Quando estudamos a dialética
descobrimos que, em qualquer movimento existem as polaridades, mas, ao tratarmos
do movimento concreto no interior de um sujeito, o alto e o baixo não podem ser
relacionados, porque são atributos inconciliáveis. Por exemplo, não podemos
dizer que este ou aquele indivíduo é um “alto baixo” ou, da mesma forma,
relacionar um prédio em si mesmo pelas mesmas polaridades. O movimento
dialético somente pode ser compreendido se for estudado dentro das referências
crescentes ou decrescentes.
Para efetuarmos a análise
dialética, devemos tomar como ponto de partida, a referência da avaliação no
padrão desejado e observar o movimento interno na substância observada. Na
política podemos partir das próprias preferências a favor ou contra que, se a
compreensão for verdadeira, ambas as conclusões chegarão ao mesmo lugar.
Considerando as categorias, “alto” e
“baixo” na conjuntura atual, após três semanas de governo, o referencial deverá
ser o de estabelecer alguma medida que nos permita assegurar, como ponto de
partida, aquilo que significa o alto e o baixo. Se a preferência é pelo “alto”,
a pergunta inicial deve ser: é o alto no máximo grau ou pode vir a ser ainda mais
alto? E, do contrário, é um alto que pode decrescer e ficar menos alto? Da mesma
forma, devemos proceder com o baixo; é um baixo que pode vir a ser um menos
baixo ou é um baixo que pode ficar ainda mais baixo? As concepções conjunturais
das preferências atuais podem ser articuladas por meio das expectativas altas:
o “Elesim” e, do lado das expectativas baixas, o “Elenão”.
O que temos de material que
sedimenta o caminho das primeiras semanas de governo, para aqueles que tínhamos
expectativas baixas ou negativas no período da campanha eleitoral, em poucos
dias, as evidências trouxeram a surpresa de percebermos que o baixo ficou ainda
mais baixo.
Os fundamentos para essa regressão
avaliativa, se deve às várias iniciativas expostas, como o rebaixamento do valor
do salário mínimo; a entrega para o Ministério da Agricultura da
responsabilidade pela demarcação da terras indígenas, o reconhecimento das
áreas de quilombos e a realização da reforma agrária; a ameaça da autorização da
instalação de uma base militar dos Estados Unidos no Brasil; apoiar a
intervenção militar na Venezuela; prometer transferir a embaixada brasileira
para Jerusalém; aprovar a posse de armas de fogo, até quatro unidades por
pessoa; preparar a venda das estatais com a perspectiva da entrega total do
petróleo para empresas estrangeiras; continuar com as investidas de efetuar
reformas e cortar os direitos sociais adquiridos, dentre outros.
Dois fatos, no entanto, desmascaram
a figura “mitológica” do governo. A primeira diz respeito ao combate à
corrupção. Como se ela estivesse distante das paredes da própria casa, as
apurações mostram que não apenas a corrupção, como também a violência
paramilitar é consanguínea, está dentro do corpo dos que assinam o mesmo
sobrenome. O segundo fato é o exílio do Deputado Federal Jean Wyllys que, com
seu gesto revela a falsidade demagógica do combate à violência no país. Ele
será o embaixador das causas humanitárias no exterior, enfraquecendo ainda mais
a política preconceituosa externa brasileira.
O rompimento da barragem de
Brumadinho, se “não é culpa do governo atual”, é uma demonstração real do risco
de vermos as próximas tragédias pela frente. As declarações de
irresponsabilidade governamental com o meio ambiente, demonstram a intenção de
flexibilizar as leis, para assegurar para as empresas ainda mais facilidades para
agirem irresponsavelmente na extração de minérios. É evidente que, as barragens
construídas no alto das montanhas com terra e o mesmo material dos rejeitos,
seja, pelo peso, dilatação com o calor do material depositado ou por um pequeno tremor de
terra que naturalmente ocorre, reeditarão de forma mais constante as tragédias que já conhecemos.
Mas o equívoco mais gritante que
rebaixou ainda mais o rebaixado índice avaliativo, foi a primeira apresentação
internacional, na qual o discurso do presidente em Davos, não apenas demonstrou
que de fato o governo ainda não tem um programa, mas que o presidente tem ao
seu redor um coletivo de indivíduos inexperientes para assessorá-lo nas tarefas
internacionais.
Por fim, a insistência
desqualificada de dividir o mundo por ideologias, desconhecendo primeiramente
que a visão marxista do conceito de ideologia é que ela é o “obscurecimento” da
verdade, ou seja, as ideias são usadas com a finalidade de esconder, ludibriar,
acobertar as intenções tramadas é uma demonstração de ignorância teórica. Dizer que as relações internacionais "não serão
ideológicas" e, submeter a
nação aos ditames dos Estados Unidos, exibindo o boné do presidente Trump, como
quem pensa com a cabeça alheia, é a demonstração do alto teor ideológico dos
gestos e dos discursos governamentais que acobertam as verdadeiras intenções. O presidente deveria se dar conta de que,
os maiores inimigos estão situados no despreparo político que marca o seu
governo e o não nos marxistas ou nos países socialistas que lutam por uma
humanidade cada vez melhor.
De outra forma, aqueles que tomam a
referência dialética do "alto", em busca do "mais alto", deverão encontrar razões
para provar que algo foi feito de melhor. A considerar pela popularidade, as
pesquisas mostram que ela já é mais baixa do que a porcentagem obtida nas
urnas. Isso revela que a análise oposta seguirá o descenso da sequência dos
degraus indo pelo caminho do “menos alto”, levando ao mesmo lugar alcançado pela
análise dos degraus do cada vez “mais baixo”, decrescendo até chegar ao nível da
repugnante e criminosa lama da barragem do feijão em Brumadinho.
Ademar Bogo
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