Este título pertence ao filósofo
alemão Hans-Georg Gadamer que entendeu ter, a linguagem filosófica, posições
conceptuais diversas em suas especificações conceituais: metafísicas, religiosas,
humanistas, racionalistas, criticas, analíticas, dialéticas, dentre outras
concepções que podemos acrescentar.
Segundo Gadamer as palavras que
usamos nos são tão familiares que chegamos a estar nelas. Logo, podemos deduzir
que, se estamos nas palavras que pronunciamos, aparecemos para o público que
nos ouve como seres cordiais ou ofensivos. E se “elas nos vêm e alcançam o
outro”, podemos considerar que as palavras que usamos, com más intenções, são
como objetos que atiramos contra as pessoas que não gostamos.
Para “pensarmos com a língua” podemos
relacionar as palavras e aquilo que elas expressam, como sendo objetos que
lançamos para fora da boca, medindo ou não os acordos e os desacordos que elas
causam.
O
primeiro destaque categórico para compararmos, palavra e atitude, que podemos
tomar como referência, é a “elegância”. A elegância, principalmente para os
círculos da elite e das classes médias, sempre representou a estética das
vestimentas e o cumprimento das regras da etiqueta social. No entanto, a “deselegância”
se mede principalmente pelas expressões linguístas. Por isso, quando vemos uma
autoridade prezar pela elegância impecável de suas vestes, mas a ouvimos dizer,
autoritariamente a outra pessoa: “Cale a boca”, as expressões são tão contraditórias
que a única impressão que podemos extrair desse incidente, é que tal autoridade
não merece estar no cargo que ocupa.
Para ilustrar ainda mais a natureza
dispare entre elegância e deselegância, podemos trazer para esta análise, o
provérbio português que expressa essa dissintonia: “Por fora, bela viola; por
dentro, molambos só”. Em outra versão: “Por fora bela viola; por dentro, pão
bolorento”. Ou seja, as “aparências enganam”, enquanto a boca estiver fechada.
Pensar com a língua significa
sopesar aquilo que a língua expressa, por isso, os gregos já diziam que “as
palavras têm peso”. Elas, quando atiradas indevidamente, caem como uma pedra na
cabeça das pessoas, principalmente quando falta com a sensibilidade. A relação
entre o sensível e o insensível, nos serve aqui como material para uma segunda
avaliação.
Uma autoridade sensível usa a
sensibilidade para atenuar a dor alheia. Seu comportamento o coloca no círculo
intimo das relações pessoais com o outro, que se sente confortado, como quando
o pai acalenta o filho. Não lhe tira a dor, mas ajuda a suportá-la. A
autoridade insensível, com palavras e atitudes, agrava a dor. Além de não
amparar o sofredor, despreza o seu momento de fragilidade e, ao pisar sobre os
sentimentos contraídos, ainda pergunta: “E daí?”. Essas letras atiradas contra
o luto, são como grãos de chumbo perfurando a carne. Elas causam revoltas e
desespero porque o verbo “desimportante”, conjugado na terceira pessoa da
insensibilidade, quer dizer mais do que, “ele não se importa”, mas, principalmente
é que o “eu” do sofredor, “não é importante”, talvez seja um número, igual ao
morto enterrado em vala comum, por uma máquina afirmando que a produção está
sendo em escala.
Outra palavra atirada pela
autoridade contra a nação, é a indiferença. Diferente não significa ser
desigual, mas, a indiferença pode ser a expressão de uma profunda perversidade.
Ser indiferente é julgar que, para ele “aquilo” não existe. A indiferença
ignora o que é, e afirma o que não é, em busca de uma satisfação pessoal. Ignora
para comprazer-se com as lamentações. O indiferente é sem dúvida nenhuma um
doente mental. A penúltima autoridade, vista na humanidade com esse tipo de
comportamento, foi Nero que, no ano 65 incendiou Roma para culpar os cristãos,
ao mesmo tempo que corria, com prazer entre as chamas, como se estivesse banhando-se
em uma chuva fina. A última autoridade ainda vive e zomba do isolamento social,
banhando-se no Lago Paranoá, passeando de Jet Ski, enquanto os cemitérios
testemunham a entrada de dez mil mortos vitimados pelo Covid-19. Quer como
Nero, o Bolsonero, como já foi chamado, que o fogo da febre viral queime os
pulmões de milhões de pessoas de uma só vez. É a fumaça romana, fétida e
vingadora que volta e extermina os idosos aposentados, os pobres favelados, os
índios e, quem sabe, muitos comunistas, artistas, professores e opositores.
O pensar com a língua nos ensina que
as palavras são como coisas atiradas, machucam e praticam ofensas. Elas se
tornam ameaçadoras e aparecem com maior veemência quando os sujeitos que as
expressam se sentem contrariados, ameaçados ou feridos em seus interesses.
Essas expressões tem se inserido na
prática política e refletem a desorganização da mesma. Na medida em que a
política é feita sem um ordenamento partidário, ela não tem, linguagem própria,
disciplina e unidade. Os palavrões assumem o lugar das propostas e, as
explanações vazias, o lugar da consistência teórica. Tudo isso identifica uma
facção, que representa sempre uma parte agindo contra o todo e, busca o apoio
espiritual das seitas religiosas, como veículo de transporte da ideologia
encobridora dos interesses escusos, locais e internacionais.
Se a elegância das vestimentas compõe o
cerimonial do cargo de uma autoridade, a deselegância no uso das palavras fere
a ética, a cordialidade e o bom senso. Só aceita ser governado por um atirador
de grosserias, o insensível alienado e de estrutura comportamental perversa
que, para o nosso desespero, não tem cura. Isto porque, ele se move pelo
princípio do prazer em detrimento de todos os valores morais. Sendo uma facção
política e paramilitar, esta de linguagem odiosa e desbocada, precisa ser
contida, e começa pela tomada de decisão
para fazer isto.
Ademar
Bogo
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