Hannah
Arendt quando escreveu o livro “Origens do totalitarismo” sintetizou o que
foram as investidas ditatórias, principalmente na Alemanha de Hitler, na Itália
de Mussolini e na Rússia de Stalin, como experiências efetivadas com o apoio
das massas aos ditadores que ascenderam legalmente ao poder.
Destacou a autora que o mal e o
crime exercem um poder muito grande sobre a “ralé”, que vê os atos de violência
cometidos por seus governantes, como esperteza. Pior ainda são as convicções
dos adeptos do totalitarismo que não se abalam com os crimes cometidos pelos
condutores do movimento totalitário.
De lá para cá os tempos mudaram, mas
a essência do movimento totalitário pouco mudou. O totalitarismo depende da superioridade
da força numérica disposta a se submeter, mas, mais ainda da força bruta e moral, no caso, pode ser
paramilitar, militar, jurídica, religiosa e política. Em grande medida, todas
as garantias constitucionais vão sendo suspensas e, por isso, vale a vontade e a
intencionalidade dos condutores desse processo, portanto, é
necessário que um grande contingente de massas aceite a servidão como valor
moral e político.
A virtude fundamental do movimento
totalitário é a capacidade que ele tem de atrair as massas a seu favor. Por
outro lado, a sua fraqueza está no desprezo que possui pela classe social. Vemos
então que é um movimento que necessita de aliados ao mesmo tempo que precisa
produzir inimigos para, com isso, animar os cidadãos indiferentes e desorganizados que nunca fizeram parte de alguma agremiação partidária. A verdade é que o
totalitarismo faz política por meio da aversão à política. São essas pessoas
indiferentes à política que, de repente, constituem a maioria e se coloca a
favor das forças que se dizem redentoras, justiceiras e punitivas de práticas,
pessoas e instrumentos tradicionais.
Teoricamente, o movimento
totalitário no governo, tendo à frente líderes de retórica demagógica, exalta
em geral as liberdades democráticas com o objetivo de, no particular, suprimi-las.
Nesse sentido, prega a liberdade de expressão mas assim que se sente acuado
por denúncias publicadas em veículos de comunicação, mesmo sendo de direita,
acusa de que eles agem contra os interesses do país e, a qualquer momento,
edita medidas para impedir a continuidade da divulgação dos fatos.
O uso da linguagem agressiva e dos
discursos separatistas visa, por meio da arrogância, confundir a opinião
pública como sendo atos de coragem e, quando não alcança realizar o mínimo daquilo
que foi prometido, colocam-se como vítimas atacadas por forças contrárias. Por
isso, as táticas usadas pelo totalitarismo é criar fatos que desviem as atenções,
enquanto os governantes implementam medidas ou ganham tempo para apresentarem justificativas.
No entanto, esses processos totalitários
na atualidade, devido à crise do capitalismo, tendem a não produzir resultados
duradouros e, por isso, a tendência é se desmoralizarem por completo. Isto
não significa que a superação dos mesmos seja feita com facilidade. As
respostas políticas mais duradouras na História, sempre foram construídas pela
relação de duas referências fundamentais: do partido político e a organização
classe social.
Essas duas referências, tanto o
partido quanto a classe social, no momento estão desarticuladas por duas
razões: a) a classe social se organiza quando há luta de classes e, b) o
partido político se organiza quando a classe social organizada, precisa de direção
para alcançar os objetivos políticos. As razões que nos levaram à situação que
nos encontramos hoje, com poucas condições de reagir ao totalitarismo estabelecido,
foram às transformações no mundo do trabalho, forjadas pela modernização
tecnológica que desestruturaram o conteúdo dos conceitos e os modelos de
organização das classes sociais; e, de outro modo, as opções políticas feitas a
favor dessa desestruturação, fez emergir da desorganização das lutas, as saídas
institucionais algemadas ao processo eleitoral que desatualizou a militância.
É importante compreender que o
momento atual, apesar das características próprias, não é incomum na História. Em
1962 com a ascensão do trabalhismo ao governo, tentou-se, pelas reformas
institucionais, garantir os direitos sociais, mas as forças totalitárias logo
em seguida, como em 2016 deram o golpe e implantaram os retrocessos. Mas, um
elemento, como uma maldição equipara os dois momentos, que é a crise do
capitalismo, agora muito mais agravada.
Na atualidade, o processo civilizatório
saturou o capital produtivo. Por não encontrar meios de destruir as mercadorias
para abrir espaço no mercado, busca diminuir a vida útil de cada objeto. Mas a
contradição maior está na produção com alta tecnificação que substituiu a força de
trabalho pelas máquinas, diminuindo os custos e com isso também o valor em cada
objeto. Sendo que os trabalhadores perderam o poder de compra, não há
consumidores para os produtos e, com isso o capital se converte em uma força
especulativa alimentando-se das finanças públicas cada vez mais escassas.
Com a globalização os espaços no
mercado foram ocupados e não há novos mercados para expandir o capital
produtivo, a última solução apontada pelos capitalistas é investi-lo em meios
para transportar pessoas e habitar outros planetas. Se esse deslocamento der certo,
o capitalismo renova temporariamente a capacidade regenerativa e, por um período
aliviará as suas crises de crescimento. Há, no entanto, dois comprometimentos
que inviabilizam a continuidade do capitalismo: a) a exaustão do planeta terra
e, b) o aumento contínuo da pobreza.
Sobre estas duas contradições é que
residem os caminhos para reabilitar as forças de esquerda. Nesse sentido, há que
fazer despertar o senso crítico e tal qual foi feito no final da década de 1970
e início da década de 1980, para enfrentar a ditadura militar, renovou-se as
formas organizativas. Desta vez com maior clareza de que o capitalismo precisa
ser superado ou não haverá futuro sobre a terra.
Ademar
Bogo
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