As circunstâncias históricas atuais nos convidam a pensar na possibilidade da normalidade da guerra. Desde a Segunda Guerra Mundial, os conflitos pela conquista de territórios, insatisfatoriamente distribuídos aos vencedores, aguçaram os instintos dos Estados Unidos da América que, sempre pretendeu ser a maior economia do mundo e também a maior potência militar.
Quando em 1991 a União Soviética se
desfez e a China já vinha abrindo a sua economia para o capital ocidental,
houve uma animadora euforia dos exploradores mundiais, por verem naquelas
reviravoltas provocadas pelo cansaço do progresso socialista, uma oportunidade
para hegemonizarem o controle da humanidade, a partir do monopólio da
tecnologia.
O domínio dos pontos essenciais, nos
quais se concentram as riquezas naturais estratégicas, foi o primeiro impulso e,
por isso, os capitalistas ideologizaram a globalização como se o mundo fosse um
único território governado por poucas cabeças. O mercado passou a ser o veículo
usurpador das soberanias nacionais transformando os Estados nacionais em meros servidores
obedientes daquilo que passou a se chamar “a nova ordem mundial”.
No entanto, com o elevado grau de
desenvolvimento tecnológico, o tempo para
qualquer realização foi acelerado e, a ordem capitalista teve um
envelhecimento precoce, tanto assim que, na atualidade, com o deslocamento do poder econômico e militar
para o continente asiático, o Ocidente, criador da globalização e formulador
dos fascínios neoliberais, não sabe o
que fazer com a nova formação da hegemonia política sino-russo. Já não é mais uma
suposição, mas uma realidade tocável que o desabamento dos pilares corroídos do
imperialismo está com os seus dias contados.
Para as pessoas mais conscientes,
estudiosas das crises do capitalismo, seguidoras das teses de Karl Marx e de
Friedrich Engels, as primeiras delas expressas no Manifesto Comunista de 1848, quando,
dando conta que, a burguesia nas tentativas de superar as crises obriga-se
destruir violentamente as forças produtivas e, por outro lado, precisa
conquistar novos mercados no mundo. Diga-se de passagem, essas duas alternativas
já foram gastas com a estratégia da globalização. Logo, está evidente que,
“Tudo isto só prepara crises de maiores proporções em extensão e em destruição,
diminuindo ainda mais as possibilidades de evitá-las” disseram os nossos
filósofos.
Para quem sempre se acostumou a
pensar que a História é um “progresso sem fim”, terá de admitir e se acostumar
em conviver com as guerras permanentes, isto porque, o futuro do progresso
econômico e a destruição do progresso do presente, tornaram-se sinônimos do mesmo
fracasso. Produzir para destruir, em busca de abrir espaço para produzir
novamente, tornou-se insustentável por dois motivos pelo menos: a exaustão das
reservas naturais e a geração cada vez mais de grandes contingentes de miseráveis
em todos os pontos do planeta. Se o primeiro motivo denuncia que o modelo econômico
está esgotado, o segundo aponta para a instabilidade política por todas as
partes do mundo.
O limite das matrizes produtivas do
progresso capitalista seja na produção extensiva de alimentos, seja no uso insustentável
da água e no apoio na química e no petróleo, bem como, a dependência da energia
suja e os elevados volumes de gases lançados na atmosfera, levam à asfixia antecipada
das próprias soluções apresentadas.
Diante do esgotamento das
alternativas, é evidente que as guerras surgirão como respiros momentâneos de
manutenção de uma ordem civilizatória gravemente avariada e despedaçando-se a
cada movimento feito. Por trás das guerras estão os interesses voltados para o
controle do poder mundial. Porém, ninguém consegue controlar o fogo alastrado
em uma habitação que guarda em suas repartições recipientes de produtos
inflamáveis. É certo que o velho império do Ocidente capitalista, cede lugar
para o novo império sino-russo, mas isso não indica dias melhores para os povos
do mundo. Se as reservas monetárias de cada país, ao invés do dólar desloca-se
para o ouro ou qualquer outra moeda, as economias continuarão controladas pelo
princípio da valorização do valor.
Evidentemente, o cansaço do progresso
capitalista instigador de guerras permanentes, abre possibilidades de
enfrentamentos e alternativas de superação. Para isso, depende da posição que as
forças anti-capitalista tomarem. Em primeiro lugar é fundamental mudar a visão
sobre a produção da riqueza e deslocá-la do tripé: mercadoria, dinheiro e
capital. Para isso é necessário pensar na produção sem exploração e isto se
consegue dando o primeiro passo: proibindo que a força de trabalho continue
sendo vendida como mercadoria.
Do ponto de vista revolucionário, a
transição da hegemonia do poder imperialista do Ocidente para a Ásia, equivale
ao desfecho, mesmo sem realização, da Terceira Guerra Mundial. É nesse breve
vácuo aberto pelo enfrentamento entre as grandes potências, que as zonas
supostamente inofensivas ou controladas devem elevar as suas pretensões.
A derrota do imperialismo norte-americano
representa uma enorme conquista para a humanidade, mas não a maior, esta ainda
deverá ser realizada, com o impedimento de que mais nenhum império se estruture,
e que, a autodeterminação dos povos seja de fato um princípio que foge ao
critério de ser ou não possuidor de riquezas naturais.
Olho vivo e ouvidos atentos para os
sinais enviados pelo movimento das contradições, faz bem a quem deseja
colocar-se como sujeito da História.
Ademar Bogo
Auto
do livro “Moral da História”
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