Quando nos voltamos para a história,
percebemos o quanto a humanidade já fez por afirmar-se e superar-se. Só para
citar um exemplo, neste ano comemoraremos 100 anos da revolução Russa; mas podemos
comemorar tantas outras datas que, vitoriosas ou não, representam fatos marcantes
que obrigaram indivíduos, grupos, movimentos e classes sociais, agirem de
acordo com as condições presentes para afirmarem as suas convicções.
Iniciativas radicais ou não, foram
saídas que os sujeitos da história tiveram que formular contando com o que
tinham, mas, acima de tudo, baseados nas experiências passadas, buscaram não
repetir os equívocos e acrescentar aos acertos as suas próprias invenções.
É evidente que, quanto mais história
se tem para contar, mais as experiências ajudam a refletir. Os dirigentes da
revolução Russa de 1917, poucos triunfos tinham a seu favor, muito pelo contrário,
a Comuna de Paris, a mais expressiva manifestação socialista, estava a 46 anos apenas
de distância e a teoria sobre a transição socialista elaborada por Marx e
Engels ainda não tinha sido totalmente assimilada. De lá para cá, temos diversos
acontecimentos que nos ajudam a refletir, comparar e ponderar sobre as escolhas
a serem feitas diante das dificuldades colocadas que, para quem se propõe a
propor mudanças, devem levar ser consideradas.
De certo modo, podemos considerar
que, um pouco antes e depois da Revolução Cubana de 1959, tida como um farol
para a América Latina, tivemos três conformações políticas que ensaiaram
superações do capitalismo e que foram aniquiladas, transmutadas ou controladas
pelas forças da ordem dominante.
No aspecto das aniquilações podemos
considerar que o imperialismo norte-americano, com a ajuda das forças dominantes
locais, organizou diversos golpes de Estado e influiu para a destruição das
organizações que escolheram a luta armada como forma de luta para impulsionar o
processo de transição socialista.
De outra forma, no bojo das reações
populares que forçaram o processo de abertura política, em diversos lugares,
escolheu-se o caminho da institucionalidade para, por dentro da ordem, tentar
acumular forças e fortalecer o processo da transição para o socialismo. No
entanto, no decorrer das disputas houve transmutações de princípios, de métodos
e objetivos e, as derrotas vieram acompanhadas com um misto de desmoralização
das forças que depuseram as armas ou que simplesmente toparam aliarem-se as
classes dominantes em troca de assumir o compromisso de servir à mesma ordem.
Por último ainda restam alguns
redutos de formas organizativas que não cederam aos chamados para a conciliação,
mas que se encontram impedidas de crescerem e estão controladas em territórios
isolados do centro do poder dominante. Dentre os países cujas forças em tal
situação se encontram, destacamos a Colômbia e o México.
Da segunda tentativa, da
transmutação, que buscou enfrentar a dominação dos capitalistas, temos da mesma
forma, duas interpretações sobre o papel do Estado. Como primeira referência,
podemos citar a experiência brasileira a partir de 2003 até 2016, em que a
aliança entre a burguesia e as forças de esquerda, resultou no engrandecimento
do Estado, tendo em vista que ele foi a mediação para a implementação de
algumas melhorias nas políticas públicas. A Segunda referência ainda ocorre na
Venezuela, onde houve um rompimento político com a burguesia e o imperialismo,
mas não chegou ao grau da expropriação das forças produtivas; e lá também o
Estado foi fortalecido e reafirmado como instrumento de gerenciamento da ordem.
Diante disso, na medida em que temos
a responsabilidade de retomar o destino da transição para o socialismo, é
importante considerar as iniciativas adotadas desde a Comuna de Paris, as
revoluções: russa, chinesa, vietnamita, cubana e nicaraguense, passando pelas lutas
populares de independência na África, e todas as reações realizadas na América
Latina.
No entanto, não basta que olhemos
para trás, é importante que nos debrucemos sobre os problemas filosóficos do
tempo presente, por exemplo: sobre o que é o trabalho hoje? O que são as
classes sociais na atualidade? O que é ser sujeito da história? O que é o
partido político? O que é a transição socialista? Pelo menos isso. Seguindo
estas questões, aprenderemos a formular outras que ajudam a elaborar o programa
que estabelecerá as diretrizes para errarmos cada vez menos.
Ademar Bogo. Filósofo, escritor e
agricultor. Membro da Academia Teixeirense de Letras.