Há
quem faça política sem se preocupar com as contradições; supre essa deficiência
orientando-se pela oposição entre dois polos: positivo e negativo, direito e
esquerdo, situação e oposição etc. Satisfaz-se com o uso do método metafísico
que não deixa ver as reais contradições. Há, por outro lado, quem ainda se
preocupe em compreender as leis que formam os fenômenos; que estruturam a
economia e movimentam a dialética.
Ninguém explicou melhor a dialética
do que o filósofo Hegel (1770-1831). Se não aplicou socialmente a descoberta,
não vem ao caso, seus discípulos, Marx e Engels o fizeram. Hegel descobriu que
a dialética é o movimento das contradições que revela o “outro” existente
dentro do sujeito, fazendo surgir novas revelações. Daí dizer que gordo e magro
são dialéticos, é um equívoco, isto porque, são dois corpos, dois sujeitos
completos em si mesmos. Nesse sentido, somente se pode verificar o movimento
dialético tomando o gordo e o magro em separados e verificar o movimento interno do
aumento ou diminuição da gordura. Da mesma forma podemos verificar por outro
exemplo: se a água ferve a 100 graus centígrados, o movimento dialético está em
que ela parte da temperatura ambiente e vai ficando cada vez mais quente até o
máximo que, se deixarmos, ela se torna vapor.
Por outro lado, se a água aquece,
ela também pode desaquecer e o movimento dialético que revela o “outro” menos
aquecido, assume o predicado de menos quente até chegar à temperatura ambiente.
Daí, podemos considerar o frio como o outro sujeito, que começa com a temperatura
ambiente e vai descendo gradualmente até virar gelo. Um corpo
então, em si mesmo, constitui uma totalidade e é dentro dele que se movimentam
as contradições. Visto dessa maneira podemos tomar um partido, um Estado, uma sociedade
e verificarmos o movimento dialético que ocorre, revelando o “outro” que há na essência de
cada um.
Nesse sentido, ninguém tem dúvidas
que o PT deixou de ser a referência de partido organizador popular, formador
de militantes, autoridade na ética política e ampliador das políticas sociais.
Já não é mais aquela água fervendo. Não é porque, quando chegou ao ponto máximo, ao
invés de evaporar tornando-se o “outro” inovado, livrando-se da burguesia e do Estado, desaqueceu e, se tiver sorte,
figurará no cenário da temperatura ambiente como os demais partidos.
Por que se tiver sorte? Porque a
burguesia empurra a temperatura para baixo para que o PT esfrie e congele. Deveria
se dar conta que além de destruir a história, fomenta a antipolítica e esconde
que o Estado e a sociedade são
totalidades perigosas sem um partido coerente, ético e revolucionário. Logo, se para as forças mais à esquerda a desmoralização do PT
é ruim, para as forças mais à direita também não é bom e, para a sociedade despolitizada
e sem perspectivas, será muito pior, porque a política da direita é promotora da barbárie.
Isto não é novidade nenhuma. Todos nós
conhecemos a teoria do Estado de natureza, no qual, Thomas Hobbes disse que
“havia uma guerra de todos contra todos” que, para pôr fim, precisou se fazer um contrato. Mais recentemente, com o fim do bloco
socialista, tivemos o espectro das reações da “primavera árabe”; depois a
formação do “Estado Islâmico”; o surgimento dos grupos paramilitares na Líbia,
e, agora, a situação da Síria. Ou seja, se o PT na sua trajetória foi se
revelando cada vez menos esquerda e, a direita, interrompendo a governabilidade
do PT, pensa ser ainda mais direita, sem ter uma força organizada e politizada
que puxe o movimento dialético para o lado contrário, ninguém sabe o que pode ocorrer.
Rosa Luxemburgo previra: o socialismo ou a barbárie. Sem esquerda dá a barbárie.
Por amor à humanidade é urgente retomar a
organização política partidária unificada no mundo todo. Vale, mais do que nunca, o chamado de Marx e Engels: "Proletários de todo mundo, uni-vos!". As lutas espontâneas
não conseguirão fazer frente à barbárie capitalista. Chegou o tempo da esquerda enquanto
parte consciente da sociedade, ser mais esquerda, criando um partido único para um único fim e, evoluir para alcançar a transição socialista. Não há tempo para as divergências, o que há é um caminho a fazer.
Ademar
Bogo. Filósofo, escritor e agricultor. Autor do livro: Identidade e luta de
classes.
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