Vladimir Lenin, ao estudar a Lógica dialética de Hegel para aplicá-la na política, compreendeu que: “Antagonismo e contradição não são de maneira alguma uma e a mesma coisa. No socialismo, o primeiro desaparecerá e a segunda subsistirá”. Diante disso, a revolução moveu-se dirigida pela lei fundamental da dialética da “unidade e luta dos contrários”.
Se
hoje ainda falamos dessa lei: “Unidade e luta dos contrários”, descoberta ainda
por Heráclito, há cerca de 500 anos antes de Cristo, significa que não há
realidade sem movimento e nem movimento sem contradição. As coisas não são como
são, mas estão sempre sendo. Aparentemente não mudam ou mudam tudo, mas na sua
essência evoluem de acordo como as forças se enfrentam.
Em
uma sociedade de classe a economia se confunde com trabalho e a política com a
Arte. Na primeira a grande maioria da população se envolve para dar conta de
suas necessidades, na segunda, uma minoria se dedica a interpretar, propor e
realizar a conciliação entre o todo e as partes. O problema dos conciliadores é
que eles ignoram as implicações propositais existentes entre o capital e o
Estado.
Há
uma tendência em construção nas últimas duas décadas, buscando dar conta para a
colocação das forças no cenário político envolvendo-as todas sem distinção com
a inserção no governo. De algum modo e, em algum nível, funciona a situação e a
oposição. Simploriamente, isto é visto como a melhor das democracias: um ganha,
o outro perde. O respeito pelas instituições e ao “Estado democrático de
direito”, são para ambos os lados, dois princípios fundamentais, pois, ambos
anseiam em realizar o lema positivista: a “Ordem e o progresso”.
Nessa
perspectiva, o agravante maior situa-se na crença que, conciliando a relação
entre as classes o antagonismo e as contradições são amenizadas; o capital e o
Estado passam a favorecer a todos sem distinção. Daí o entendimento que, como
se não vivêssemos no capitalismo, os artistas da política podem voltar na
oficina do tempo e resgatar os restos de modelos econômicos encostados e recolocá-los
em funcionamento. Emenda-se, solda-se um pedaço de um veículo no outro e tem-se
então um novo artefato remendado com a agro exportação, os investimentos
estatais na infraestrutura e a parceria público privada, com o capital,
investindo naquilo que lhe é seguro e apetitoso.
Entre
o antagonismo e a sua superação buscam os da arte política colocar a
conciliação. Há quem concorde defendendo que política é para isso mesmo. Mas o
problema maior é desconhecer que, no capitalismo tudo pode ser feito se forem
mantidas as leis tendenciais do capital, de explorar, acumular e se expandir. A
lógica de que, por um tempo “todos ganham”, faz ignorar as contradições
estruturais que indicam também antagonismos irreconciliáveis. Como isso acontece?
De forma simples: hoje somos todos chamados para construirmos a infraestrutura
da exploração, por isso, todos comem, muitos arranjam empregos, mas, amanhã,
terminado o serviço, a fome e o desemprego voltam. Por que voltam? Pelo fato de
ter-se ajudado a fortalecer a estrutura e a pavimentar o caminho da acumulação
do capital.
Com
euforia das vitórias eleitorais, vem a cegueira de que as classes dominantes já
não são vistas, elas andam pela sombra porque, sob a luz dos holofotes agora aparecem
os que vão, ingenuamente trabalharem para ela. Eles querem dar aos pobres sem
tirar nada dos ricos, ao contrário, querem dar o peixe, ensinar a pescar e, ao
mesmo tempo, convocar para ampliar o açude que será cercado em seguida na terra
dos novos coronéis. Ou seja, de que vale saber pescar se o acesso ao açude estará
impedido.
A
gravidade dessas iniciativas é ainda mais perversa quando se olha no entorno
das forças que se propõe a governar “para todos”, pois, vão descartando todas
as ofensivas e esperam pelos benefícios. Esquecem esses seguidores dos
conciliadores, que na política, o tempo geracional é mais curto. Uma década
perdida no período fértil, torna a classe infértil e incapaz de reproduzir as próprias
forças. Uma década sem renovação das forças é como viver do dinheiro posto a
juro, nada produz e muito se desvaloriza.
Acima
vimos que, o antagonismo entre as classes só virá no socialismo. Enquanto
vigorar o capitalismo o antagonismo continuará existindo. Se assim é, não há
outro caminho a não ser procurar descobrir quais são as contradições existentes
e como elas se movem nesse corpo da política. Por outro lado, as contradições, de
um período para outro, não são sempre idênticas. Há contradições principais que
se mantém, mas mudam na interioridade, porque as circunstâncias mudam e com
elas as forças também se colocam de outros modos.
Já
é tempo de ter aprendido que não há futuro sem autonomia. Os movimentos
organizados das classes exploradas podem atuar como se o Estado fosse, com sua
governabilidade capitalista, um aliado e defensor dos interesses dos
trabalhadores. Ele é como um animal feroz, quando saciado comporta-se como se
fosse inofensivo, mas, faminto come até os próprios filhos. Ignorando as
contradições, as forças políticas perdem totalmente as energias da ação, mas,
ignorar os antagonismo, as mesmas forças perdem a autonomia e o respeito.
A
luta de classes é o único antídoto ao antagonismo de classe. Sem luta tem-se a
conciliação, mas os ricos nunca virão para os lados dos pobres, no máximo eles
esperam um pouco para retornarem com as armas do aniquilamento. O conflito é a
força motriz da história, ignorar isso é sujeitar-se a entrar na grande
religião que é o capitalismo. Lembremos sempre da Comuna de Paris que há pouco
completou 152 anos, pelos trabalhadores terem governado 71 dias, o castigo foi o
massacre de 20 mil vidas revolucionárias.
Ademar
Bogo
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