Por que Nero incendiou Roma no dia 18 de julho de 64 e culpou os cristãos pela devastação que durou 6 dias, queimando mais da metade da cidade? Certamente porque a Amazônia não fazia parte do patrimônio do Império Romano, se fizesse, talvez tivesse preferido incendiar a floresta e preservar as casas.
A História atribui vários motivos
para que o imperador fizesse aquela ação, mas nenhuma delas era tão importante
quanto a crise econômica que vivia o Império e, para tanto, precisava de um
fato e de alguém e alguém para acusar. Na época, os cristãos eram tidos como
indivíduos “perigosos” por isso, o imperador precisava de um motivo para
persegui-los. Não deu outra, em meio às labaredas do incêndio criminoso, a
perseguição caiu sobre os cristãos como uma nuvem de fumaça levando-os à prisão
e a matança humana indiscriminada.
As práticas de criar propositalmente
grandes tragédias e comoções são muito antigas e elas sempre começaram pela
falta de compostura dos governantes. As duas características principais do
governo de Nero eram: a tirania e a extravagância. A paixão pela violência e a
humilhação de seus adversários representavam as motivações cotidianas, para
aquele comportamento conhecido, do “bateu, levou”.
O discurso agressivo, carregado de
acusações e mentiras garantiam a Nero um significativo apoio da população, mas
não era tudo, as contradições políticas o obrigaram a ter de matar a própria
mãe, Agripina e estabelecer a intolerância contra todos aqueles que dele discordassem,
principalmente os cristãos. Estudiosos argumentam que o número 666 nada mais foi
que um código de identificação de Nero que passou a ser visto como o
anticristo. Na atualidade este número, representa uma portaria que visa a
deportação de estrangeiros malquistos em nosso país.
O fogo, por sua vez, na História da
humanidade é portador de um engenhoso simbolismo. Em todas as culturas ele é
tido como o elemento da “purificação” e da eliminação física pelo ritual da
cremação. No entanto é um elemento contraditório e, quando denominada a sua
especificidade aplicada, torna-se perigoso e ameaçador como é o caso da arma de
fogo.
Não vem ao caso relacionar aqui as
características que verificam as utilidades do fogo, mas, por ser um elemento
controverso observemos o emprego de sua perversidade, principalmente no que diz
respeito à queima que sempre é omitida na propaganda do agro, isto porque, de
uns tempos para cá o “agro é tudo” inclusive queima das florestas.
A primeira relação de desmando do
governo em relação à violência favorecendo o agro, contra a vida e a natureza, refere-se
à flexibilização no Código Florestal que anistia e autoriza o desmatamento. Em seguida, o decreto
de 15 de Janeiro, com qual o presidente da República autorizou a posse de até 5
armas de fogo por pessoa. Depois, as permanentes liberações dos agrotóxicos em
quantidade incontrolável que já passam de 300 tipos, muitos deles proibidos na
Europa e nos Estados Unidos e, por fim a decisão de não demarcar nesse governo
áreas indígenas e quilombolas.
Essas medidas acompanhadas de um
discurso vingativo e odioso, contra índios, negros, sem-terra e comunistas,
fortaleceram as convicções da impunidade e levaram às práticas ilegais e
criminosas de ataque as florestas que, ocorridas em meio as crises econômica,
política, moral, e institucional, cujas autoridades governamentais atuam contra
a saúde, a educação e os direitos sociais, somente uma tragédia como a queima
da floresta poderia desviar as atenções e iniciar uma caçada aos animais, às
ONGs e demais inocentes.
As semelhanças entre tragédia romana
e a queima da floresta Amazônica estão na loucura da política se medida e na
paixão pela violência. O desequilíbrio mental de Nero, agravado pelo assombro
de ver inimigos por toda a parte e, por outro lado, o instinto destrutivo que
acompanhava a sua personalidade, ainda permanece em vigor. No entanto, a
explicação premeditada de culpar os “cristãos” pelas tragédias provocadas, já
não funciona, porque, se as maldades de antes eram tramadas às escondidas,
agora elas foram escancaradas e anunciadas. Sem muito esforço, pode-se levantar
o nome e o endereço dos condutores e realizadores dessa catástrofe.
Por outro lado, se Nero protegia-se
atrás da ignorância dos romanos, agora, a consciência do mundo reage e exige
compostura. Se a justiça, nada fará para punir os aliados do “rei” a humanidade
terá de fazê-lo boicotando o consumo dos produtos extraídos dos gemidos de
morte emitidos pelas florestas queimadas junto com toda a biodiversidade. Se a
Amazônia representa os “pulmões do mundo”, hoje o mundo lacrimeja e tosse pelo
excesso de fumaça provocada pelo incêndio das mais variadas formas de vida.
Já vai longe o tempo e quem os
homens temiam os espíritos das florestas. Hoje eles sabe que elas não se
defendem sozinhas, por isso como dragões enfurecidos, lançam chamas
incendiárias em nome do progresso.
As florestas, no entanto, esperam
uma atitude humana. E ela não pode tardar, caso contrário, não saberemos o que
virá depois do homem. Porque, como disse
Nietzsche, “o que acontece á árvore, acontece ao homem”.
Ademar
Bogo
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