Há diferentes sentidos para o uso da
palavra mesa. “Sentar-se à mesa”, significa, reunir-se em torno dela, para
reuniões ou fazer refeições. Mesmo que ela seja incômoda, quando se quer, em
forma de retrato, guardar a fisionomia de todos os membros reunidos, aliás ela
foi um problema para Leonardo Da Vinci quando se propôs pintar o afresco da
Santa Ceia, obrigando-se a colocar os apóstolos em pé, amontoados ao lado do
Mestre, que por essa razão, não pôde ficar na ponta da mesma.
Há, na atualidade, um misto de
contestação e de implicância em relação à mesa e a metodologia de ensino. Para certas
correntes, inovação e boa educação é aquela em que “flui o diálogo”. Então
confundem educação com atos de inovar, dando voz ao educando que é portador de
saberes e, portanto, não pode somente ouvir. Nada mal. Já nos diziam os sábios
estudiosos do latim que, educo é
trazer para fora ou fazer sair o que está dentro. Esse aprendizado os antigos
gregos experimentaram com a maiêutica
de Sócrates, muito bem retratada no livro Menon de Platão. Ali aparece Sócrates
buscando resultados matemáticos com um jovem escravo através de perguntas
encadeadas.
Portanto, a exigência inovadora que
certos contestadores das aulas expositivas, dialogadas ou não, de costumeiro
uso na tradição escolar, não é tão nova assim. E, certamente não é por maldade
de nenhum abnegado professor, ter que expor conteúdos com os quais sistematiza
conceitos, ordena os temas e repassa conhecimentos, extraídos de inúmeras
leituras. Se os educandos detivessem em todas as disciplinas uma boa iniciação
teórica, poderiam aliviar as exposições invertendo-as para diálogos de elevado
grau.
Mas este ainda parece não ser o
ponto crucial. Uma aula de 50 minutos é longa para quem ouve e geralmente curta
para quem expõe. Imaginando poder inovar metodologicamente e substituir o “monólogo”,
o professor experimente uma exposição instrumentalizada lança mão do projetos
de imagens e textos e a aula fica ainda mais cansativa. Então organiza
seminários propondo que os educandos exponham através de grupos, determinados
temas. Melhora? Cada grupo reclama por não ter sido ouvido, porque a
apresentação de colegas “não tem profundidade. Resta ainda, dentre outras, a
possibilidade de realizar a leitura de um livro ou de textos indicados. Ora, aí
o tempo para ler um texto leva mais do que 50 minutos e continuamos no mesmo
sistema do aprendizado.
Sem cultuar as deficiências
metodológicas temos algo mais conspirador contra o professor no mundo
universitário que do ponto de vista político tentou-se denominar de “escola sem
partido”. No Ensino Médio redundou na possibilidade dos educandos montarem um
currículo, selecionando o que desejam estudar. Embora a escolha de cada
disciplina não eleja nenhuma metodologia, parece algo de suprema inovação. O
inovador não está no currículo, nem na metodologia fastidiosa contestada, mas
na órbita vingativa de impor a mordaça ao professor.
Esse descalabro em certas aulas ou
conferências, em nome da “democracia participativa”, vai além de inibir a
palavra do professor, acham que devem tirar-lhe também a mesa; aí sim ele será
obrigado a igualar-se aos alunos. É certo que a mesa nunca foi sinônimo de
sabedoria, ela mais serviu como instrumento de poder ou de apoio para descansar
os livros, e cadernetas. Mas ela tem a simbologia coordenadora, seja no âmbito
familiar, no consultório médico ou na sala de aula.
Consideramos que o interesse pela
eliminação da mesa, além dos motivos já citados favorece, em primeiro lugar, a
contestação ao valor do saber ouvir e, em segundo lugar, a imposição, sobre o
conhecimento, da espontaneidade do saber do Senso Comum.
O professor é a liderança do processo
educativo. Uma liderança interessa-se por cada um dos membros de seu grupo. Se está
bem. Se está evoluindo. Se tira notas boas, etc. Por isso, ele deve igualar-se
em todos os sentidos aos seus liderados, menos nas responsabilidades que são
unicamente sua e uma delas é superar o Senso Comum. É ir além da opinião do que
cada um acha sobre certos aspectos. É função dele preparar a aula com conteúdo
que vise elevar o nível de conhecimento e consciência.
Nesse sentido, como o cavalo de
Napoleão, a mesa é o instrumento do professor para fazer a guerra contra a
ignorância, contra o autoritarismo e a lei da mordaça. Ela representa, na
comparação com o âmbito familiar, com os joelhos da mãe, a quem a filho recorre
quando precisa de acolhimento. Por isso, professor e professora, não deixe que
lhe tirem a mesa, ela ainda é a simbologia da sua importância em sala de aula.
Ademar Bogo. Filósofo,
escritor e agricultor. Membro da Academia Teixeirense de Letras.
Para que a Universidade cumpra sua função social- formar profissionais , formar professores, desenvolver pesquisas e inovações tecnológicas -deve permanentemente aprimorar a metodologia de ensino que utiliza , pois o ensino superior de qualidade visa desenvolver habilidades /práticas que tornem os educandos "experts" na área a que se dedicam.
ResponderExcluirMuito se tem discutido acerca do caráter "autoritário " , " de cima para baixo " do ensino universitário tradicional , que privilegia o papel do professor como detentor absoluto dos conhecimentos e que exige dos alunos silencio respeitoso frente ao saber do Mestre. Observa-se que a crítica ao método tradicional é mais pronunciada nas áreas de ciências humanas ,mais discursivas , do que naquelas em que a formação profissional transita pela capacitação técnica
Mas em qualquer área acadêmica , cabe ao professor conduzir o processo educativo , é ele que apresenta a sistematização do saber acumulado ,que delimita o âmbito de validade das verdades/evidências de cada área , distinguindo tal saber do senso comum .
Ocorre que o estudar exige uma atitude ativa do sujeito que estuda , que precisa estar motivado com o processo para que desenvolva a disciplina mental e física que lhe permita tanto absorver os conceitos que balizam a área em estudo, quanto ter paciência para ficar horas " em cima dos livros".Por mais dedicado que seja o professor ele não ensina a totalidade do saber , assim , sejam as aulas expositivas ou dialogadas , cabe ao mestre ensinar aos discípulos onde buscar novos conhecimentos . Indicar as fontes já está de bom tamanho.
Karin Taborda - médica , lutadora do povo