Na Filosofia clássica criou-se um conceito para designar algo que pode ou não acontecer, segundo as circunstâncias
e as leis da natureza, chamado de “futuro contingente”. Logo, a contingência nos
encaminha para observarmos a relação particular que existe entre espaço e tempo,
as condições e, as possibilidades no presente para alcançarmos o futuro.
O médico, Leôncio Basbaum, comunista brasileiro,
nascido no início do século passado em Recife, em seus estudos sobe o
materialismo discutiu, “A lei das probabilidades”; ali nos mostra que os idealistas
ao explicarem os fenômenos que deram origem ao princípio da incerteza,
consideraram que o movimento que forma cada uma, está entregue ao acaso. Ou seja, se
a incerteza fosse composta por partículas elas se deslocariam de um lugar para
outro sem qualquer direção estabelecida.
Essa visão idealista se assemelha a
um jogo em que se confia apenas na sorte e não em um plano. Portanto, nem tudo
é regido pela lei da probabilidade. Mas, mesmo que fosse, se apostamos na
“cara” ou “coroa” e jogamos uma moeda para cima, a chance de que caia uma ou
outra é de uma para duas possibilidades. Se jogarmos um dado, a probabilidade
de dar o número que apostamos é de um para seis. Mas se não jogamos nada, nem o
acaso ajudará, porque nada cairá a favor e, o nada nesse caso, é uma
contingência contra o futuro.
Portanto, em se tratando de um jogo,
vislumbramos o futuro por meio das apostas. Se elas forem às únicas
possibilidades de enfrentarmos o contingenciamento, temos que arriscar contra aquilo
que deveria ter sido preparado por um plano individual ou um programa governamental e não foram..
É importante dizer isto, neste momento,
para àqueles que são contra a Filosofia e querem extirpá-la do ensino
universitário, que, ao usarem demasiadamente a palavra “contingenciamento”, estão
recorrendo, mesmo que de maneira idealista, à Filosofia para justificar o
profundo despreparo e a ausência de um programa que indique o caminho para o
futuro; com isso aterrorizam estudantes e professores, dizendo que, somente teremos um
“segundo semestre” se o acaso providenciar dinheiro. Transferem, com isso, o
conceito de “futuro contingenciado” para a lei da probabilidade se acertar com
o acaso.
Por outro lado, o contingenciamento ao invés de ser
considerado um problema filosófico sobre o qual se reflete a incapacidade de
governar, tornou-se, de um momento para outro, o mais latente e vingativo modo
de punir os universitários que, segundo os arautos dos desmontes, “só praticam ideologia”.
Para eles, o contingenciamento “não é corte”, é hoje, apenas um risco feito a
giz no lugar onde será cortado amanhã o pedaço do orçamento da educação.
Porque está marcado a giz? Porque se
trata do corte no orçamento das universidades. Se fosse no orçamento destinado
ao pagamento da dívida pública, a marca do corte não seria com giz, mas com
notas de R$ 100,00 reais. Como ninguém faria essa loucura, amarrar dinheiro para marcar onde seria cortado o pagamento, para a
dívida pública não há contingenciamento, de certo porque lá a ideologia é só a favor
aos capitalistas.
Esse problema antropofágico, para
aqueles que governam e temem a “ideologia de esquerda”, ficaria mais escabroso se
aplicassem a verdadeira teoria do "funcionalismo utilitário" e revelassem que eles veem o Estado como um corpo com
fome. Nesse caso, o estômago como representante do ministério da economia, tem a função de avisar o cérebro
já destemperado, pela incapacidade de pensar, que está com fome.O cérebro então ordena para que o
estômago encontre um jeito de comer a mão esquerda, depois o braço, o pé e a
perna esquerda; em seguida a orelha esquerda, o olho esquerdo, a bochecha
esquerda pois, acredita que somente com os órgãos do lado direito poderá
enfrentar a lei da probabilidade e enganar o acaso. Certamente o estômago o
alertaria que, ao consumir o último pedaço do corpo do lado esquerdo começaria
a faltar comida novamente, então, com as ideias confusas, a cabeça passaria a disparar mensagens,
vitimando-se de que “forças ocultas”, de certo a própria sombra do lado direito
do corpo que restou, não deixa governar.
Então o raciocínio filosófico sobre
o “futuro contingente”, como um espírito assombrado, bate forte no cérebro
fofo e diz: a questão não é dizer que “falta dinheiro”, mas explicar por que
falta e por que não arranja, afinal não é para isso que os governantes são
eleitos? Comer e leiloar o que já temos é diminuir aquilo que já está
faltando.
Diante de certas circunstâncias, o
“futuro contingenciado” se converte em cortes certo. O que separa o já e o
ainda não é tempo que mostrará um a um os cortes previstos: no orçamento, nas
liberdades, na democracia etc. Logo, para as consciências encurraladas,
contingenciar significa cortar, e cortes abrem feridas possíveis de serem
curadas com muita luta, o que não se sabe é o tamanho das cicatrizes que ficam.
Por fim, política é a escola que
ensina também pelas derrotas. A mais recente foi a tentativa da invasão da Venezuela,
salva por uma parte da população mobilizada e a lealdade das forças armadas. Se
“a ordem dos fatores não altera a soma”, também não altera a multiplicação e,
com outros objetivos as táticas podem ser repetidas.
Ademar Bogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário