Estamos diante de uma ofensiva
criminosa, praticada pelo governo e pelo capital contra os direitos sociais, as
organizações de luta dos camponeses, indígenas, quilombolas, povos tradicionais
etc., facilitada pela correlação de forças, favorável ao agronegócio, que
transforma a agricultura num imenso território produtor de mercadorias. Por
isso, o fechamento das escolas é o ataque final na coluna vertebral da
resistência camponesa.
Vagueia paralelamente na ideologia da
classe dominante, para o meio urbano, a domesticação do ensino, através da
“Escola sem partido”. Para os camponeses, diante das várias dezenas de milhares
de escolas fechadas nos últimos 15 anos, essa ideologia nada mais é que a
continuação da política do “partido sem escola”, representado pela sigla do
agronegócio, o verdadeiro partido dirigente das mudanças assassinas no campo.
Marx, quando escreveu o livro, O capital, disse que, no capitalismo, “o
país mais desenvolvido não faz mais do que representar a imagem futura do menos
desenvolvido”. Essa indicação nos diz também que, pelas economias mais
avançadas, explica-se a situação das economias mais atrasadas e nos aponta o
caminho que elas deverão percorrer no futuro. Por outro lado, ainda nos revela
que, certas políticas implantadas nas regiões mais desenvolvidas de um país,
serão com o passar do tempo, gradativamente aplicadas em regiões mais
atrasadas, conforme se ampliam os interesses do capital. Tomemos como
comprovação, o dado do fechamento das escolas, que no ano de 2014, o número
chegou a 4.084. A leitura dos dados apresentados pelo Instituto de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP - o Nordeste, e mais propriamente
as regiões semi-áridas de alguns estados, lideram os fechamentos. Das 4.084
escolas fechadas em um ano, 872 estavam no Estado da Bahia, tendo o município
de Euclides da Cunha, com 56.289 mil habitantes, sendo que, 28.873 residem na
agricultura, foi contemplado com o fechamento de 29 escolas, ou seja, uma para
cada mil famílias. Depois vem o Maranhão, com 407 e o Estado do Piauí, com 377
escolas fechadas.
Poderíamos facilmente concluir que o
fechamento das escolas do campo, nessa região Nordeste do país, há anos em
funcionamento, se deve ao pouco desenvolvimento econômico e social que
inviabiliza a própria permanência dos pequenos camponeses na atividade
agrícola. Mas a curiosidade aguça a pesquisa e nos leva a procurar alguma
explicação do ponto de vista das sociedades “mais avançadas”, e nos deparamos
com o projeto MATOPIBA[1],
do governo federal, coordenado pelo Ministério da Agricultura e pela EMBRAPA,
que atingirá uma área de 73.173.485 milhões de hectares, abrangendo 337
municípios dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia; ou seja, regiões
dos três Estados onde foi fechada a maior parte das escolas do campo no ano de
2014. O que será feito nesses lugares de economia atrasada? O que já foi feito
em regiões de economia capitalista avançada.
Sobre essa situação podemos levantar
a hipótese de que, dentre todas as ofensivas, a do fechamento das escolas é a
forma de expulsão mais cruel encontrada. Sendo a escola um componente cultural
fundamental, a busca por ela é prioritária quando se trata de deslocamento,
seja para participar de uma ocupação de terra ou para migrar para outras
regiões em busca de trabalho. Colocada diante da estratégia do avanço do
capital, para não intervir com o método da “violenta” expulsão, começa-se por
fechar as escolas em massa, com o objetivo de desestabilizar as famílias
camponesas pela negação da educação. É claro que a retirada da escola, e não
importa a sua qualidade, é um ataque direto e mal intencionado do “partido sem
escola” contra a resistência dos sujeitos que habitam a terra cobiçada.
A ideologia da “Escola sem partido”
é o projeto ainda mais perverso que o “Partido sem escola” quer para o campo. Se na cidade "fecham a boca" dos professores, no campo fecham as escolas. É
preciso reagir, para que não nos tornem
verdadeiros analfabetos políticos. Sejamos sempre, sujeitos defensores da
“Escola com partido”, a escola da luta de classes.
[1] O projeto MATOPIBA criado pelo governo
Federal através decreto 8.447 de 6 de maio de 2015, é o resultado do estudo de
alguns anos e visa a implantação de programas que visem o desenvolvimento
econômico da região, naturalmente ligados ao agronegócio. O nome se deve à combinação das siglas dos
Estados envolvidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário