Quando nos debruçamos sobre a compreensão filosófica da
política, de imediato percebemos que cada época cria os seus próprios problemas
filosóficos e políticos. Por isso, se no tempo presente, filosoficamente
perguntamos “o que é o negacionismo?”; politicamente perguntamos, “como
enfrentá-lo e superá-lo”?
Restritamente, o negacionimo deve ser visto como uma
ideologia com implicações práticas destrutivas, de todos os alicerces e
conceituações teóricas. Tal ideologia penetra em todas áreas do conhecimento e
estruturações, mas, com maior vigor, na relativização da ciência, passando pela
economia, poder judiciário, educação religiosa, comunicação, preceitos morais, com
repercussão no poder político e esferas governamentais.
Negar não é um equívoco; faz parte do movimento dialético
no qual identificamos uma lei conhecida como “negação da negação”. No entanto,
devemos distinguir entre negação e negatividade. A dupla negação tem como
resultado, uma afirmação. Nesse sentido, a negação é vista como um movimento de
superação e não de eliminação da parte negada.
O filósofo Hegel (1770-1831) didaticamente explicitou o
que significa o movimento dialético, ao tomar como referência o surgimento e o
desaparecimento botão no desabrochar da flor, inicialmente “refutado”. No
entanto, a flor que faz surgir o fruto induz a imaginar um falso existir da
planta, quando na verdade ele é a representação de todo o processo e a promessa
de revelação da verdade da própria planta.
Por outro lado, a negatividade é o movimento das ideias
atuantes em um processo de descrença e , contra algo positivo, no intuito de
recusá-lo. Sendo assim, esse negacionismo é a aplicação concreta da verdade em busca
de afirmar os próprios interesses. Trata-se, portanto, de um processo diferente
daquele procedido pela negação, que evolui sustentado pela própria formação,
qualificando-se. A negatividade e o negacionismo, ao contrário, evoluem,
objetivamente, desqualificando o existente, fazendo com que a verdade e a
ciência convertam-se em uma rasa ideologia.
Quando voltamos
as atenções para a política vemos que o “negacionismo” e o “pacifismo” são duas
enfermidades de igual periculosidade para o processo civilizatório. O filósofo
italiano Antônio Gramsci (1891-1937), em seus “Cadernos do cárcere”, reporta-se
à hipótese ideológica do pacifismo, dizendo que “a revolução passiva” é vista
como intervenção legislativa e organização corporativa, ancoradas pela estrutura
econômica que, por sua vez, visa modificações no “plano de produção” com alguma
profundidade, mas sem ameaçar o controle do lucro.
De modo geral, o pacifismo, na medida em que não aprofunda
a intervenção sobre as estruturas de dominação, não se apresenta como uma
oposição contrária ao negacionismo, senão que, também se compromete a negar a ruptura
e, com isso mantém a mesma natureza do processo.
É evidente que, do ponto de vista situacional, o
negacionismo e o pacifismo mantém características diferenciadas, pois, enquanto
o primeiro visa anular, por meio do julgamento ideológico o mérito da ciência e
exclui da distribuição das “comendas” e premiações, por discordâncias e
caprichos, os cientistas merecedores de louvor, o segundo, por meio da
pacificação, busca conservar os pilares da civilização, como se todo o processo
de negação do botão tornado flor e esta configurada em fruto, parasse neste
estágio, impedido de seguir adiante por falta de decisão reprodutiva ou
concordância com a natureza da ordem.
Se o sinônimo oposto do negacionismo é a verdade, do
pacifismo é o radicalismo. Na medida em que negatividade é um mal para a
política, a passividade não representa um mal menor, isto porque, ao se
pretender efetivar mudanças por dentro da estrutura que, propositalmente produz
frutos “sem sementes”, as prováveis negações impulsionadoras de novas negações
convertem-se em negatividades e, neste caso, os perdedores continuarão perdendo
dentro da manutenção da mesma ordem garantidora da sociedade desigual.
É
evidente que a concepção da “transformação pacífica”, já se tornou também uma
ideologia, pois, pretende fazer acreditar que esta seja uma verdade absoluta,
quando as provas contrárias, cotidianamente e, corruptamente, são apresentadas
e oficializadas pelo poder Legislativo.
Na medida em que a ignorância ganha
espaço na política há duas maneiras de enfrentá-la: combatendo-a educadamente,
como quando um dos lados não quer o conflito e, insistentemente pede “calma”; a
outra é desestruturar a estrutura que dá sustentação e facilita a reprodução
das forças políticas negacionistas. Podemos até dizer que as duas formas de
combate são complementares, pois, ao construir uma, constrói-se também a outra;
mas então precisamos considerar que o pacifismo é apenas uma tática e não a
totalidade da estratégia.
Ademar
Bogo
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