Totalidade e mediação são duas categorias fundamentais do materialismo quando se pensa discutir o movimento das contradições, vistas em qualquer processo de superação. Interessa-nos hoje, aplicá-las na conjuntura política, para, desse emaranhado de probabilidades, extrairmos algum entendimento sobre a melhor saída par a decadência política.
É evidente que a política brasileira na atualidade, afundou-se
no pântano asqueroso da imoralidade. Não há nenhum sinal de que o atual governo
mereça ser considerado, isto porque, não entramos ainda no estágio da
ingovernabilidade porque, setores da economia, a força de algumas instituições
e a paciência popular, toleramos esse embuste criado a partir de 2016 pelo
capital especulativo, os meios de comunicação e as ameaças golpistas militar
das forças armadas.
Nas ultimas duas décadas, ou mais propriamente a partir
de 2008 quando se generalizou a crise do modelo neoliberal, por todos os
continentes e, o capital produtivo começou a perder espaço para o capital
especulativo, parasitário e violento, outras forças que não as da tradição
institucionalizadas, positivista e defensoras do badalado “Estado de Direito”,
mas, as vinculadas ao crime e ao caos, houve sem dúvida nenhuma, uma ruptura com
os princípios da manutenção da ordem. E, os estragos não são ainda piores porque
o representante maior dessa lógica insana, Donald Tramp foi derrotado nos
Estados.
Há respingos daquela ideologia ainda palpitando em alguns
lugares, como é o caso brasileiro, mas, a onda da crença na ordem e na
afirmação do progresso econômico, continua sendo afirmada em cada eleição
encerrada mundo afora. E se tivéssemos que simplificar a hipótese em discussão,
deveríamos dizer que, o capital produtivo entregou a responsabilidade para os
trabalhares e para as forças progressistas de salvaguardarem os princípios da
democracia burguesa representativa da ordem capitalista.
Não precisamos ir muito longe para comprovarmos essa
interação. Temos em nossa frente a aliança feita entre as duas principais representações
da luta de classes do Estado de São Paulo, na década de 1980, as quais haviam
produzido os dois maiores partidos políticos, PT e PSDB, que se digladiaram com
tenebrosas críticas, por diversas vezes, mas agora, de algum modo, independente
da sigla, as representações morais se unem para derrotar o mal maior do crime
organizado na política.
Já escrevemos sobre isto. Para tornar a Revolução
Francesa vitoriosa e implantar de vez o capitalismo, a burguesia produtiva correu
aos trabalhadores, embora com a intenção de subjugá-los, como força auxiliar, para
o triunfo sobre as forças representantes da velha tradição. Aquela burguesia
que, juntamente com os trabalhadores, compôs uma totalidade e afirmou o Estado
capitalista como mediação, para centralizar o poder político, pelas próprias
contradições geradas pela concentração do capital, foi derrotada pelo capital
fictício especulativo e outras formas do capital digital, narcotraficante etc.
Em decadência, a velha burguesia produtiva, obrigou-se a
recorrer novamente às massas trabalhadoras e setores progressistas da
sociedade; não mais como protagonista, mas como força auxiliar para não ser
totalmente subsumida pelo banditismo político, elevado ao governo, com o
suporte das forças armadas, um verdadeiro peso para o Estado, tendo as milícias
civis, como forças emergentes na sustentação da barbárie e da ordem ditatorial
paralela.
A aproximação entre Lula e Alckmin é a expressão dessa
tentativa limítrofe, para, com a mediação do Estado, sustentar a ordem
capitalista brasileira, com a economia de mercado razoavelmente funcionando e
com os direitos sociais e políticos em vigor. Se por um lado, esses objetivos,
civilizatoriamente são os mais adequados a serem defendidos e alcançados no
momento presente, não significa que eles sendo vitoriosos nas eleições, representem
a totalidade das forças envolvidas.
Na verdade, a totalidade das contradições, estrutura-se
sobre outras referências, que são a decadência irreversível do capitalismo e da
ordem estabelecida, e sobrevivem por meio da destrutividade e da absorção de
todas as riquezas naturais. Para esse processo destrutivo, a mediação é a
desordem e a violência, praticadas pelas próprias forças do capital
especulativo e setores marginais da civilização. O Estado, quando possível de ser
controlado, por meio de eleições ou golpes de Estado, é gerenciado como um
instrumento de desconstrução da engenharia política instituída; quando não controlado
por essa via, atua por meio de boicotes, pressões, ameaças de golpes e ações
incontroladas das milícias e das forças policiais imbricadas nas articulações
dos crimes.
Concluímos que a totalidade e a mediação, continuam sendo
as duas categorias fundamentais a serem consideradas como referências na
análise política. No entanto, investir apenas na mediação, entendida aqui como
a conquista de governos, sem o entendimento de que é preciso enfrentar a
totalidade das contradições capitalistas, é apenas propor-se a adiar a
verdadeira decadência.
Não podemos esquecer que, tanto as soluções quanto os
agravamentos das contradições, surgem, na evolução da mesma sociedade. Todos
sabemos que as forças do neopentecostalismo, as milícias voltadas para a
políticas, as concepções neofacistas etc. nasceram ou se fortaleceram enquanto
o PT governava o País e, por sua vez, faziam retroceder a organicidade das
forças populares.
Não basta garantir democracia representativa, é preciso
enfrentar as forças que propagam e investem na barbárie. O bolsonarismo não é
apenas uma excrescência do capitalismo, é também uma expressão antecipada do
pior que há de vir, se nada for feito. O capitalismo decadente tornou-se um terreno fértil para germinarem
tendências oportunistas e também ingênuas. É preciso avançar. Tomar o comando
da História e impor de vez a derrota definitiva aos militares e a todas as
forças aliadas do crime, que aprenderam com experiências como a do Haiti, como
podem jungir no mesmo projeto, o terror e o oportunismo político.
Ademar
Bogo
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