Nas diversas análises que circulam, as ideias dão conta
de que a extrema-direita está crescendo como força política ao redor e no
centro do mundo. Os confrontos em todas as frentes, popular, sindical, política
e militar, demonstram que há de fato uma tendência ao crescimento, considerando
a combinação do uso de táticas legais, violentas, ideológicas e morais, combinadas
com a busca de controle de instituições, redes de comunicação escolas e igrejas
com seitas partidarizadas.
Por que o espanto? Se olharmos para trás e fixarmos as
nossas atenções no que éramos e compararmos com o que somos, teremos as
explicações do porque eles acresceram em volume e nós decrescemos em ofensivas.
Pela experiência de vida, sabemos como funciona uma velha balança com dois os
pratos. Quando o peso é retirado de um, o outro se eleva, deixando à vista o
desequilíbrio. O que estamos vendo é o resultado de um processo, cujo peso das
lutas, as formas de resistências defensivas e as iniciativas ofensivas, foram
eliminadas da estratégia antes mantidas pelas forças organizadas e conscientes,
do dever histórico de manterem a luta de classes. Há pelo menos três décadas, investindo
prioritariamente nas disputas eleitorais, foi que as forças de esquerda
trocaram as barricadas de concreto e as lutas de massas, pelos escudos de papel
e a conciliação, como forma de garantir o funcionamento da ordem e o bom funcionamento
do Estado.
Há, sem dúvida nenhuma, um desiquilíbrio na balança da
História. Quando os pesos, na confrontação entre o capital e o trabalho eram colocados
frente a frente, as disputas resultavam em vitórias ou em derrotas, mas as
massas, aguerridas, lutadoras e organizadas continuavam lá, ameaçando voltarem
a medirem a própria capacidade. No percurso, quando as forças, populares,
sindicais e partidárias mudaram a estratégia, como se tivessem trocado a
balança dos dois pratos por uma digital, perderam a noção de equilíbrio e, ao
invés de reivindicarem e pressionarem os inimigos históricos, passaram a
prometer: crescimento econômico, empregos, assistência social e a moralização
da administração pública, com o fortalecimento do Estado; obras e medidas
assumidas pela burguesia, como tarefas, desde a Revolução Francesa de 1789.
Inaugurou-se em algum momento desse percurso de quase
três décadas, a política do “Toma lá e não dá cá”, porque, principalmente, os Movimentos
Sociais organizados, sempre se empenharam em eleger os governantes e, mesmo não
serem recompensados, mantiveram o compromisso de defendê-lo. Mas, se do ponto de
vista ético é injusto, do ponto de vista político é ingênuo, isto porque, permanecer
por 580 em luta pela libertação de um candidato que, quando chegou à
presidência não distribuiu um palmo de terra para incentivar a luta das massas camponesas,
é incompreensível para qualquer nível de consciência.
Diante da conjugação infinitiva dos verbos: recuar,
esperar, proteger, relevar, entender etc., as forças de esquerda, diante do
êxito das vitórias eleitorais, partilhando os seus méritos com as forças politicamente
enfraquecidas do capital produtivo, dando a elas a vice-presidência e
ministérios valiosos, trocaram os escudos de aço, por frágeis armações de plástico,
com películas de papel transparente.
É importante destacar que, embora a tática eleitoral
possa constar da relação das tarefas históricas, ela precisa da atribuição do
peso correspondente à sua importância, pois, trata-se de uma tática dento da
estratégia maior. Para além disso, é importante perceber que, os resultados das
vitórias governamentais não mudaram a natureza do capitalismo e é por isso que
um governo da extrema-direita, na atual correlação de forças, com um mandato de
quatro anos, “passa a boiada”, sobre as florestas, por cinco mandatos
preservadas. Assim ocorre com as privatizações e com as liberalizações de
políticas anticulturais e antiética.
Se as forças históricas dos trabalhadores extraviaram e
esvaziaram as ofensivas contra o capital produtivo, que parece ter-se tornado
aliado dos governantes de esquerda e de quem torce pelo crescimento econômico,
sem distribuir a riqueza acumulada, é porque, também o inimigo mudou de
vestimentas e apresenta-se agora como capital especulativo, aliado das ideias
fantasiosas, teológicas e apocalípticas pela antecipação do fim do mundo, para
as posições contrárias. Isso tudo não se trata de um fenômeno espontâneo, de
ascensão ocasional, mas de uma ofensiva imperialista, capaz de converter as
profissões de Fé em seitas partidárias. Na medida em que foram restringidas as
ofensivas de esquerda, revolucionárias e religiosas críticas, abriu-se espaço
para se estabelecerem os fundamentos nas consciências pouco resistentes e catapultá-las
para o centro da política.
Se percebemos o inevitável já criado, pois o nazifascismo
é uma realidade no mundo, é necessário considerar que as barreiras construídas
nas últimas décadas foram insuficientes para contê-lo e, no caso, o poder na
institucionalidade, pode ruir em qualquer dia do calendário, oferecido para a realização
da “festa da democracia”, quando tudo desaba com uma simples derrota eleitoral.
O velho princípio de que “uma força se combate com outra força”, continua atual,
o que falta é se dar conta de que uma força política precisa ser organizada pelas
mãos humanas.
Portanto, não basta identificar os sinais de que a
extrema-direita está crescendo, é preciso desvendar porque ela cresce. Se é eleitoralmente,
por trás de cada voto e de cada parlamentar eleito, há uma cabeça e um corpo
ganhos e postos e movimento pelas ideias neonazistas. Por isso é que, o
fenômeno do crescimento dessas forças retrogradas, não é só de simpatia mas de
inserção em um projeto que identifica inimigos e doutrina as pessoas para combatê-los.
Conscientes de que a luta de classes não acabou, apenas a
organização de classe foi desfeita, resta decidir sobre quais será os meios a
serem utilizados para enfrentarmos o que sempre foi o poder dominante: o capital
e o Estado. No mais, crescer e decrescer são apenas vestígios de que algo está
virando ou pode virar no seus contrário.
Ademar
Bogo
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