O tema da educação é tratado desde a
Grécia Antiga com os sofistas tidos como os primeiros professores pagos, até os
nossos dias quando, intelectuais orgânicos e responsáveis, recolhem todos esses
pensamentos e os colocam à disposição para que a humanidade conheça os caminhos
por onde passou o conhecimento.
Nesse sentido, é inegável o papel da
educação na História feita, e deverá ser para continuarmos fazendo a História.
Há quem exagere e coloque a educação como a atividade imprescindível para a revolução. Há
quem pense o contrário, como o filósofo Sócrates que, para provar a Mênon, que
um analfabeto tinha o poder de ensinar, chamou um escravo de seu interlocutor e
comprovou pelas respostas recebidas às perguntas feitas, que ele era detentor
de conhecimentos interessantes.
Do formato da escola antiga à “escola
sem partido”, há, não apenas uma distância estabelecida pelo tempo, como também
uma pretensiosa comparação que se dá pela sabedoria estacionada, combinada com
um saber educador. Daí a importância de conhecermos os feitos históricos para
que as experiências, como a do escravo de Mênon, não se percam, mas se reconheçam
que o escravo apenas expressara a ordem de sua educação adquirida na prática,
quando foi por Sócrates interrogado.
Mudar para educar. Ou seja, há modos
e conhecimentos que já estão assimilados, às vezes esquecidos que precisam ser
rememorados, outros, precisam ser avaliados, redefinidos e qualificados. É aqui que se justifica a preocupação de Marx
quando disse que, “o educador precisa ser educado”.
É claro que falamos em “educador” no
sentido figurado, isto porque, considerando o que diz o filósofo Jörgen
Habermas, que as relações vão além da produção, elas interagem com o “mundo da
vida”; por isso, tudo está relacionado com o aprendizado.
Mas como mudar para educar? Cada qual
deve buscar responder de onde está olhando; se na escola ou na luta política,
não importa, temos que evoluir. Tomemos então as lutas em andamento. Ocupações
de escolas e as mobilizações que oscilam entre a repetição das formas
assimiladas e a separação da forma partidária. Em certo sentido precisaríamos reformular o
tema e colocá-lo da seguinte forma: “mudar para deseducar”, porque, nas circunstâncias
atuais, quem se educa pela repetição, também caduca.
Temos em “movimento”, contra os desígnios
do golpe parlamentar, dois expoentes: as velhas forças de organizações que vêm
de um aprendizado passado; portanto, formas e forças educadas para
reinvindicarem ou contestarem, presas à conduta
institucionalizada, cuja perspectiva, descamba para as eleições de 2018. No outro pólo, as ocupações das escolas, “despartidarizadas”,
desintegradas e desarticuladas. Apontam elas para a perspectiva de barrar a
reforma do ensino, portanto, incertas na continuação.
Se do ponto de vista da educação
histórica, a experiência dos mais velhos deveria educar os mais novos e dizer,
pelo menos, que não cometam os mesmos erros, não sabemos se estas forças estão
no lugar de Sócrates, que fazia as perguntas, ou no lugar do escravo que
somente respondia aquilo que lhe era perguntado. Se, no lugar do primeiro, as
perguntas não criam nenhuma curiosidade e a população não se move nem se soma para
junto reagir. Se no lugar do escravo, as perguntas direcionadas fazem com que
as respostas fiquem no âmbito da trivialidade das perguntas da agenda burguesa e ninguém aprende.
E as ocupações das escolas? Elas são
importantes e educam a juventude que, por sua vez, rejeita o educador
partidário. Este educador, rejeitado como Sócrates pelos atenienses, que o acusaram
de perverter a juventude e ofender os deuses, agora é atacado pelas leviandades da mídia que leva a população a rejeitar as formas organizativas e
a política. Sem a forma partidária, ou seja, sem a associação da parte consciente,
não se amplia a unidade, a organização e a influência sobre a população na sociedade. Ocupar
escolas para dialogar entre si, é repetir os ensinamentos da luta pela terra,
que ocupava e se isolava ou da greve corporativa que não se alastrava para fora da categoria.
Mudar para educar, na política, é
ter em mente que já não se pode lutar com a minoria para beneficiar a maioria. As
pautas pontuais constroem a luta política, quando evoluem nos métodos e na forma
de organização de natureza partidária da maioria, que nada tem a ver com os partidos da ordem, a não
ser a ordem de superá-los. É tempo de mudar para educar para um novo tempo.
Ademar Bogo, filósofo e escritor. Autor
do livro: Organização política e política de quadros.
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