Em memória dos cem anos de sua morte, este ano de 2024 será todo ele dedicado a Vladimir Ilich Lenin. Não se trata de render culto a um grande líder como se a história tivesse dependido apenas de um indivíduo para ser confirmada como vitoriosa; embora seja verdadeiro afirmar que pela sua tenacidade, os indivíduos, com suas descobertas e inventos direcionam os destinos da humanidade, sempre há uma ligação e dependência de toda a social.
Lenin
foi um militante convicto de que a realidade socioeconômica e política russa
deveria ser mudada. Aprendeu ainda na adolescência o que era a exploração
econômica e a opressão política, quando o irmão mais velho, Alexandre Ulianov,
o qual lhe apresentou os escritos de Karl Marx, portanto, aprendeu a
interpretar as contradições sociais, independente de outras influências,
religiosas ou reformistas, mas com o uso direto do Materialismo Histórico.
A
presença do irmão na formação de Lenin, além de teórica e moral revolucionária,
também se deu pelo exemplo intelectual e político. A capacidade de formulação e
elaboração de Alexandre chamou a atenção dos professores na Universidade de
Petersburgo. Já nos primeiros meses de aula, no curso de zoologia e química sua
inteligência ganhava destaque. Porém em 1º de março de 1887, a notícia de detenção
do rapaz, por ter participado de um atentado contra o tzar Alexandre III,
abalou todas as expectativas. A prisão lhe
rendeu a condenação à pena máxima e, em maio do mesmo ano, com 21 anos de idade,
Alexandre foi executado.
Lenin
com apenas 17 anos presenciou o julgamento do irmão e, ao ouvir as
argumentações condenatórias, percebeu os vários entraves e impossibilidade de
fazer política por meio dos dois agrupamentos clandestinos em vigor: os
populistas, mais intelectualizados que se ligavam aos camponeses e, os
terroristas, mais radicalizados que se guiavam pela tática de assassinar as
autoridades. Propenso a estudar Direito e pelas evidências equivocadas na opção
política do irmão, deu-se conta Lenin e sentenciou como conclusão pessoal: “Não
é esse o caminho que devemos seguir”.
Mas
qual seria o caminho? Vigiado pela polícia, primeiro, no ano do enforcamento do
irmão teve dificuldades para ser aceito na universidade de Direito e, segundo,
após ter conseguido, em dezembro do mesmo ano de 1887, envolveu-se em um
protesto de estudantes contra o regulamento da universidade. A repressão foi
exemplar, Lenin, além de ser expulso da Universidade, também foi proibido de
viver naquela cidade de Kazan e foi deportado para a aldeia de Kokúshkino,
lugar onde se encontrava Ana a irmã mais velha que havia sido condenada por ter
participado do mesmo atentado contra o tzar.
Essa
deportação para uma aldeia interiorana e, passando a viver com os camponeses pobres,
Lenin reviveu as façanhas de seu pai que, como inspetor de escolas primárias,
após longos períodos de ausência retornava e narrava para a família, os apertos
e fugas das perseguições dos grandes proprietários de terra. Dessa forma,
embora sendo um jovem estudante, interessou-se pelos problemas agrários e se
predispôs a estudá-los.
Nas
obras completas de Lenin, data de 1893 o primeiro longo estudo manuscrito feito
sobre o livro de V. E. Postnikov, funcionário do Departamento de Terras do
Fisco da província de Táurida. A profundidade da análise e a veracidade dos
dados, permitiu a Lenin, compreender como estava estruturada a agricultura, as
formas de trabalho e os dilemas existentes entre os camponeses pobres. Ao mesmo
tempo que continuava os estudos sobre as obras de Karl Marx e Friedrich Engels,
das quais destaca-se “O capital: crítica da economia política”, investiu no
mesmo ano, com 23 anos de idade em outro ensaio, “Sobre a chamada questão dos
mercados”, perguntando-se se podia na Rússia desenvolver-se o capitalismo
quando as grandes massas eram empobrecidas cada vez mais?
Nos
anos seguintes enquanto lutava para prestar exames e concluir o curso de
Direito, escreveu ainda sobre “Quem são os amigos do povo e como lutam contra os
socialdemocratas”, em resposta a diversos artigos que circulavam conta a teoria
marxista e, outro, “O conteúdo econômico do populismo”. Além de tecer
comentários sobre as obras de Marx, traduziu, em 1892 para o russo o “Manifesto
do partido comunista”.
No
ano de 1895, apesar da vigilância policial decidiu mudar-se para Petersburgo,
um grande centro operário e ali passou a participar de círculos de reuniões e
viajou para alguns países da Europa em busca de contatos e cópias da literatura
marxista. Na França, em contato com Plekanov, um velho militante marxista
exilado, juntos criaram uma coletânea de textos para ser lida pelos operários
russos.
No
final de 1895 com bastante esforço as diversas visões nos diferentes círculos
operário decidiram criar a “União de luta pela libertação da classe operária”.
De imediato editaram o jornal “A causa operária”, mas, no fechamento da
primeira edição Lenin e os demais editores foram presos, posteriormente condenados
e, em 1897 foram enviados para cumprir
três anos de pena na Sibéria, lugar de difícil retorno.
De
volta ao campo, deparou-se com a pobreza extrema das aldeias. Lenin retomou os
estudos e, desta vez, escreveu um grande e completo tratado, concluído em 1899,
com o nome “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”, dando conta de todas
as contradições concretas e diferenças de concepções teóricas.
Em
1898 chegou à mesma aldeia onde Lenin cumpria pena, sua noiva Nadjda Krupskaia,
presa também por conspiração contra o tsar e, ao informar que em março daquele
ano, na reunião para criar o partido político, os nove delegados foram presos
enquanto realizavam o congresso de fundação. Imediatamente Lenin iniciou a preparar
os documentos para a realização do segundo congresso, realizado com sucesso em
1903.
Em
síntese, devemos concluir dessa primeira rememoração, que os indivíduos têm um
papel na história, mas ele dependem das escolhas a serem feitas e, além da
clareza do caminho que se quer seguir e onde chegar, é importante conhecer a
realidade, como ela é para transformá-la em como se deseja tê-la.
A
teoria revolucionária abrange todo o conhecimento da realidade em todos os seus
aspectos. É sobre essa realidade conhecida que se coloca o movimento
revolucionário, daí é muito fácil diferenciar o que é “burocracia democrática”
e o “processo revolucionário”: enquanto a primeira administra para manter tudo como
está, a segunda revoluciona o como está, para fazer ficar tudo como se deseja.
O
estudo, não importa onde seja elaborado é fundamental e, ao mesmo tempo a organização
é imprescindível. Essas duas forças, somadas à coerência política levam a dar
um novo rumo para a história de cada país.
Ademar
Bogo
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