Na atualidade há duas forças que concebem as em ideias em
circulação e procuram matar a força da dialética, como se a linearidade dos
processos se ancorasse na oposição dos “altos e baixos” e não nas contradições
e nos choques entre os contrários. A primeira posição antidialética, procura
apresentar a realidade com uma visão contrária à política e, investe grande
parte do tempo na doutrinação religiosa; nas ações sociais e nos movimentos
corporativos reivindicatórios. A segunda,
um pouco mais consciente das coisas, mas não menos colaborativa, é mais
pragmática e se atém ao fortalecimento e ao engrandecimento do referencial
favorável como: situação sobre oposição, formando maiorias representativas contra
as minorias importunantes. Investem na conciliação contra o conflito e na
cooptação para obterem vantagens na correlação de forças.
Aparentemente, para todos, o capitalismo passou apenas a
ter alguns desiquilíbrios gerados por causa dos setores mais afoitos
desrespeitarem as convenções. Por isso veem que as contradições não estariam nos
princípios perversos e destrutivos do capital. Para ambas as visões, bastaria
entrar em acordo e colocar certos freios para diminuir a velocidade das forças “ruins”,
enquanto as forças “boas” realizam os investimentos financeiros em favor do
progresso sem fim.
Pouco ou quase nada se estuda sobre o conteúdo das
contradições. A crítica à economia política feita no passado parece ter se
tornado inválida e, agora a única preocupação seria com o excesso de cuidados
com a inflação, cerceada com as altas taxas de juros. Se isso se resolvesse, os
custos dos empréstimos diminuiriam e o país se tornaria um único canteiro de
obras; estas gerariam empregos, o Estado recolheria mais impostos e tudo
fluiria na mais perfeita paz.
Karl Marx em 1847 ao escrever contra a “Metafísica da
economia política” de Proudhon, cujo texto todo passou a se chamar: “Miséria da
filosofia”, quis mostrar que as forças colocavam as ideias na frente da
realidade, como se a verdade estivesse na cabeça e não nas circunstâncias
históricas. Chamou atenção: “Dia após dia, torna-se assim mais claro que as
relações de produção nas quais a burguesia se move não têm um caráter uno,
simples, mas um caráter dúplice; que nas mesmas relações em que se produz a
riqueza, também se produz a miséria...”.[1] Isso não é apenas uma
contestação contra a ingenuidade de achar que o capital, por encontrar menor
resistência pela frente, facilitaria também os ganhos dos trabalhadores,
empregando todas forças e pagando a elas o salário mais digno possível, mas um
alerta para entendermos o real movimento do capital.
É a riqueza que engendra a miséria, portanto, o aumente de
ambas é uma interdependência real. O princípio é simples: se distribuírem não
poderão acumular. Nesse sentido, a política quando se descaracteriza como força
crítica, perde o seu caráter conflitivo e passa, sem deixar de ser política, a
confundir-se com assistencialismo, caridade e conciliação. O próprio Marx irá
concluir o seu texto dizendo que: “Não diga que o movimento social exclui o movimento
político. Não há, jamais, movimento político que não seja, ao mesmo tempo
social”.[2]
O esforço separatista que fazem as religiões e os
movimentos populares em considerarem-se “apolíticos”, respeita o princípio
condenatório de delegar aos representantes de todas as classes, o poder de
ignorá-los ou investigá-los com Comissões Parlamentares, quando julgam
conveniente utilizá-los de um ou outro modo no jogo político. Não importa se um
eleitor vota a favor de um, tendo em mente que é contra outro candidato, mas sim
que o mesmo pleito legitima todos os que irão assumir os mandatos como “representantes
do povo.”
É assombroso o rebaixamento do nível das ideias no meio
partidário e social que, por perderem a referência das contradições, atem-se
aos mesmos temas como se política seguisse o receituário das notícias pautadas
pela mídia. O resultado é o esvaimento das forças possuidoras de um passado de
lutas, que, respeitosamente, ao invés de expressarem palavras conflitivas,
antagônicas, acabam verbalizando a “política da natureza”, com expressões
agroecológicas, produtos orgânicos e recuperação das florestas. Enquanto isso,
a barbárie avança, carcomendo o resto de organização e mobilização social colocadas
na direção da luta de classes.
Um movimento social não precisa ser um partido, basta que
se assuma como organizador da “parte consciente” da sociedade e monte um
programa para enfrentar as contradições do capitalismo. Parece ter se tornado
mais cômodo, entregar as responsabilidades políticas para os profissionais da
democracia representativa e somar-se a eles oferecendo militantes e apoio para
compor o teatro da submissão ao estado de direito.
Se no passado os estudos voltaram-se para fazer a crítica
da economia política, do Estado e dos ordenamentos jurídicos e, portanto, essas
críticas estão feitas e continuam válidas, agora, é a hora de criticarmos os
comportamentos, o atrelamento aos partidos ordeiros, as linhas políticas produtivistas
e a volta ao naturalismo. Não será com galhos de árvores jogados no caminho,
que a frota dos capitalistas, cada vez mais modernizada deixará de avançar.
Ademar
Bogo