domingo, 18 de fevereiro de 2024

EM BUSCA DE OUTRO CAMINHO

 

                 Em memória dos cem anos de sua morte, este ano de 2024 será todo ele dedicado a Vladimir Ilich Lenin. Não se trata de render culto a um grande líder como se a história tivesse dependido apenas de um indivíduo para ser confirmada como vitoriosa; embora seja verdadeiro afirmar que pela sua tenacidade, os indivíduos, com suas descobertas e inventos direcionam os destinos da humanidade, sempre há uma ligação e dependência de toda a social.

Lenin foi um militante convicto de que a realidade socioeconômica e política russa deveria ser mudada. Aprendeu ainda na adolescência o que era a exploração econômica e a opressão política, quando o irmão mais velho, Alexandre Ulianov, o qual lhe apresentou os escritos de Karl Marx, portanto, aprendeu a interpretar as contradições sociais, independente de outras influências, religiosas ou reformistas, mas com o uso direto do Materialismo Histórico.

A presença do irmão na formação de Lenin, além de teórica e moral revolucionária, também se deu pelo exemplo intelectual e político. A capacidade de formulação e elaboração de Alexandre chamou a atenção dos professores na Universidade de Petersburgo. Já nos primeiros meses de aula, no curso de zoologia e química sua inteligência ganhava destaque. Porém em 1º de março de 1887, a notícia de detenção do rapaz, por ter participado de um atentado contra o tzar Alexandre III, abalou todas as expectativas.  A prisão lhe rendeu a condenação à pena máxima e, em maio do mesmo ano, com 21 anos de idade, Alexandre foi executado.

Lenin com apenas 17 anos presenciou o julgamento do irmão e, ao ouvir as argumentações condenatórias, percebeu os vários entraves e impossibilidade de fazer política por meio dos dois agrupamentos clandestinos em vigor: os populistas, mais intelectualizados que se ligavam aos camponeses e, os terroristas, mais radicalizados que se guiavam pela tática de assassinar as autoridades. Propenso a estudar Direito e pelas evidências equivocadas na opção política do irmão, deu-se conta Lenin e sentenciou como conclusão pessoal: “Não é esse o caminho que devemos seguir”.

Mas qual seria o caminho? Vigiado pela polícia, primeiro, no ano do enforcamento do irmão teve dificuldades para ser aceito na universidade de Direito e, segundo, após ter conseguido, em dezembro do mesmo ano de 1887, envolveu-se em um protesto de estudantes contra o regulamento da universidade. A repressão foi exemplar, Lenin, além de ser expulso da Universidade, também foi proibido de viver naquela cidade de Kazan e foi deportado para a aldeia de Kokúshkino, lugar onde se encontrava Ana a irmã mais velha que havia sido condenada por ter participado do mesmo atentado contra o tzar.

Essa deportação para uma aldeia interiorana e, passando a viver com os camponeses pobres, Lenin reviveu as façanhas de seu pai que, como inspetor de escolas primárias, após longos períodos de ausência retornava e narrava para a família, os apertos e fugas das perseguições dos grandes proprietários de terra. Dessa forma, embora sendo um jovem estudante, interessou-se pelos problemas agrários e se predispôs a estudá-los.

Nas obras completas de Lenin, data de 1893 o primeiro longo estudo manuscrito feito sobre o livro de V. E. Postnikov, funcionário do Departamento de Terras do Fisco da província de Táurida. A profundidade da análise e a veracidade dos dados, permitiu a Lenin, compreender como estava estruturada a agricultura, as formas de trabalho e os dilemas existentes entre os camponeses pobres. Ao mesmo tempo que continuava os estudos sobre as obras de Karl Marx e Friedrich Engels, das quais destaca-se “O capital: crítica da economia política”, investiu no mesmo ano, com 23 anos de idade em outro ensaio, “Sobre a chamada questão dos mercados”, perguntando-se se podia na Rússia desenvolver-se o capitalismo quando as grandes massas eram empobrecidas cada vez mais?

Nos anos seguintes enquanto lutava para prestar exames e concluir o curso de Direito, escreveu ainda sobre “Quem são os amigos do povo e como lutam contra os socialdemocratas”, em resposta a diversos artigos que circulavam conta a teoria marxista e, outro, “O conteúdo econômico do populismo”. Além de tecer comentários sobre as obras de Marx, traduziu, em 1892 para o russo o “Manifesto do partido comunista”.

No ano de 1895, apesar da vigilância policial decidiu mudar-se para Petersburgo, um grande centro operário e ali passou a participar de círculos de reuniões e viajou para alguns países da Europa em busca de contatos e cópias da literatura marxista. Na França, em contato com Plekanov, um velho militante marxista exilado, juntos criaram uma coletânea de textos para ser lida pelos operários russos.

No final de 1895 com bastante esforço as diversas visões nos diferentes círculos operário decidiram criar a “União de luta pela libertação da classe operária”. De imediato editaram o jornal “A causa operária”, mas, no fechamento da primeira edição Lenin e os demais editores foram presos, posteriormente condenados e, em 1897 foram enviados  para cumprir três anos de pena na Sibéria, lugar de difícil retorno.

De volta ao campo, deparou-se com a pobreza extrema das aldeias. Lenin retomou os estudos e, desta vez, escreveu um grande e completo tratado, concluído em 1899, com o nome “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”, dando conta de todas as contradições concretas e diferenças de concepções teóricas.

Em 1898 chegou à mesma aldeia onde Lenin cumpria pena, sua noiva Nadjda Krupskaia, presa também por conspiração contra o tsar e, ao informar que em março daquele ano, na reunião para criar o partido político, os nove delegados foram presos enquanto realizavam o congresso de fundação. Imediatamente Lenin iniciou a preparar os documentos para a realização do segundo congresso, realizado com sucesso em 1903.

Em síntese, devemos concluir dessa primeira rememoração, que os indivíduos têm um papel na história, mas ele dependem das escolhas a serem feitas e, além da clareza do caminho que se quer seguir e onde chegar, é importante conhecer a realidade, como ela é para transformá-la em como se deseja tê-la.

A teoria revolucionária abrange todo o conhecimento da realidade em todos os seus aspectos. É sobre essa realidade conhecida que se coloca o movimento revolucionário, daí é muito fácil diferenciar o que é “burocracia democrática” e o “processo revolucionário”: enquanto a primeira administra para manter tudo como está, a segunda revoluciona o como está, para fazer ficar tudo como se deseja.

O estudo, não importa onde seja elaborado é fundamental e, ao mesmo tempo a organização é imprescindível. Essas duas forças, somadas à coerência política levam a dar um novo rumo para a história de cada país.

                                                           Ademar Bogo

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