Os
filósofos sempre primaram pela educação. Aristóteles em sua ética a Nicômaco, após
alertar que não devemos perder de vista a diferença existente entre os
argumentos dos primeiros princípios e os outros que se viram contra eles. Dessa
forma concluiu o filósofo: “Eis aí por que, a fim de ouvir inteligentemente as
preleções sobre o que é nobre e justo, e em geral sobre temas de ciência
política, é preciso ter sido educado nos bons hábitos”.[1]
Se os filósofos refletem através de
temas, os educadores debatem sobre as concepções pedagógicas. Porém, não é
possível escapar ao ponto de encontro educativo o qual trata dos bons hábitos.
O nobre, destacado por Aristóteles, não se trata da nobreza adquirida por meio
de títulos, mas dos valores morais comprometidos com a generosidade, a lealdade
e a honestidade, condutores dos bons comportamentos. Da mesma forma, o justo,
não significa a justeza de algo que se encaixa; neste caso ele representa, a
justiça confirmada pela aplicação do princípio da “justa medida”, formada pelo
entendimento pedagógico, de garantir os ganhos e minorar as danos.
Há diferentes concepções pedagógicas
voltados para a educação dos bons hábitos. De um modo ou de outro podemos
afirmar que todas ela, por princípio. pregam a nobreza e a justiça para
garantir a prática dos bons hábitos. No entanto, como vimos, na expressão aristotélica,
de que há argumentos favoráveis aos princípios e os que são apreendidos e
colocados do lado oposto a eles. É neste ponto que a pedagogia sai dos meios
acadêmicos para encontrar as suas oposições, também pedagógicas, na formação
dos hábitos comportamentais na escola da vida.
Quando separamos os ambientes, não
significa que haja de fato uma separação estanque na linha do conhecimento e
formação das consciências. Demarcamos apenas a existência da mudança de
sujeitos criadores das matrizes pedagógicas. Dessa forma, nos parâmetros do
outro sistema, distante do nobre e do justo, vamos encontrar as diferentes
pedagogias as quais nomeamos como: do capital, da exploração, da expansão, do
envenenamento, da destruição e tantas outras que, por princípio, estruturam-se metodologicamente
pela negação dos valores morais.
Quando falamos em pedagogia do
capital, facilmente percebemos que a centralidade desse aprendizado está
centrada na lei do valor. Aprender a lidar com o dinheiro para fazê-lo render à
custas do trabalho alheio. Comprar coisas, investir, poupar, sempre no sentido
de garantir algum grau de acumulação de bens e propriedades, entende-se como
correto. Para aqueles que mal se decidiram profissionalmente, o indicativo
virtual do apresenta programas como do “Jovem empreendedor”, incentivando-o a
cavalgar pelo caminho empresarial. Metodologicamente ensina a tornar-se patrão,
explorar a força de trabalho de pessoas vistas apenas como colaboradoras.
A pedagogia expansionista surge por
meio da pulsão da acumulação. Feito um primeiro crescimento o capital encarnado
nos desejos do capitalista, faz com que ele se lance em direção aos lugares que
permitem rendimentos. Na visão universal, a indústria e o comércio conduzem o
capital para afirmá-lo como o regente de um império. Assim nasce o imperialismo
econômico. Na expansão particular, o avanço sobre os territórios, leva a jungir
as propriedades para formarem grandes e expressivas posses. Em ambos os sentidos,
a pedagogia da especulação e do ensino tecnológico, serve como suporte para que
as ações tenham certa ordem sequencial e, a divisão social do trabalho preencha
todas as lacunas dos serviços sujos prestados.
Mas, há acima de tudo e, no atual
momento do desenvolvimento do capitalismo, uma pedagogia que começa a ganhar
força, a qual podemos chamá-la de “pedagogia destrutiva”. Esta, de algum modo
vinha sendo aplicada, sempre que surgissem crises no crescimento econômico; as
quais se baseiam no princípio da destruição dos produtos ou da infraestrutura e
bens em geral, por meio de guerras ou de outros conflitos. Porém, essa pedagogia
avançou e se qualificou metodologicamente para ensinar a atuar fora do mundo
das mercadorias e, muito menos por causa da crise de crescimento econômico, mas,
fundamentalmente pelo desejo da expansão gananciosa que chegou ao extremo de
incendiar as florestas.
A pedagogia destrutiva que ensina a
usar o fogo como uma arma, revela que foi declarada a guerra do agronegócio
contra as forças da natureza compostas pela biodiversidade e contra o Estado se
os governantes não fossem tão covardes. Trata-se, portanto, da perda da
soberania nacional, porque, a pretensão de planta soja e produzir carne bovina
para as exportações, favorecem mais os interesses externos do que ao país.
A pedagogia destrutiva desenvolvida
pelas forças políticas negacionistas, ensina a cometer crimes utilizando o fogo com arma; mas, há as partes coniventes
que se associam pela colaboração ativa. Se compararmos a aplicação das pedagogias
opostas, quando se quer educar positivamente, os recursos públicos são
direcionados para construir escolas. Quando se quer educar criminalmente, incentiva-se
a aquisição de armas e, no caso dos incêndios, liberam-se créditos para que os
criminosos, com o dinheiro público, avançarem sobre as florestas.
Ao governo brasileiro, falta o
entendimento da “pedagogia da coerência” pois, quando fala em preservação da
Amazônia e da emissão de gases metano CO4, produzido pelos animais e, o monóxido
de carbono, exalado pelos veículos motorizados, como primeiro princípio, deveria
reduzir e não aumentar os créditos agropecuários para o agronegócio. Neste ano
de 2024, chegam a 508 bilhões de reais e, por outro lado impediria a exploração
do petróleo e não como está fazendo, direcionando as puas perfuradoras para a Amazônia.
Para não sermos coniventes com os
crimes, seja o de genocídio cometido contra os palestinos ou do ecocídio
cometido pelo agronegócio com o incêndio das florestas, devemos reagir contra a
pedagogia destrutiva que transforma o crime em hábito. E não importa se o crime
está sendo cometido em Gaza ou na Amazônia, importa é enfrentar, combater, destratar
e condenar quem manda, quem executa e quem é conivente ao liberar recursos públicos
para que, no baixar da fumaça das queimadas, nas primeiras chuvas, repassem com os aviões semeando as sementes de
capim, sobre os ossos e as cinzas daquilo que antes era a mais bela e mais
diversa biodiversidade do mundo.
Devemos perguntar ao governo brasileiro: onde estão as forças armadas que há dezenas de anos, em nome da soberania nacional, vigiavam a Amazônia, mas deixaram avançar desmatamento, o roubo e a exploração de madeira, bem como, a se formarem miliciais armadas para assassinarem as lideranças, indígenas, sindicais e religiosas e, por último a incendiarem as florestas? A natureza clama por defesa; mas onde estão as forças de defesa? De que serviu até então a pedagogia dos treinamentos de combate nas selvas, se incapazes são de combaterem o fogo que dizima as florestas? Quando procurarem os inimigos entre as cinzas, encontrarão apenas as armas e a metodologia da pedagogia destrutiva.
Ademar
Bogo
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