O filósofo francês
Henri Lefebrve (1901-1991) destacou que: “O marxismo considera-se uma concepção
do homem e da história, do indivíduo e da sociedade, da natureza e de Deus; uma
síntese geral, ao mesmo tempo técnica e prática, em suma, sistema totalitário
(da totalidade)”.[1]
Esse entendimento do passado e, mais fortemente a partir
da década de 1970, com a onda política neoliberal, posteriormente, pontuada por
algumas discordâncias, no caso brasileiro, com o neodesenvolvimentismo e o neonazismo,
mostra-nos que restrições houve, foi na contenção dos gastos e nas políticas
públicas; no resto, o capital continua exigindo a sua total liberdade, a propriedade
privada exige a garantia da lei e da moral capitalista e, a manipulação ideológica
continua presente nos púlpitos das seitas, nos discursos tolerantes dos líderes populares, representantes
de movimentos descarnados e minguados em suas forças já sem rebeldia; os
partidos políticos, sustentados pelo Fundo Partidário completam o grau de
acomodamento e interação com a concepção de mundo sem classes e sem confrontos.
As pessoas, portadoras do nível de consciência situado um
pouco acima da média do senso comum, criado pelos conciliadores, percebem
facilmente que o capitalismo já não serve mais como modo de produção para que a
civilização siga em frente. Esse sistema, podemos chamar assim, está organizado
para reproduzir o capital e concentrá-lo em poucas mãos. Para que isso siga
acontecendo os requisitos básicos se concentram na máxima exploração da
natureza, na livre iniciativa, no direito e nas leis protecionistas combinado
com o funcionamento de sociedades desiguais, uma pequena parte muita rica e a
outra imensa parte miserável.
A pergunta a ser feita a essas pessoas que compreendem
ser o capitalismo um estágio terminal de muitas formas de vida e que o
progresso não é benéfico quando não contempla a igualdade de renda e de
condições para ter acesso aos bens de uso, se é possível enfrentar as contradições postas em vista de outra sociedade
socialista sem a teoria do Materialismo Histórico, também conhecida como
Marxismo?
Parece que dentre as concepções totalizantes citadas por
Lefebrve no primeiro parágrafo, apenas a preocupação com a “natureza” está se
tornando o referencial das discussões em reuniões políticas internacionais e,
também impõe as suas diretrizes e demandas no que fazer dos movimentos e
partidos políticos. Falta apenas uma palavra de ordem para reunir os interesses
entre os governos e as classes sociais, para criar o senso comum rebaixado, que poderia ser: “Deem-nos
dinheiro para plantarmos árvores e salvaremos o planeta”.
Foi-se o tempo em que o verde da natureza sequestrava a
totalidade do carbono expelido no espaço. O progresso capitalista, sob a égide
do liberalismo e, principalmente do neoliberalismo, implementou e acelerou o
desequilíbrio social e ambiental. Os comparativos mostram, sem detalhamento
que, por volta do ano de 1800 quando o
modelo liberalizante começou a reinar, a população mundial era de 1 bilhão de
pessoas. De lá para cá, em pouco mais de duzentos anos, alcançamos uma meta de 8 bilhões de indivíduos e, para acumular
riqueza em troca de satisfazer esse grande número de pessoas, precisou
desmatar, poluir, envenenar e, controlar, dominar e exaurir a natureza.
Vemos, portanto, que parece haver um paradoxo bem na
frente dos olhos das pessoas conscientes, o qual pode ser assim descrito: Os
mais ricos são responsáveis pela poluição do planeta e a despoluição é
responsabilidade de todos, mas isto tem um custo que os ricos precisam assumir.
Mas se os ricos darão o dinheiro extraído dos ganhos fornecidos pela matriz
produtiva poluidora, o que mudará no final?
Muitas iniciativas ainda surgirão espontaneamente que
mobilizarão as pessoas voluntariamente a plantarem árvores. Alguns receberão
pagamentos por deixarem as fazendas intactas, mas ninguém se pergunta como será
feito o controle da acumulação do capital? Quando será distribuída a riqueza
acumulada? Quem educará os incendiários a deixarem de pôr fogo nas florestas?
Qual governante imporá limites para o tamanho máximo da propriedade rural? Que
dia se tomará a decisão de fechar todos os poços de petróleo obrigando as
indústrias produzirem voltadas para as energias limpas? E, principalmente, como os miseráveis sairão
da miséria desvencilhando-se do domínio alienador das bolsas de assistência
públicas?
O estudo do Materialismo Histórico, facilmente nos remeterá
a perceber as contradições atuais para saberemos como ligar as partes para
formar um todo articulado. Nesse sentido, iremos descobrir que devemos apagar
os incêndios, mas atacar o capital; combater a poluição, mas atacar os
poluidores; solidarizar-nos com os mais pobres, mas atacar a concentração da
riqueza. Valorizar e selecionar o conhecimento humano, as descobertas e os
inventos, mas combater o capitalismo e lutar para superá-lo, se quisermos de
fato contribuir com as novas gerações.
Nossas tarefas são práticas, mas as práticas feitas
precisam de teoria para continuarem a serem feitas. Todas as teorias que visam a
superação do capitalismo, em algum grau pertencem a Histórico, mas, os socialistas
e comunistas devemos sempre defender que: Sem marxismo não haverá socialismo.
Ademar
Bogo
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