demorado do que descarregar.
Desmanchar, mais rápido que construir e, crescer, mais lento que queimar e
devastar.
Na política, as medidas desmedidas
podem vir como medidas ou como reformas. Elas trazem o peso a ser suportado
pelos atingidos. São cortes nas verbas prometidas, direitos retirados e
nomeações de autoridades feitas com o claro objetivo de proteger alguns setores
e personalidades que gabavam a pureza e a idoneidade, mas, que no fundo eram
mais sujos que a sujeira alheia.
São desmedidas protetoras e
vingativas. Agem como se os idosos, as viúvas, os pesquisadores, os indígenas,
quilombolas etc., fossem inimigos que precisam ser torturados para que
confessem que são o problema da crise econômica e dos débitos do Estado.
A política vingativa aparentemente é
seletiva, mas não é. O fenômeno é universal. Ataca o presente e compromete o
futuro. É verdade que se pode sopesar a favor e contra. Mais contra que a
favor. Contra o país, contra a nação, contra os trabalhadores, contra os
pobres, contra as discussões de gênero, contra a beleza, contra as florestas,
os bons modos, a sabedoria, o comedimento das palavras, a ética, os valores, a
democracia...
As decisões, as palavras e as
vinganças desmedidas, conduzem, rapidamente, para que, dentre todos os “des”,
um deles nos seja favorável. É o caso da palavra “desmistificação”. No
dicionário, novamente podemos comprovar que, desmistificar é: “Toda denúncia
verbal ou escrita visando desiludir um grupo de pessoas ou coletividade a
respeito de uma opinião ou de um conjunto de opiniões, crenças e valores considerados
como falsos, preconceituosos, ilusórios e mistificadores”. Tudo a ver. Ainda há
um grupo que sustenta o mito da justiça, da igualdade, da austeridade e do
progresso.
É tempo de revigorar as vias respiratórias,
apagar o fogo da Amazônia e transferi-lo para o entusiasmo, para fazer jus ao
provérbio chinês que nos inspira quando diz que: “Sem o fogo do entusiasmo não
há calor na vitória”.
Ademar
Bogo
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