O filósofo Georg Lukács ao aplicar no concreto, nos dirá
que “o critério sinalizador da relação correta entre partido e classe só podem
ser descobertos na consciência de classe do proletariado”.
De imediato percebemos neste pensamento, uma íntima
relação entre as três categorias: partido, classe e consciência. Superficialmente
podemos considerar que pouco ou quase nada há de novidade nesta trilogia. No
entanto, relendo o parágrafo encontraremos, sem desprezar as outras duas, o
acento maior na categoria da consciência; isto porque, é ela quem “sinaliza”,
aponta ou também indica, a relação correta a existir entre o partido e a
classe.
A
consciência é então, por essa visão, a categoria unificadora e sustentadora da
organização de classe. Esse destaque é tão importante que o filósofo chega a
dar razão a Bakunin, revolucionário anarquista russo, quando afirmou que, “numa
classe com unidade interna, a formação do partido seria algo supérfluo”. Não
resta dúvidas que a grandeza da consciência de classe é também sinônimo de
organização, de unidade e de luta de classes.
O
critério da consciência, porém, é pouco considerado na atualidade,
principalmente quando se trata de buscar a unidade de ação. As forças pouco
organizadas se unem com indivíduos avulsos, como quem é chamado para agir em
uma catástrofe de desmoronamento onde imperam pedidos de socorro. É evidente
que em uma situação de vida ou morte não cabe discussão; é preciso agir mais
com as forças físicas do que com as ideias. E, sem pestanejar, dar a mão para
qualquer braço estendido e distribuir magros sorrisos a quem se envolve,
oferecendo nem que seja um copo d´água.
Considerando
o desmoronamento do capitalismo nesta fase destrutiva e suas permanentes crises,
as ações emergentes permanentes tornaram-se obrigatórias para qualquer
indivíduo consciente que pense em política. Esta, por sua vez, tornou-se a arte
de, por um lado, “reunir os diferentes” e, de outro, “arrebanhar os igualados”,
formando dois contingentes sem classes que, presos por baixo dos escombros, pregam
a “reconstrução”. Para além disso, outra ideia une as duas partes, culpabilizar
os governantes por todos os males e derrocadas homicidas.
Agora
já podemos perguntar: seria a urgência do salvamento que leva as forças da
reunião dos diferentes a propor a reconstrução do capitalismo ou a falta de
consciência revolucionária para a superação do mesmo?
Como
estamos falando de Filosofia política, não custa trazermos presente também o
que Marx percebeu e escreveu sobre os economistas, no texto “Miséria da
filosofia”. Para os economistas, disse ele, só existem duas espécies de
instituições, as artificiais e as naturais. Nisso eles se parecem com os teólogos
que também estabelecem dois tipos de religião: a emanada de Deus e as outras como
invenções dos homens. “Dizendo que as relações atuais – as relações burguesas –
são naturais, os economistas dão a entender que é nessas relações que a riqueza
se cria e as forças produtivas se desenvolvem segundo as leis da natureza”.
Diante
disso, não é difícil concluir que, os economistas e os pastores atuais partem
do mesmo principio ilusório, de que, as relações de exploração, dominação e
interferência imperialista são naturais e só há uma verdade a ser seguida,
aquela emanada pela falta de consciência crítica, que vê na restauração das
relações capitalistas a salvação da miséria e da pobreza, quando na verdade
reforçam as medidas para mantê-las. Por isso, o discurso dos condutores dos
rebanhos, em nome da religião, culpa o comunismo e, o discurso das forças
presas ao economicismo, prega o amor contra o ódio, adequando-se à mesma ordem
salvadora.
Com o agravamento da pobreza, acentuando-se cada vez mais
para tornar-se estado de emergência permanente, a política passou a incorporar os
valores religiosos e, obrigou-se, devido ao enorme potencial eleitoral dos
pobres, a proceder a caridade institucionalizada; ou haveria alguma diferença
entre pegar uma cesta básica no salão do templo religioso ou ir ao Banco sacar
o valor do auxilio governamental e comprá-la?
O rebaixamento da consciência política em todos os
níveis, levou a substituir a organização de classe, seguindo o critério de
avaliação, pela “opinião das massas”, sobre quem poderá salvá-las e, esse
envolvimento das forças minimamente organizadas, nos processos eleitorais,
condenou a luta de classes a ser refém das prioridades emergenciais, ajudando a
prometer a solução economicista. Há, com isso, uma ausência de reação
determinada, pois, se contra os governos aliados não se luta; contra os
governos contrários, espera-se pela volta dos a favor, para não lutar.
É evidente que a devoção pela manutenção da ordem
capitalista é o endeusamento do Estado. Para o político, de esquerda ou de
direita, estar com o Estado, cria a mesma sensação do crente estar com Deus. Sendo
assim, se sem consciência o pastor transforma a religião em ópio somente dos
crentes, os políticos transformam as eleições em ópio de todos. Por isso, torna-se
fácil juntar os dois preceitos, reveladores da mais profunda ignorância: sem
religião e sem eleição não há salvação.
Entender que, consciência, classe e partido, não surgem
da natureza, precisam ser criados e alimentados pela luta de classes, é
entender que temos muito trabalho pela frente, não para restaurar o
capitalismo, mas para revolucionarmos a política. Não há outro caminho. Ou a
libertação vem a ser uma obra coletiva dos trabalhadores e massas exploradas,
ou seremos eternamente dominados pela alienação.
Ademar Bogo
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