Estão chamando de “revolução
escatológica” a escalada destrutiva e desbocada que se instalou na República
brasileira. Se o conceito de escatologia poderia se encaixar nos dois sentidos
do termo; no primeiro com sentido religioso quando trata do caminho do homem e
o seu destino final para onde irá a sua alma e, no segundo, quando o adjetivo e
qualifica a “coprologia”, sendo o estudo das fezes e excrementos, mesmo assim
seria valorizar demais essa excrescência em vigor. Seja como for, nada há de novo sob o Sol, a
não ser mais uma crise do capitalismo em andamento.
A criação de fenômenos psicológicos
acompanhados da invenção de mitos salvadores e inimigos imaginários, no passado
demoravam muito tempo para serem disseminados que, em certas circunstâncias,
quando apareciam já haviam sido esclarecidos e já não causavam nenhum impacto.
No entanto, com o surgimento das redes sociais, a criatura e os seus criadores
chegam em tempo real às consciências mal informadas, que acreditam, curtem e
repercutem o que lhes chega, mas daí dizer que apontam a seu favor uma
“escatologia”, é muita pretensão.
Há de certa forma a criação de uma
áurea de mitologia geradas pelo guru (pai maior) que escapou do mundo dos homens
nacionais e se exilou no paraíso capitalista e de lá orienta a sagrada família
formada por quatro homens com a mesma autoridade. Esse quarteto comporta-se
como uma entidade enviada do “pai” que, em breve, em nome da redenção dos
próprios pecados terá de sacrificá-los, provavelmente, pelo tanto de inimigos
que está produzindo, sem deixar nada no lugar.
É isso que chama a atenção, o
espectro ampliado de inimigos que, em um período de crise estrutural do
capitalismo essas “santidades” fazem surgir. Superestimam as forças de esquerda
atribuindo-lhes uma capacidade estratégica da qual nunca foram portadoras, como
essa de terem optado pela teoria gramsciana da “revolução pacífica” e, com isso
terem contaminado, a linguagem da mídia, das universidades e da própria
política.
É verdade que as forças de esquerda
foram vitoriosas durante um período significativo na América Latina, mesmo apos
ter ruído o bloco socialista lá no o início da década de 1990, mas dizer que
isto significou uma revolução é reduzir a zero o alcance da teria de Antonio
Gramsci. Além do mais, esses espaços governamentais foram “tomados” dentro de
uma ofensiva globalizadora do capitalismo, sob o modelo pensado pelos ideólogos
da economia imperialista que se denominou de neoliberalismo.
A crise estrutural prolongada, na
atualidade, se junta com o acovardamento dos capitalistas que precisam, mas temem
provocar a terceira guerra mundial, única saída para que possam colocar alguma
ordem no nível elevado da anarquia econômica e financeira por eles mesmos
alcançada. Eles sabem que as reformas badaladas são arranhões dados em braços
magros de onde a pele é retirada sem gordura e pouco ou nada pode fazer para
sanar a fome de exploração que o capital carrega por todas as partes do mundo
para onde vai.
O
estilo bravateiro de fazer política, aliado ao mecanismo virtual da
proliferação de mensagens mentirosas, quer de fato, quebrar a espinha dorsal
das nações, em vista de anular as soberanias e assaltar as últimas reservas de
riquezas naturais existentes. Aí sim se pode falar de “fim dos tempos” em que
as repúblicas deixarão de ter alguma importância.
É, portanto, um plano tático
medianamente arquitetado. Primeiramente com o combate aos partidos políticos,
juntamente com a perseguição dos governos progressistas. Mais recentemente, o
ataque às universidades e os resíduos de pensamento crítico, juntamente com a
desmoralização das forças armadas que, iludidas, inicialmente acreditaram na
capacidade “moralizadora” da política, mas, agora, marcham a passos largos para
a responsabilização da catástrofe administrativa.
Nesse sentido, é importante observar
e reagir contra as medidas suicidas do governo, mas também levantar um pouco a
cabeça para que os olhos possam ver além das fronteiras onde de fato se
articulam os interesses econômicos e políticos do império. Por trás da
linguagem desbocada e a ameaçadora de extermínio do conhecimento crítico e das
pesquisas, está um plano de expansão mortal do capital que se contorce com
dores estomacais por não conseguir mais a quantidade de alimento necessário.
Dentre todas as táticas as que
tratam do divisionismo são as mais consideradas pelas forças fundamentalistas
do império. Buscam indispor as populações reavivando o racismo e a configuração
de reações da homofobia, da “pobrefobia”, “cultofobia” etc., para isso investem
no armamento, inicialmente, de uma camada seleta do sistema e na flexibilização
da legislação conivente com a violência autorizada. No entanto, isso, a médio
prazo, chegará a fortalecer o mercado livre de armas e o acesso generalizado da
elas pela população, criando, na medida em que há o enfraquecimento das forças
de segurança, verdadeiros linchamentos sociais, forma cômoda do sistema se
livrar das populações incômodas.
A forma mais eficaz de enfrentar
tudo isso é por meio da organização partidária e popular. O associativismo é
uma alternativa que permeou a literatura histórico-filosófica desde Platão e Aristóteles, passando pelos
primeiros cristãos, chegando até nós por meio de Marx, Engels, Lenin e tantos
outros.
As reações consistentes são aqueles
que acontecem e permanecem organizadas. Portanto, se existe o fim dos tempos,
ele somente poderá vir com a superação do capitalismo. A superação dos
enfezados, desbocados, violentos, entreguistas e serviçais do império, virá
pela organização, a moralização e a prática de valores. Devemos ficar atentos
que o ruim e o bom, o fraco e o forte, o disperso e o organizado são fatores
que andam lado a lado. Basta um fósforo para forjar um grande incêndio no
capinzal seco.
Ademar
Bogo
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