O
filósofo inglês Francis Bacon(1561-1626), ao descrever os ídolos mostrou-os
como sendo produtos das ideias falsas, ilusórias e preconceituosas encarregados
de impedir que se chegue à verdadeira ciência. Isso tudo na atualidade, ajuda a
explicar o alto grau do negacionismo governamental brasileiro em pleno século
XXI.
A
malevolência do ídolo (eidolon) está na
capacidade de transformar os cidadãos comuns em “idólatras” convictos, capazes
de cultuarem certas figuras que propositalmente buscam a admiração e a
veneração social. Para Bacon os ídolos
se diferenciam pelas imagens que transportam e podem ser sintetizados em quatro
tipos: a)ídolo da caverna criado pelas ideias e imaginação do próprio
indivíduo; b) ídolo do fórum, surgido a partir das ideias que chegam até o
indivíduo convencendo-o de serem corretas; c) ídolo da tribo, estão inerentes
ao próprio grupo crente de ser superior aos demais; d) ídolo do teatro, formado
e exercido pelas autoridades que visam cativar os ouvintes como se a vida
social e política fosse um espetáculo.
Do
ponto de vista filosófico esses tipos de ídolos produzem a alienação separando
os indivíduos do verdadeiro sentido das coisas e da política, para viverem a
falsa realidade. Do ponto de vista popular podemos denominar o comportamento
idólatra como “treita”, representada pela “marca deixada por um homem ou
animal, por onde passa”. Por sua vez, a definição para o produtor de treitas,
no caso, o “treiteiro”, vemos no dicionário como: “treitento; velhaco; tratante;
patife; enganador; enrolador. “Um sujeito mau...”
Governar
com “treitas” nada mais é do que implementar marcas “treiteiras” e deixá-las como indicação para que os
governados as idolatrem e as sigam. Ocorre que as tais marcas deixadas pelo
“ídolo do teatro”, não são as melhores indicações a serem seguidas. Parte dos
que o seguem é porque estão tomados pela força dos demais tipos de ídolos reprodutores
das marcas deixadas pelo líder das idolatrias. A idolatria portanto, não se
sustenta apenas pela capacidade do ídolo mas, principalmente pela aceitação,
entrega, conivência e concordância dos idólatras.
Por
que surgem os ídolos? Em parte, porque realidade concreta tornou-se
insuportável e por outra, por necessidade, como já havia alertado Platão em sua
época: “Os homens gostam de recostar a cabeça no colo dos deuses”. O ilusório,
o fabulado e teatralizado faz bem às consciências em fuga ou submetidas ao peso
dos interesses egoístas.
Para
manter-se o “treiteiro” como ídolo do teatro, o personagem precisa encarnar o
mal e expressar-se com exibicionismos marcantes, como: desfilar de motocicleta
com seguidores aos domingos; provocar aglomerações quando elas estão proibidas;
entrar na justiça contra os governadores para impedir que eles garantam o
distanciamento físico da população; liberar o porte de armas; incentivar a
destruição das florestas; modificar as regras para aliviar as infrações no trânsito
etc., ou seja, tudo o que vai contra o bom senso, pois, do contrário seria tão
inexpressivo e jamais seria sequer lembrado.
Diante
de tais atitudes e medidas, a primeira vítima a cair é a consciência social e,
a segunda, o próprio dono da consciência admirador das indicações do ídolo que
o segue nas manifestações e na repetição das atitudes cotidianas, contraindo e
disseminando o coronavírus como se fosse um ato de heroísmo. Entrega a própria
vida para alcançar a meta da “contaminação de rebanho” e mostrar que a vacina
nunca faria falta e por isso não precisava adquiri-la.
Vem
à tona essa concepção do ídolo, idólatras e seguidores em relação à pandemia.
Seguindo os cálculos genocidas, considerando o tempo e o espaço nacional, pensaram,
para alcançar a “imunização de rebanho”, no Brasil o vírus deveria contaminar
150 mil pessoas por dia (a média atual está em 70 mil) num prazo de 120 dias. A
meta seria atingida com 180 milhões de pessoas contaminadas. É claro que isso
representaria perdas de vidas que, para os calculadores da morte seria natural
sepultar 12 mil pessoas por dia para no final ter-se perdido 1,4 milhões de vidas, mas ganho em
benefícios, de não entrar na recessão econômica, não gastar com ajuda
emergencial e nem investir em vacina. O máximo a ser feito, seria o
investimento em falsos imunizantes para assegurar o tratamento precoce.
Agora
entendemos a razão das bravatas e o descaso com os laboratórios que ofereciam
vacina, como também as mensagens enviadas aos idólatras, de que teríamos apenas
uma “gripezinha”, bem como a ameaça de colocar as forças armadas a serviço da
proliferação do vírus contra os governadores adotantes de “medidas totalitárias”,
impedindo o cidadão de ir e vir. Isso tudo atrapalhava o plano de matança em
massa premeditada.
A
situação, mesmo assim, tornou-se insustentável. Com o lema de “Brasil acima de
tudo e Deus acima de todos”, implantou-se um regime idólatra negacionista que,
para se manter precisa atacar a ciência e o comunismo, principais forças
capazes de destruir os ídolos e suas treitas.
Contra
o teatro dos ídolos devemos apresentar o “teatro do oprimido” criado e
desenvolvido por Augusto Boal, o qual faz os pobres e explorados assumirem o
papel de atores sociais e políticos como protagonistas da História. A morte do
vírus dar-se-á com a derrota dos ídolos e dos idólatras. Para isso é importante
investir na organização e formação da consciência social. Quanto maior a
consciência menor é a idolatria, no entanto, o inverso também e verdadeiro.