Para algo ser verdadeiro, a aletheia ou verdade, desde a Antiga
Grécia precisa ser revelada. Ou seja, precisa tirar da ocultação desocultando o
ocultado. Simplificando, é trazer para o mundo da evidência aquilo que está
escondido para mostrar como realmente é.
Cada geração vive em cada tempo as suas desocultações.
Há verdades reveladas e estagnadas; há verdades ainda por serem conhecidas e outras
que ainda não estão totalmente formadas que precisam de tempo para crescer e se
fazerem conhecer. Dessa forma, há verdades que demoram a vir à tona e, muitas
delas, tardiamente podem ser explicadas ou ignoradas e ultrapassadas sem serem
conhecidas.
Na filosofia, Marx e Engels, possuem
várias dessas verdades decifradas que são frequentemente obscurecidas, mas
também reabertas. Dentre elas temos a que diz que, “a classe que tem à sua
disposição os meios de produção material dispõe também dos meios de produção
espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo
os pensamentos aos quais faltam os meios da produção espiritual”.
Temos duas verdades reveladas neste
pensamento. A primeira corresponde à classe dominante burguesa, proprietária
dos meios de produção de mercadorias. A segunda, origina-se do pensamento de
Hegel, que se refere a três espíritos: objetivo, subjetivo e absoluto, correspondendo
os dois últimos à consciência humana e às ideias que pensam outras ideias,
mediadas aí pelos indivíduos, o Estado e também as divindades.
Marx e Engels, vão do concreto ao
abstrato. Simplificando, poderiam ter dito eles que o trabalhador não é dono
dos meios de produção de mercadorias, como também não é dono de escola, jornal,
igreja, etc. Logo, se os trabalhadores produzem com os meios alheios, estão
submetidos às ordens, os pensamentos e as orientações espirituais dos
proprietários.
O que temos de importante nessa
verdade, constantemente atualizada? Temos que, se a classe é a mesma, os meios
de produção, materiais e espirituais ou intelectuais, embora aparentem estarem
dissociados, estão muito bem articulados. Daí a facilidade de entendermos a relação
que há entre o golpe de agosto de 1916 e a mídia; a PEC 55 e a reforma da educação,
a reforma da previdência, a reforma política, os crimes evidenciados na
operação “lava jato” e todas as conspirações nos podres da República.
A verdade absoluta é que, as
instituições públicas sempre funcionaram como mediações para favorecerem
indivíduos e interesses privados. É da natureza do próprio Estado, pela sua
forma de poder político centralizado, ser o sustentador da ordem no
capitalismo. Nesse sentido, se o Estado, mais propriamente os três poderes da
República atuam para favorecer a ordem, não podem desarrumar as diferenças existente
entre as classes.
Há os que enganam e ao enganar
enganam-se a si próprios, que se pode dar jeito no capitalismo subindo pelos
degraus da institucionalidade. Quando se dão conta percebem que foram
envolvidos em tramas, que a dor causada tem a mesma proporção do prazer sentido.
É hora de perceber que a crise do
capitalismo é também a crise do modelo de Estado, cujos poderes, executivo,
legislativo e judiciário, já não podem ser democráticos nem tolerantes. A luta
pela superação do modo de produção é também a luta pela superação do Estado. Tentar
assumi-lo para moralizá-lo é propor-se a resolver a crise do capitalismo para
os capitalistas, punindo e explorando ainda mais os trabalhadores. Daí que,
avançar um passo em uma década, para retroceder dois na outra, não é uma boa
proposta para nenhuma geração.
Ademar
Bogo. Filósofo, escritor e agricultor.
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