Enquanto as forças de esquerda ou de
posições políticas progressistas dividem-se mundo a fora, pondo-se a favor da
Rússia ou da Ucrânia, ficando, com isso, reféns das hipóteses políticas postas
pela grande imprensa, o povo ucraniano é quem paga com altos sacrifícios. Com
exceção dos países já marcados pela exclusão do consenso imperialista, que se
colocam em defesa dos direitos da Rússia, a maioria das opiniões, ou são
cuidadosas, medrosas e até controversas.
Situemos, antes de tudo, a Ucrânia e demos
a ela o direito de ser um país e um povo autodeterminado. Ninguém pode ser
contra essa posição. A soberania de um país é indiscutível. Dito isto, situemos
também a Ucrânia na geopolítica regional e veremos que ela, por consequências geográficas
e históricas, já pertenceu ao pacto de Varsóvia entre 1955-1991, quando saiu e
passou a ser denominada de “linha vermelha”, separando a Rússia dos países que,
gradativamente foram se associando à OTAN, ampliando o poder de influência do
imperialismo norte-americano no mundo. O desejo político dos governantes
ucranianos é também associarem-se a esse bloco, mas, com isso, levaria a ameaça
inimiga até as fronteiras da Rússia.
Se olharmos mais atentamente, sem
nenhuma paixão, a situação do povo ucraniano é, atualmente, no mundo, a mais
desfavorável possível. Por isso, sem comando, a solução dada a ele, é a fuga
para os países vizinhos. Se por um lado, o objetivo da retirada em massa da
população, serve para poupar a vida de civis, por outro lado, as forças de
direta ucranianas, interpretam que, o esvaziamento das cidades serve para
acelerar a ação militar russa e por isso dificultam a concretização dessa
tática.
A situação da Rússia também não é
confortável. Se o conflito se prolonga, aumenta o desgaste político a nível
mundial; isto porque, o consenso midiático é de não aliviar a ofensiva
difamatória e, mesmo no campo de batalha, é desgastante manter as forças em
combate, basicamente estacionadas, tendo o máximo de cuidado para não abater civis.
Mas, também não pode recuar. Se o fizer e a Ucrânia se aliar à OTAN, seria como
se o seu vizinho abrisse uma janela no muro de seu quintal e por ele vigiasse
todos os seus movimentos.
Há uma vontade histórica da Europa e
aliados, em destruir o potencial russo como fizeram com a União Soviética. No
entanto, por mais que façam, o núcleo duro resiste e ruma para afirmar,
juntamente com outros países da Ásia, o pólo oposto ao imperialismo dos Estados
Unidos.
De pronto, poderíamos ficar por aqui,
satisfeitos com as informações, mas não extrairíamos as lições do conflito e
nem tampouco apontaríamos para um desfecho favorável ao povo ucraniano e, para
encontrá-la precisamos colocar no tabuleiro os partidos comunistas da Ucrânia.
Eles foram criados a partir de 1993 e, como todos atuaram até 2014 na institucionalidade.
Em 2014 com a interferência imperialista,
o governo legitimamente eleito, tal qual ocorreu no Brasil, foi deposto e, em
2015, o Partido Comunista da Ucrânia , o Partido Comunista Renovado e, o
Partido Comunista dos Trabalhadores e Camponeses da Ucrânia, foram proibidos de
atuar, usar símbolos, manifestar opinião e participara da vida política do
país. A solução dos três partidos foi de apoiar as províncias separatistas de
Donetsk e Lugansk, o que lhes rendeu, devido a propaganda enganosa do governo,
ainda mais desgaste diante da população.
O enfraquecimento e “desaparecimento” dos
Partidos Comunistas é parte desta catástrofe que se abate sobre a Ucrânia. A
falta de uma força política e de lutas internas, deixa a situação ainda pior. O
povo por si mesmo não se sente capaz de enfrentar a situação e, por isso foge,
recolhe-se ou se coloca equivocadamente a favor do governo, o mesmo que faz a intervenção
russa prolongar-se. A posição mais acertada seria, a de tomar a frente do
processo e depor o governo fantoche dos Estados Unidos, restabelecer a verdadeira
democracia, os direitos à soberania e a autodeterminação do povo ucraniano. Em
parte é isso que pleiteia também a Rússia. A diferença é que ela o faz com
tanques e bombas, sem a participação popular. Sendo vitorioso, o governo russo
poderá, empossar um governo favorável às suas posições ou anexar o território
ucraniano, mantendo-o como uma província da Rússia.
Falta, portanto, revelar ao povo ucraniano
que, pela localização geopolítica do país, independentemente dos resultados
desse assombroso conflito, a linha vermelha continuará existindo e será
submissa à OTAN ou a Rússia. Aquele país está localizado na linha divisória dos
interesses das potências capitalistas.
Para o povo ucraniano o caminho mais
curto para estancar o sofrimento e a destruição, não é a fuga, mas as ruas.
Para isso as forças comunistas e de esquerda deveriam assumir o comando e
voltarem-se contra os inimigos internos que provocaram essa barbárie. Aplica-se
aqui quanto lá, o velho provérbio popular: “Só o povo salva o povo”. Talvez, se
as forças de esquerda, espalhadas pelo mundo, que se ocupam em condenar este ou
aquele lado, gastassem as energias para ajudar a superar a carência ofensiva do
povo ucraniano, estariam resgatando, de uma só vez, o princípio do
internacionalismo proletário e a dignidade revolucionária.
Ademar Bogo
Autor
do livro: Caminho do tempo
https://cousa.minestore.com.br/produtos/caminho-do-tempo
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