Não podemos negar que vivemos presos a
intensas disputas de projetos. Os projetos são mais do que intenções, estão
encarnados nos dilemas e nas preocupações de cada época, tanto no sentido da
manutenção quanto no sentido da superação da ordem.
O projeto dos proprietários dos
meios de produção, das terras, dos Bancos etc., tem a hegemonia das relações sociais
de produção e da especulação. Para tanto, os capitalistas seguem as leis tendenciais
do capitalismo situadas na exploração, na acumulação, na concentração e na expansão
do capital. Os praticantes dessas tendências seguem o capital e o fazem funcionar por essas orientações,
desde a pequena até a grande empresa imperialista. Isso quer dizer que, por
exemplo, se na tendência à exploração, quem comanda é a lei da mais-valia, nas
relações de produção capitalista, não há ninguém que possa anulá-la. Nem mesmo
aqueles governos tidos como progressistas que, além de tudo, enganam os
trabalhadores quando dizem que “estão desenvolvendo outro projeto”. O projeto é o mesmo que as vezes chega a funcionar "sem governo".
Diante disso é que podemos refletir
sobre a natureza dos projetos que repentinamente se apresentam como se fossem
programas de governo dentro do modo de produção capitalista, assim
classificados: neoliberal ou desenvolvimentista; conservador ou progressista;
entreguista ou nacionalista; totalitário ou populista e, às vezes, nada com
nada; ou seja, há governos que simplesmente não possuem programa ou
melhor, possuem o programa “do nada” nadificado, mas funciona. Funciona
porque o nada não é a ausência de tudo, é sim a presença do nada que se deixa
conduzir pelas leis tendenciais do capitalismo. Então, um governo paralisado
não se pode dizer que seja uma poesia, mas faz parte da arte de desmontagem do
que há para divulgar o que havia.
No entanto, em se tratando dos modos
de produção, só há de fato dois projetos: o capitalista e o da transição
socialista. O projeto dos capitalistas é certo que existe e, diariamente os que
compram e os que vendem força de trabalho, acordam cedo para fazê-lo funcionar.
Mas, e o dos trabalhadores existe? Levantamos todos os dias para construí-lo ou
caímos na interpretação equivocada do conceito de estratégia, que ela somente
se realiza a “longo prazo”? Se assim é, significa que aquilo que dizemos ser,
“disputa de projetos” é,em grande parte, a oposição que fazemos ao governo do
nada, em processo de nadificação, cujo presidente declara nada entender de
economia, mas segue verdadeiramente as leis tendenciais do capitalismo, com privatizações, negação de direitos e abertura de fronteiras para a devastação total do país.
É nessa linha divisória que fica à
mostra a espessura dos pilares que sustentam a formação da consciência das
classes. Do lado dos capitalistas, que se voltam para o sistema de ensino, o
querem funcionando pelas diretrizes da “Indústria Cultural” com acento na
formação técnica; ao formar os jovens para o mercado, estão
reproduzindo a força de trabalho necessária e fortalecendo a coluna vertebral do
seu projeto capitalista. Para esconder que o capitalismo está em crise,
renovam o ódio contra Marx e os marxistas, como se os culpados pelas crises econômicas
fossem os que dizem a verdade.
No entanto, do lado dos trabalhadores, a
juventude não se prepara para fortalecer a coluna vertebral do seu projeto de
classe. Quem deveria fazer esse papel, seria a organização política partidária
que integraria cada indivíduo, por meio de um programa, com metas e prazos. Não
temos, por isso vacilamos. Nem formamos para o mercado, nem para o socialismo.
O projeto político maior é o da
transição para o socialismo, para isto, num primeiro momento se luta, se educa,
se forma as consciências, se estruturam os poderes para, num segundo momento, sem deixar
de fazer tudo o que se faz no primeiro momento, tomar posse do poder maior por meio
da ruptura da ordem. Isso não tem nada demais e nem está fora da naturalidade
dos projetos. As forças de direita fizeram tudo igual e romperam a ordem em 2016, quando construíram
um consenso para interromper o mandato
da presidenta eleita, tentam da mesma forma romper a ordem na Venezuela e, em
nosso país, agora, a “ordem reconstruída” está cambaleante que funciona com certa
liberdade ainda de expressão, mas, não nas ações.
É real a insatisfação de Narciso com
a sua própria imagem, tanto nas forças de direita quanto nas forças
descontentes, com razoável consciência critica. A razão está em que nenhum dos
lados consegue apresentar inovações que imponham o fim da dispersão. Quem
descobrir isso por primeiro conduzirá o país pelas próximas décadas.
Pela direita, a “inovação” está apontado
para o velho que, pelo argumento da força, satisfaz os interesses do império,
mas desagrada os aliados internos. Pela esquerda, ocorre a mesma coisa, apela-se
ainda para o passado e ainda não aprendeu a falar a nova língua. Como alertou
Marx, sobre o principiante que aprende um novo idioma, “só quando puder
manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no emprego da
nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente nela”.
Já é tempo de fazer a avaliação
definitiva. Gastam-se horas de análise, páginas escritas, mensagens de voz,
filmagens e comunicações ao vivo, com a velha linguagem, comunicando aquilo que
a velha pauta da direita encaminha para a discussão a cada semana. Jamais se
viu um governo sem programa “desprogramar” também todas as forças que, na fúria
da alucinada critica, se esquecem que, como as moscas, rodeiam o mesmo ponto.
O projeto político aparece como os preparativos
de uma festa a ser realizada em um prazo relativamente próximo com as multidões
empenhadas nos preparativos, realizando item por item daquilo que terá
serventia. Por isso, uma coisa pequena, faltando, na data estabelecida, provocará
um grande estrago na programação. É tempo da elaboração de um novo programa, com
nova linguagem, compreensível, com didática simplificada, com propostas reais e encantadoras.
Ademar
Bogo
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